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Comerciantes do Shopping Orla no Porto reclamam do descaso com o local e de boxes fechados

Da Redação - Mayara Campos

O Centro Comercial Popular de Cuiabá, mais conhecido como Shopping da Orla, localizado ao lado do Mercado do Porto, vem sofrendo com o descaso da administração pública nos últimos anos. Inaugurado em 2012, o espaço conta com 250 boxes, no entanto, hoje cerca de 60 estão em funcionamento. O Olhar Direto ouviu alguns permissionários do local, que relataram a principal dificuldade: os boxes vizinhos fechados, que afastam os clientes.

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A presidente da Associação do Shopping Orla, Cida Aparecida Ribeiro de Oliveira, 59 anos, mais conhecida como Cida do Camelô, ajudou a fundar o espaço em 2012, durante a gestão do então prefeito Chico Galindo. No entanto, ela conta que o local foi feito de forma errada, e desde então, diversos problemas atrapalham o bom funcionamento do centro comercial.

“Na época da abertura, viemos para cá como permissionários, eram 250 comerciantes, lotando todos os boxes. No decorrer dos anos, entrou gente e saiu, sempre foi um fluxo. Hoje, são cerca de 60 boxes preenchidos. Acho que ele [Shopping Orla] começou com muita coisa errada. Não deu certo, assim, da forma como nós gostaríamos de estar hoje”, conta Cida.

“Aqui no começo foi muito bom, quando estava todo mundo, viemos para cá, mas aí aconteceram as obras da Copa e fizeram um buraco tão grande aqui na frente, e isso acabou com o shopping. Até hoje nós não conseguimos nos reestabelecer da forma que era para ser”, complementou.

Com experiência de mais de 30 anos como vendedora ambulante, a presidente explica que hoje a maioria dos boxes fechados no espaço estão assim devido à reforma que foi anunciado pelo prefeito Emanuel Pinheiro (MDB). Como deve acontecer em breve, não compensaria a entrada de novos permissionários neste ano, pois quem já está lá também precisará sair quando as obras avançarem.

“Nós que estamos aqui hoje iremos sair para as obras. Tudo aqui vai ser modificado, e vai vir uma praça de alimentação com mais cinco lanchonetes, uma oca com exposição da cultura indígena, então isso aqui vai ser transformado. Por conta disso, ninguém entrou mais durante esse ano. Realmente, os boxes fechados prejudicam a gente, só que sabemos que é para melhoria do shopping, que já está acontecendo. A obra ali no fundo já começou tem uns 60 dias, os permissionários que tinham boxes lá foram transferidos para o meio, e aquela parte está toda vaga, mas parece que já está perto de finalizar, com previsão para o dia 15 de setembro”, disse.



Segundo a presidente, um projeto deve ser apresentado pela Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Agricultura, Trabalho e Desenvolvimento Econômico (SMATDE), nos próximos dias, aos permissionários. A diretoria da associação já estaria conversando e estudando com a Pasta. Uma das demandas de Cida é que os comerciantes sejam transferidos para um local próximo, até a entrega do Shopping Orla pronto.

“Eu acredito que o shopping vai ficar um dos mais bonitos aqui na área da orla e estão planejando uma reestruturação de vários locais aqui, o mercado do porto, o aquário municipal. Eu vejo o Porto como o coração de Cuiabá e do Mato Grosso, porque aqui é a beira do rio. Com essa reforma dos espaços, todo turista, todo mundo que vem a Cuiabá vai passar por aqui e acho que vai ser o novo centro da cidade”, afirma Cida.

“O cuiabano encontra de tudo aqui no shopping, temos a floricultura com várias rosas do deserto e tipos de plantas, temos barbearia, salão de beleza, loja de eletrônicos, importados, pet shop, costureiras, relojoeiros, etc”, complementa.

Frequentemente o Shopping organiza, com ajuda da Prefeitura, algumas feiras que atraem o público, como por exemplo o Festival da Orquídea e o de carros antigos. “Vem muita gente, é sucesso total porque tem divulgação também”.

Por conta da falta de circulação de pessoas no local, os comerciantes dependem das redes sociais para fazer a divulgação dos produtos. “A maioria trabalha assim, cada um divulga e acaba trazendo uma pessoa que vê outras coisas também. E dá pra vender um pouco”. O Shopping da Orla funciona todos os dias, das 08h às 17h30.

Problemas do espaço

Segundo Cida e outros permissionários do Shopping Orla, a reforma do Mercado do Porto atrapalhou a movimentação do público na região, pois foi construído um paredão na lateral que interligava os locais.

“Eles fecharam a lateral aqui e ficou muito ruim para o povo que frequenta lá vir para cá. Antes era um entra e sai aqui, as pessoas circulavam entre os dois. Mas vão tirar esse paredão, porque é uma intenção do prefeito unificar os dois”, conta a comerciante.

Outra dificuldade é a falta de linhas do transporte coletivo, que tenham paradas próximas ao Shopping e Mercado do Porto. Conforme explica o comerciante de eletrônicos, Reinaldo de Paula Santos, os ônibus param no ponto na Praça do Porto, em frente à loja Flamboyant, no entanto, o local é frequentado por usuários de drogas e pessoas em situação de rua, afastando o público. Os comerciantes reivindicam o policiamento da região, para melhoria da questão.

