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Jovem com paralisia cerebral entra na UFMT e luta para concluir o sonho de se formar

Da Redação - Mayara Campos

Rafael Douglas de Matos, 25 anos, nasceu com paralisia cerebral, alteração que causou tetraplegia espática. Por isso, não conseguiu desenvolver a fala. Mesmo sem conseguir se comunicar do jeito usual, ele aprendeu a usar os dedões dos pés para digitar no computador e celular. Além disso, desenvolveu memória fotográfica e aptidão para matemática.

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Quando criança, o sonho de Rafael era estudar. Ele via a irmã mais velha indo para a escola e queria o mesmo para si. Com o apoio de sua mãe, Carmem, que sempre o incentivou em todas as áreas da vida, e a ajuda da diretora da escola municipal, ele conseguiu entrar para a sala de aula aos sete anos.

Depois de anos de estudo na rede pública de ensino, o jovem conseguiu se formar no ensino médio e prestar a prova do Enem, em 2021. Ele fez a matrícula da prova e do Sisu sozinho, e com o apoio jurídico de um advogado, conseguiu se matricular no curso de Ciência da Computação na Universidade Federal de Mato Grosso.

Carmem, com a renda de diarista e o benefício social pela invalidez de Rafael, cria sozinha ele, outros cinco filhos e um sobrinho em uma humilde casa na zona rural do Distrito da Guia (a 30 km de Cuiabá).

Ao Olhar Direto, a mãe de Rafael e Mariana Costa Ribeiro, patroa de Carmem, contam um pouco sobre a trajetória do jovem e seu sonho de proporcionar uma vida melhor para sua família.

Mariana chama Rafael de “imparável”, pois mesmo diante de todas as dificuldades da vida, ele nunca desistiu ou parou no caminho de algo. Mesmo precisando fazer um trajeto de quase duas horas para ir e voltar da faculdade, todos os dias, o jovem está sempre com um sorriso no rosto e alegre por ter a vida que tem. Ele afirma inclusive que nunca trocaria a vida que tem por outra. E a mãe, Carmem, está do lado para tudo, sempre.

“Sabemos que Rafael é um vencedor e merece concluir sua formação com sucesso e, pra isso, pedimos a colaboração de todos pra ajudá-lo a instrumentalizar esse sonho. Nada parou o Rafael e nós podemos contribuir pra que ele vá ainda mais adiante na sua caminhada brilhante”, diz Mariana, ao criar uma vaquinha para angariar uma quantia de R$ 100 mil, que auxiliará o jovem.



A vaquinha tem os seguintes objetivos: a compra de computador melhor adaptado; reforma do quarto onde ele dorme e estuda, e se possível da casa da família, e a compra de um carro pra facilitar seu transporte pela mãe até a faculdade. 

“Os objetivos principais foram mais intuitivos, como a cadeira motorizada que já vai dar certo, a reforma do quarto dele, que deveria na casa inteira, para dar acessibilidade, um carro para Carmen, o objetivo máximo para facilitar esse acesso. E um computador melhor para ele. A cadeira motorizada eu acho que ele vai conseguir pelo Cridac, mas eu acho que qualquer coisa, dá para comprar com o dinheiro da vaquinha também.

A faculdade

Mesmo diante da luta diária para sobrevivência e as dificuldades que a família passa com o pouco dinheiro para subsistência de todos, Carmem e Rafael sempre foram unidos. Ela o acompanha em todos os trajetos, ajudando a carrega-lo, empurrar a cadeira de rodas, e todo o resto, pois o jovem não consegue ser independente.

“A gente passou por toda essa labuta, mas hoje é uma felicidade enorme ver ele estudando na faculdade e feliz. Está sendo maravilhoso, muito bom. Ele fez muito amizade, tanto aqui, nas estradas que vamos indo, nos ônibus, na faculdade. E todo mundo está lá apoiando-o e o ajudando. Os professores acharam um desafio, mas ficaram bobo de ver ele por não andar, não falar e ter a mente maravilhosa”, conta Carmem.



