Imprimir

Notícias / Política MT

Teti afirma que vencedoras do leilão do arroz atuaram como 'laranjas' de empresas com capacidade de realizar operações

Da Redação - Airton Marques

Assessor especial do Ministério da Agricultura, Carlos Ernesto Augustin, conhecido como Teti, apontou que as empresas que venceram o leilão do arroz importado – anulado após suspeitas de irregularidades – podem ter concorrido o certame representando outras empresas, com capacidade de cumprir as operações de aquisição do alimento. Em entrevista, tratou tais concorrentes como “laranjas”, o que, segundo ele, não seria ilegal.

Leia também
Empresário Domingos Keneddy é confirmado como pré-candidato a prefeito de Cuiabá pelo MDB


O leilão de importação de 263 mil toneladas de arroz foi anulado no mês passado após indícios de incapacidade técnica e financeira de algumas empresas vencedoras. Três das quatro empresas que venceram o certame não são do ramo de arroz e de importação de grãos. Essas são a Icefruit, uma fábrica de polpas de frutas de SP; a Wisley A de Souza Ltda, uma loja de queijos de Macapá (AP); e a ASR Locação de Veículos e Máquinas, de Brasília.

“Não houve nada, até porque o leilão não aconteceu. O edital dizia que aquele que quisesse participar, teria que antecipar 5% do valor. Nós estamos falando de algo em torno de R$ 350 milhões. Ninguém vai pagar 5% se não tiver condições, se não pagasse, teria que pagar uma multa. Então, as pessoas que entraram no leilão eram ‘laranjas’, digamos assim, de alguém que tinha capacidade, o que não é proibido também. O que interessa para o governo é que o leilão ocorra”, afirmou, em entrevista à imprensa no sábado (29).

“Aquela empresa de aluguel de veículos do milho, cumpriu os requisitos do leilão, não teve nada irregular. E talvez essas empresas cumpririam também, tendo por trás delas um importador. Acho que é isso que aconteceu”, disse, citando o caso da ASR Locação de Veículos e Máquinas, que foi contratada por R$ 19,8 milhões para vender 212 mil sacas de milho ao governo da Bahia, do PT, seis meses antes.

A ASR foi representada pela Bolsa de Mercadoria de Mato Grosso e pela Foco Corretora de Grãos. As duas firmas pertencem a Robson Luiz Almeida de França, ex-assessor do ex-deputado Neri Geller (PP-MT), que após o ocorrido foi demitido da Secretaria de Política Agrícola do MAPA.

Além disso, Robson é sócio do filho de Neri em outra empresa que, segundo o ex-secretário, está inativa.
De acordo com reportagem do UOL, A ASR Locação de Veículos é o tipo de empresa classificada por investigadores como "empresa de prateleira". Documentos da Junta Comercial levantados pela coluna explicam o porquê. Desde que foi criada em 2019, a empresa vem aumentando seu escopo de atuação. Hoje, está habilitada para exercer 22 atividades econômicas totalmente diversas, como serviço de buffet e recepção em repartição pública e eventos, instalação e manutenção de ar-condicionado, obras de engenharia e terraplanagem, entre outros. Ela informa à Receita que sua atividade principal é a locação de veículos e máquinas pesadas.

Somente em 16 de maio, 22 dias antes do leilão de arroz importado, a empresa incluiu entre suas atividades a importação e exportação de cereais e leguminosas. Com isso, arrematou o terceiro maior lote, no valor de R$ 112 milhões.

Na avaliação de Teti, o leilão só foi anulado, por conta da ligação de Neri com Robson. Garantiu que nenhuma irregularidade foi cometida pelo governo federal.

“A verdade é que o filho do Neri era sócio do corretor. Não acredito que ele tenha envolvimento, mas isso pesou. Como a população vai enxergar? Ele é ordenador do leilão e o corretor é sócio do filho dele? É legal? Pode ser até legal, mas é imoral. Mesmo não estando em atividade, é uma coisa que ficou ‘torta’ e, por isso, houve a exoneração”, declarou.

“Como podemos aceitar quer o ordenador do leilão tenha o filho como sócio do corretor? Em razão, ficou ruim para o governo, pois a ‘lupa’ ficou na questão do Rio Grande do Sul, toda aquela pressão... era uma precaução sobre uma elevação do preço do arroz, o que de fato houve. Com a expectativa do leilão, baixou o preço”, completou.

Por fim, Teti afirmou que o processo de um novo leilão está parado e que o certame pode até não ocorrer.
“Quem faz o leilão são as bolsas, não o governo e todo mundo pode participar. O que aconteceu foi que empresas que aparentemente não tinha capacidade ganharam, mas já havia ocorrido anteriormente, quando uma locadora cumpriu o edital do leilão. Único problema foi que o filho do Neri era sócio do corretor e isso complicou. A ideia do leilão era para baixar o preço e o preço já baixou, talvez não seja mais necessário”, explicou.

“A ideia do leilão era, diante da calamidade, ter estoque para ter capacidade de oferecer à população. Os preços já baixaram, talvez não seja mais necessário fazer o leilão. Temos falado com o setor arrozeiro do Rio Grande do Sul, para vermos quais as alternativas possíveis para garantir que o preço não venha a explodir. Por enquanto, está parado. Estamos aguardando mais sugestões do setor no RS”, pontuou.
Imprimir