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Mulheres assinam carta contra delegados que investigaram denúncia de estupro na Praça Rachid Jaudy: “indignação”

Da Redação - Fabiana Mendes

Grupo de mulheres publicou uma carta para manifestar indignação a respeito da investigação dos delegados Fabrício Pagan e Clayton Queiroz Moura, ambos da Delegacia Especializada de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (Deddica), que apurou uma denúncia de estupro contra uma adolescente de 14 anos, na Praça Rachid Jaudy, em Cuiabá. O inquérito concluiu que os abusos não aconteceram no local descrito pela vítima.

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“Em primeiro lugar questionamos a exposição, sem nenhum cuidado, de uma menor de idade, uma menina adolescente de 14 anos, realizada pelo próprio delegado que ocupa um equipamento público que se diz ser “especializado na defesa dos direitos da criança e do adolescente””, diz trecho da carta.

As mulheres afirmam que em entrevistas concedidas pelo delegado Clayton Queiroz Moura, ele expõe a adolescente a julgamento público sobre sua índole. “Mesmo não revelando o nome da adolescente, o modo como o delegado expôs o caso à sociedade, este não considerou o sofrimento enorme que essa adolescente certamente está passando. As falas repercutidas na imprensa e nas redes a partir da entrevista do delegado Clayton Queiroz Moura são desrespeitosas, impregnadas de machismo e ferem a dignidade da adolescente e certamente estão causando a ela maior sofrimento ainda”, acrescenta.

Se comprovado que a garota mentiu, ela pode sofrer infrações ou receber uma advertência. “Ou seja, a narrativa do senhor delegado induz a opinião pública a julgar a menina adolescente que passa de vítima a criminosa, sem ao menos ter conhecimento do que, realmente, aconteceu. Que pressa é essa em dizer que não houve estupro na praça Rachid Jaudy? Uma movimentação, que no mínimo, nos causa estranheza”, salienta.

A carta ainda pontua que “Tudo o que está acontecendo somente reforça em nós a importância de continuarmos nossas ações de luta nesse estado e nesta capital, porque se continuar assim, Cuiabá não será conhecida apenas como a capital do agronegócio, mas também como a capital do machismo”.

Assinam a carta os seguintes movimentos: Coletivo de Mulheres Camponesas e Urbanas de Mato Grosso; Associação d@s Amig@s do Centro de Formação e Pesquisa Olga Benário Prestes – AAMOBEP; Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares – MT; Mulheres Resistem MT; Coletivo de Mulheres do SINTEP/MT; Fórum Estadual de Direitos Humanos e da Terra – FDHT/MT; Articulação do Grito dos Excluídos e das Excluídas de MT; Levante Popular da Juventude de MT; Coletivo Negro Universitário UFMT/Campus Cuiabá; COMUNI - Grupo de Estudos e Pesquisas em Psicologia Social Comunitária; Movimento Sem Terra – MST/MT; Grupo de Pesquisa Enfermagem, Saúde e Cidadania - FAEN/ UFMT; Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica Profissional e Tecnológica Seção Mato Grosso – SINASEFE; Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições do Ensino Superior – ANDES-SN; Setorial Mulheres do PSOL/MT; Movimento de Mulheres Araguaia Xingu; Associação dos Docentes da Universidade Federal de Mato Grosso – ADUFMAT; Grupo Pesquisador em Educação Ambiental, Comunicação e Arte, GPEA-UFMT; Grupo de Estudos em Educação Ambiental e Educação Campesina - GEAC/IFMT; Associação dos Docentes da UNEMAT – ADUNEMAT; Associação de Mulheres em Busca de Cidadania – AMEC; Academia de Artes, Ciências e Letras do Brasil - MT - ACILBRAS – MT; Centro de Direitos Humanos Dom Máximo Biennès – CDHDMB; III Encontro Mulheres Pela Vida 2022 e Comunidades Eclesiais de Base (CEBs).
 
Confira a íntegra da carta AQUI.

Contradições

“Chegou ao conhecimento da polícia sobre o estupro da adolescente de 14 anos na Praça Rachid Jaudy, por volta das 15h30 daquele dia. Após diligências, chegou-se à conclusão de que neste horário, não houve abuso na praça e da forma com que ela narrou. Colhemos elementos que, inclusive, apontaram a presença de uma viatura da PM no local durante todo o tempo”, explicou o delegado Fabrício Pagan.

Ainda conforme o delegado, não houve testemunhas e a adolescente não sabe dizer quem seria a pessoa que teria cometido o suposto estupro.

Através de imagens, a Deddica descobriu que a menina saiu do local às 15h30, usando transporte público e chegou na região do Coxipó por volta das 19h. “Ela ficou todo este período fora e só depois é que ligou para a mãe, relatando o suposto estupro”, pontua o delegado.
 
“Pode ter sido vítima de um abuso no final do local, não sabemos ainda. O que apuramos e comprovamos é que não houve estupro na praça. Isso não ocorreu. Concluímos neste sentido e mandamos para a Delegacia Especializada do Adolescente (DEA), que poderá imputar um ato análogo a denunciação caluniosa ou falsa comunicação de crime”, argumenta o delegado.
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