“Quem desce lá com a sua família não vai passar para cá, porque tem uma Cracolândia aqui na esquina, você não vai pegar sua criança e atravessar aquilo, seu pai, um idoso, porque você atravessa ali e corre risco de ser roubado, de ser importunado. Ali na esquina é um verdadeiro prostíbulo e cerco de usuários de drogas, mas ninguém fala disso, ninguém faz nada para mudar. Isso dá uma desvalorização muito grande na Orla, que está defasada e traz também um caos para a gente, porque as pessoas não vêm na orla. É um ponto turístico que atrairia clientes para cá”, explica Reinaldo.

“As pessoas que usam o transporte coletivo sofrem muito com essas reformas, o ônibus não está parando aqui. Nós precisávamos de mais linhas vindo para cá e mais mídia também né. Assim que terminas essa reforma, divulgar bastante para atrair o público”, complementou Cida.

Para Reinaldo, o Shopping Orla não tem estrutura para atrair os clientes. Alguns dos exemplos citados pelo permissionário são: a falta de banheiros bons e um teto que proteja os boxes pois quando chove a água entra no local. Ele também reforça que os boxes fechados afastam o público.

“Os permissionários aqui são ótimos profissionais, pessoas do bem, que pagam seus impostos, porém está tendo um descaso total em termos de estrutura, e ao longo do tempo tudo aqui foi desvalorizando, por exemplo a obra da Copa que acabou com o comércio aqui”, disse o comerciante.

Uma das permissionárias que saiu no prejuízo com a reforma nos fundos do espaço comercial é Adaiane Batista, 43 anos, que está no local há dois anos com seu centro de estética animal.

“O meu box ele fica lá no fundo e com a reforma eu tive que vir para outro corredor, e com isso, tive que readaptar toda a minha loja, porque aqui mesmo não tem água, eu tive que puxar um encanamento para fazer a vazão de água da banheira, e fica essa mangueira no meio do corredor, que esteticamente não fica nada legal. A gente não vê a hora de poder voltar para nosso box, porque eu fico trabalhando de uma forma improvisada”, explica Adaiane, que trabalha com banho e tosa de animais.

“Os meus clientes são pessoas de fora, aqui mesmo não consigo muita coisa porque não tem fluxo de gente. E meus clientes sabem da forma como eu trabalho, e hoje, infelizmente, poucas pessoas sabem como é, que passam por aqui. Ter um pet é como ter um filho. E fica feio o modo como minha loja está sendo apresentada, parece algo muito improvisado e quando estava lá no fundo, tudo era organizado, eu tinha colocado blindex, eu gastei um dinheiro para deixar tudo certo. E agora saiu tudo do padrão. E também precisei investir aqui para fazer as adaptações. Eu tive que gastar com mão de obra né, tudo foi gasto”, complementa.

Mas a comerciante diz que sempre foi um sonho ter sua loja e isso está sendo realizado aos poucos, mas quando a reforma for finalizada e o Shopping Orla ganhar uma nova cara, as coisas serão melhores.



Boxes fechados

Para o proprietário da floricultura Mais Paisagismo, Sérgio Gomes de Freitas, 41 anos, a situação dos boxes fechados é muito complicada, pois além dos locais vagos, há pessoas que não abrem suas lojas ou não "levam a sério", abrindo e fechando em qualquer horário.

“Estou aqui há seis anos, porém de três anos para cá, os permissionários que estão aqui, poucos tem perfil de empreendedor, eles não abrem e fecham o comércio no local certo, tem dia que não vem trabalhar, tem feriado que emenda, e é isso que eu mais ouço de reclamação dos clientes que frequentam o shopping. Não é culpa da prefeitura, no meu ponto de vista, mas cabe à ela fiscalizar e colocar pessoas que trabalhem”, disse.

“Hoje, metade dos permissionários não honram seus compromissos com a taxa do condomínio, usado para a manutenção do local, como a segurança e limpeza, que ficam a desejar. E esse pessoal sempre inventa desculpas, falando que não pagam porque não tem venda, porque tal pessoa não paga”, complementa.

Em relação à reclamação de Sérgio, a presidente da associação, Cida do Camelô, disse que já está sendo feito um estudo para a retirada das pessoas que não estão pagando as taxas de manutenção.

Outro lado

A reportagem entrou em contato com a Secretaria Municipal de Agricultura, Trabalho e Desenvolvimento Econômico (SMATED), solicitando um posicionamento sobre o Shopping Orla. Foi enviada a seguinte nota:

A Secretaria Municipal de Agricultura, Trabalho e Desenvolvimento Econômico (SMATED) informa:

-A obra que está sendo realizada no Shopping Orla é o rebaixamento do telhado para garantir maior conforto aos permissionários em períodos chuvosos. De acordo com o secretário da pasta, a obra está dentro do cronograma e até o final do mês de setembro já estará finalizada;

-O Shopping Orla faz parte de um complexo que inclui o Mercado do Porto, a Orla do Porto e o Aquário Municipal. Já existe um projeto para uma grande reforma no local, que está previsto para este semestre;

-A Prefeitura, por meio da SMATED, tem mantido diálogo com os permissionários do local, que estão a par de todas as informações;

-A Prefeitura inclusive paga a conta de luz e de água do local, para reduzir os custos dos permissionários.
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