Investigações da Polícia Civil apontam que o advogado Hugo Castilho solicitou a primeira parcela de propina, superior a R$ 270 mil, no mês de novembro de 2022, quando foram, segundo investigação, iniciados os desvios de verbas públicas da saúde de Sinop (478 km de Cuiabá). Hugo e o ex-secretário de Saúde de Cuiabá, Célio Rodrigues, foram presos na manhã desta quinta-feira (19), no âmbito da operação Cartão-Postal.

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De acordo com o médico Luiz Vagner Silveira Golembiouski, que foi delator da investigação, ele passou a ter contato direto com o advogado no mês de novembro de 2022.

Na época, a empresa MedClin recebeu do Instituto de Gestão de Políticas Públicas (IGPP) o primeiro pagamento correspondente ao serviço prestado na cidade de Sinop com a gestão dos plantões médicos. O valor repassado foi de R$ 1,311 milhão.

Deste total, aproximadamente R$ 850 mil eram destinados ao pagamento salarial dos médicos. Cumpridas as despesas do mês, restou a quantia aproximada de R$ 340 mil que seria repassado para a MedClin.

Luiz Vagner afirmou que foi abordado por Hugo, que solicitou o pagamento de R$ 200 mil a título de "retorno". Segundo o delator, o advogado deu a entender que "caso não houvesse o pagamento, a MedClin perderia o contrato com o IGPP em Sinop".

Um dia após a cobrança, o advogado entrou em contato novamente com Luiz e aumentou o valor para R$ 277 mil. Com receio de perder o contrato recém-firmado,  o médico aceitou a condição estabelecida por Hugo.

"A afirmação do Colaborador fora confirmada por meio de capturas de telas de conversa mantida entre Luiz Vagner e Hugo, via aplicativo WhatsApp, as quais foram fornecidas pelo colaborador. Nota-se que, foi a partir desse momento, ainda que inicialmente não tivesse a intenção de participar do esquema criminoso, que Luiz Vagner tomou conhecimento e se inseriu na estratégia utilizada pela Organização Criminosa (a qual, aparentemente, já estava instalada previamente no Município de Sinop-MT)", diz trecho do documento.

A operação

A operação visa desarticular uma organização criminosa envolvida em um esquema que desviou recursos da Secretaria de Saúde de Sinop, com prejuízo estimado na casa dos R$ 87 milhões.

As ordens judiciais foram expedidas pelo Núcleo de Inquéritos Policiais (Nipo) de Cuiabá contra 34 investigados, entre pessoas físicas e jurídicas.

De acordo com a decisão que o Olhar Direto teve acesso, quatro alvos estão foragidos. São eles: Jefferson Geraldo Teixeira, Roberta Arend Rodrigues Lopes, Elisangela Bruna da Silva e João Bosco da Silva.

Também foram alvos o procurador-geral de Sinop Ivan Schneider, Fabiula Martins Lourenço, Ângela Maria Pitondo de Oliveira, Deisi Juliani, Helena Maria dos Santos Barbosa, Bruno Borges, Adriana Teixeira Martins, Euller Gustavo Pompeu de Barros Gonçalves Preza, Guilherme Soares Meira, Jean Carlos Soares da Silva, Dayann Silva do Nascimento e João Bosco da Silva.

Foi verificado que a organização social, que hoje gerencia a pasta da Saúde de Sinop, teria sido especialmente ajustada para assumir a prestação do serviço de forma precária, tendo em vista diversas alterações formais que aconteceram em sua composição no mesmo período em que disputava a dispensa de licitação para assumir tais atividades, entre maio de junho de 2022.

Essa organização social voltou a vencer dispensas de licitação ocorridas entre outubro e novembro de 2022 e entre abril e maio de 2023, de modo que continua a atuar na cidade até hoje.

Com base nas investigações, foi determinado o bloqueio de valores das contas bancárias de 34 pessoas físicas e jurídicas, o sequestro de bens móveis de 21 alvos e o sequestro de bens imóveis de outros oito alvos, a fim de recompor os cofres públicos no montante de R$ 87.419.285,01, que é o valor global de três contratos celebrados entre Sinop e a organização social que gerencia a Saúde da cidade.