“É tanta matemática e cálculo no curso. Ele sempre foi muito bom na matéria. A matéria preferida dele. Sempre foi bom aluno, notas boas, fazia a sala de aula se inspirar nele. Por causa dele, os meninos sentiam e ficaram mais à vontade, todo mundo começou a estudar, passaram todos juntos, se formaram. Ele foi exemplo para os colegas, os diretores, os professores. E continua sendo, a felicidade maior do mundo é poder estar acompanhando ele em toda essa trajetória e a felicidade dele”, complementa.

A mãe reforça ainda que ele não quer desistir e ir até o final na faculdade. Se formar e enquanto ele estiver lutando, ela estará junto com ele.

A família e a casa

Rafael conta com o apoio dos irmãos também, que o auxiliam em casa ou quando a mãe não pode. O jovem fará aniversário no próximo domingo (02), e o maior presente é poder ver todos bem e conseguir estudar.

“Todo mundo estuda e lutando. Com fé em Deus, eu quero fazer a mesma coisa pelos outros, acompanhar na escola, na faculdade, estar lá sempre presente com eles. Fazendo a mesma coisa com o Rafael, com todos”, conta Carmem.

A casa onde a família mora foi uma doação de uma pessoa que frequentava a igreja católica que Carmem recebia ajuda. Após tanto trabalhar num bar durante os finais de semana, ela juntou um dinheiro para comprar o lote da residência e ganhou a construção.

“Morávamos de aluguel, era bem difícil, até pela quantidade de filhos. Quando eu recebi a notícia que ia ganhar a casa, quase cai de cima do prédio, fiquei muito emocionada, levei um susto”, conta a mãe.

Outro fato emocionante na vida de Carmem foi o apoio de Rafael para terminar a escola. “Ele me fez estudar na marra. Eu não queria mais, mas ele me obrigou a formar. Eu parei no 9º ano, tinha ele já, era pequeno, e desisti para cuidar dele e da minha outra filha. Eu parei no tempo porque pensava só neles, e depois fui tendo outros filhos”.

“Se eu fosse mente fraca, eu nem estaria hoje aqui ainda. Porque quando a gente tem mente fraca, cada tipo de critica é um motivo para você baixar a cabeça e pensar para trás e não para frente. Mas sempre que eu chegava em casa e olhava para ele para meus filhos, tudo feliz, eu chegava cansada, mas todo mundo me abraçava, beijava, dar uma força. Praticamente com todo o sofrimento, eu não senti que era um sofrimento, porque o amor leva ao extremo. A gente sempre vai além do limite com os amores que recebemos, principalmente no nosso ninho. Ai que eu peguei a força e agarrei, terminei o ensino médio”, conta, emocionada.



Vaquinha

A vaquinha criada para ajudar o Rafael foi uma iniciativa da patroa de Carmem, a Mariana, que sempre foi uma “madrinha maravilhosa” para a mulher. “Se não fosse eu trabalhando para ela, contando toda a minha história, todos os dias, ela me ouvindo, eu ouvindo ela, nós duas praticamente duas irmãs. Uma contando os problemas para a outra. E ela se pôs no meu lugar, entendeu a minha dificuldade e está me ajudando bastante, cuidando de mim e agora me ajudando a cuidar do Rafael”.

Mariana é quem corre atrás de todo o apoio que Rafael pode conseguir, principalmente para continuar os estudos. Para ela, o jovem sempre foi um exemplo para todos, principalmente por estar sempre alegre, diante das adversidades.

Para contribuir com a vaquinha e conhecer mais da história do jovem, acesse os perfis de Instagram: @marianadacostaribeiro e @rafael_douglas_10.

O link para contribuir com as doações pode ser conferido aqui. A meta de arrecadação é R$ 100 mil. Até o fechamento desta matéria, foram doados cerca de R$ 60 mil.

Veja os vídeos:
   

   


 
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