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Migração de voto útil e velocidade na comunicação: diretora de instituto explica diferença de pesquisa e resultado nas urnas

Da Redação - Érika Oliveira

O questionamento aos institutos de pesquisa não é uma novidade das eleições de 2022. "Jus esperneandi", classifica a pesquisadora Miriam Braga, da Vetor Pesquisas, ao comentar a tentativa de negação dos levantamentos por parte de candidatos e setores da mídia. Afinal, o eleitor pode confiar nas pesquisas divulgadas? A especialista garante que sim, mas alerta para a necessidade de compreensão acerca dos dados colhidos e da metodologia empregada para cada amostragem. Além disso, Braga chama atenção para quem se fia pelas pesquisas como oráculo.

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"As pessoas precisam entender que a pesquisa é um estudo estatistico, não é matemático. Então, é probabilístico. As pessoas cobram que se acerte como se fosse 2+2 e não é. A gente aponta uma tendência", diz a pesquisadora, sobre as distorções nas sondagens para presidente da República no 1º turno.

Os últimos levantamentos do Datafolha e do Ipec antes do pleito, divulgados no sábado (01), apontavam 14 pontos percentuais de diferença entre Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), enquanto a apuração dos votos registrou diferença de cinco pontos percentuais.

Miriam não considera, contudo, que os institutos tenham errado. "Não vimos distorções absurdas. Nenhuma pesquisa cravou o 1º turno, as pesquisas indicavam uma tendência real de termos dois turnos".

O que aconteceu então? Segundo Miriam, uma das possíveis explicaçãoes foi a migração do voto útil. "Lula começou a pregar o voto útil e o eleitor do Bolsonaro ficou desorientado e foi atrás do voto útil também. O que nós observamos é que houve uma pressão muito forte sobre o eleitor que tem menos posse para que pudessem votar no Bolsonaro e, no último momento, ele cresceu nessa categoria, porque foram estimulados".

Do ponto de vista estritamente técnico, Miriam explica que não tem como dizer que pesquisas pré-eleitorais erram ou acertam o resultado das eleições, porque elas são um retrato do momento e as inferências feitas com os dados se referem à população no momento em que os dados foram coletados. 

Pesquisas de véspera de eleição começam um ou dois dias antes da votação. Se houver mudanças de voto entre o momento em que as pesquisas foram finalizadas e a eleição - seja porque o eleitor decidiu o voto de última hora, seja porque parte deles consome pesquisas e com base nelas acabe mudando o voto -, as pesquisas não captam essas interferências.

"São muitos fatores, o compromisso do eleitor com o candidato é muito mais volátil atualmente. E o eleitor também não tem compromisso nenhum em mudar de ideia. A velocidade da comunicação é um fator muito importante. Eu já fiz estratégias de campanha que demoravam até três dias para chegar no eleitor, hoje elas chegam em menos de um dia. Tudo isso interfere na possibilidade de o voto mudar", destacou.

A especialista, que atua no mercado há mais de 30 anos, pontua que falta entendimento e esclarecimento sobre o assunto.

"Em primeiro lugar, as pesquisas que são divulgadas são na metodologia quantitativa, que é um recorte que utiliza estatística para explicar o momento dentro de uma abrangência geográfica. Quando as pesquisas são 'face to face', nós temos alguns parâmetros. A pesquisa por telefone não tem esse retorno. Atualmente se usa, até por uma questão de custo, a abordagem telefônica, e isso dá mais insegurança em relação ao perfil sociodemográfico do respondente. Por outro lado, a pesquisa por telefone consegue alcançar um público que dificilmente você conseguiria atingir. São tipos de abordagens distintas e que podem sim produzir resultados distintos".
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