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Movimento contra graxaria em VG protesta na ALMT e deputados aprovam requerimento para esclarecimentos da Sema

Da Redação - Mayara Campos

O movimento “Diga Não à Graxaria na Alameda”, organizado por moradores de Várzea Grande que vivem nas imediações da graxaria da Marfrig Global Foods S.A., esteve presente na Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT), na última quarta-feira (30), para cobrar dos parlamentares uma atitude a respeito da instalação do setor na empresa, que tem causado mau cheiro e contaminação do ar.

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A graxaria é uma indústria de processamento de resíduos animais, ou seja, reciclagem de vísceras, sangue, ossos e outras partes de animais abatidos em frigoríficos, que são impróprios para o consumo humano.  

“Esse movimento nasceu no Alto da Bela Vista, na casa do Paulo Henrique, presidente lá do bairro porque a graxaria ficou inativa 10 anos e tem decreto que ela não poderia voltar, existia uma lei também que ela não poderia voltar. E nós como moradores lá, que passa muito tempo desse desastre, que é a graxaria, fede mesmo, ela incomoda, ficamos 10 anos sem ela lá e de repente, em maio deste ano voltou a funcionar”, declarou Cristina Souza, líder do movimento.

O mau cheiro é o problema mais fácil de identificar em uma graxaria, podendo atingir até 20 km, a depender da direção e velocidade do vento, porém, os problemas trazidos por esse tipo de atividade também incluem o prejuízo à qualidade de vida das pessoas, desvalorização de imóveis da região e a poluição do Rio Cuiabá, diante da captação de água e despejo de efluentes líquidos.

Os moradores já vinham protestando contra a graxaria desde o início das atividades. No último dia 4 de agosto, realizaram uma manifestação pelas ruas de Várzea Grande, para chamar atenção do Poder Público sobre os problemas desencadeados pela instalação do setor na Marfrig.

O movimento questiona a instalação da graxaria no meio da cidade, pois a Lei n° 4672/2020 impede que a empresa opere em área residencial, com a emissão de gases fétidos. A lei também estabelece que um empreendimento desta finalidade tem operação permitida exclusivamente em área industrial, conforme está previsto ainda na Lei de Uso e Ocupação de Solo de Várzea Grande. Já em caso de empresas já existentes, é necessária a adoção de medidas preventivas de emissão de odores e outros resíduos.

A Marfrig conseguiu instalar o setor no bairro Alameda após recorrer à Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema) e obteve o licenciamento pertinentes à atividade para iniciar a operação. Eles alegam que o sistema de tratamento implantado tem eficiência de remoção de emissões gasosas.

“São mais de 50 mil pessoas prejudicadas pelo mau cheiro, fora a contaminação do rio Cuiabá que é outro debate. Estamos aqui [na ALMT] para debater o problema que causa em nossas casas. As crianças não querem comer mais porque fede na hora do almoço, fede na hora de dormir. Pedimos voz pois aqui é uma Casa de Leis, do povo, então estamos colocando nossa voz. Lá em Várzea Grande, estão tentando nos calar, mas não vamos parar e cada dia mais, o movimento está crescendo”, declarou Cristina, em meio a cerca de 150 pessoas uniformizadas com o "Diga Não à Graxaria na Alameda".

“Ela vai ser fechada, porque a voz do povo é maior do que a voz de uma graxaria só. Mais de 50 mil pessoas falando a mesma problemática, eu acho que é muito difícil ela ficar aberta. Mas ela está funcionando sim. Já tem uma ação pública civil impetrada, que está girando, ela está correndo, só que a gente precisa do apoio dos homens da Lei, para nos apoiar nessa causa e abrir uma audiência pública”, complementou.

Requerimento

Atendendo o movimento, o deputado estadual Fábio José Tardin, o Fabinho (PSB), apresentou um requerimento na sessão ordinária, que foi aprovado, solicitando que a Sema preste informações sobre as licenças concedidas à graxaria da Marfrig.

“Não vamos tirar mérito nenhum da empresa que lá traz recursos e empregos, mas lutamos muito para arrancar uma graxaria que tinha no bairro Água Vermelha, e aí nós descobrimos que a Justiça liberou voltar essa empresa, uma graxaria, que libera um fedor terrível. As pessoas que estão ali em suas residências não conseguem fazer uma refeição. E não é mais só a cidade de Várzea Grande, até porque ontem à noite estive próximo ali à Unic beira rio, e era uma fedentina geral. Vamos de uma vez por todas, dar um basta, a empresa não pode continuar com a graxaria”, declarou Fabinho no plenário.

No requerimento, o parlamentar também solicita um relatório técnico das três visitas realizadas pela Sema, antes da concessão das licenças ambientais.

“No início de 2022 a mídia passou a divulgar dezenas de matérias sobre a instalação de graxaria na Marfrig, localizada no bairro Alameda, em Várzea Grande. Preocupados com a situação, os moradores que residem no local há mais de 30 anos e já sofreram anteriormente com o mesmo fato, buscaram auxilio deste parlamentar para combater a instalação da nova atividade”, justifica o requerimento.

Outro lado

A Marfrig emitiu uma nota sobre a operação da graxaria, explicando sobre a licença concedida pela Sema depois de uma autorização judicial. Segundo a empresa, foram apresentadas evidências técnicas e ambientais adequadas, além da realização de testes nos equipamentos da instalação da graxaria, com a presença de técnicos da SEMA, do Ministério Público e de assistente técnico da parte autora da ação judicial.

Os resultados dos testes indicaram que o sistema de exaustão de gases da graxaria tem capacidade e eficácia para eliminar até 100% da presença de gases odoríferos resultantes do processo produtivo. Desta forma, o empreendimento não gera mau cheiro ou outro tipo de incômodo para a população.  
 
A Marfrig investiu cerca de 50 milhões de reais na modernização da unidade, que foi totalmente remodelada em linha com as políticas e diretrizes de sustentabilidade da empresa. Com essa estrutura, mais de 1.200 viagens de caminhões deixarão de ser feitas, o que reduz as emissões de CO2, o tráfego viário na região, o risco de acidentes e a deterioração das vias públicas.
 
Além disso, a graxaria irá gerar aproximadamente 60 empregos diretos e 180 indiretos, bem como aumentar a arrecadação de impostos para o município. Hoje, a Marfrig é a maior empresa empregadora privada da região, com cerca de 3.300 colaboradores. Desde 2019, a companhia já investiu cerca de R$ 300 milhões de reais na unidade de Várzea Grande.
 
“Com a obtenção da licença e o início da operação da graxaria em Várzea Grande, a Marfrig reafirma seu compromisso com a sustentabilidade e com a geração de emprego e renda para a comunidade local”, disse Renato Lopes, diretor jurídico da companhia. 
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