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"Defende bandidos" e "desequilibrado": Wilson e Elizeu discutem sobre operação e uso de câmera em fardas policiais

Da Redação - Airton Marques

Diante da repercusão da Operação Simulacrum, que tem alvo 64 policiais militares, o deputado Wilson Santos (PSD) voltou a defender projeto (619/2021), que obriga a instalação de câmeras de vigilância em veículos, aeronaves, uniformes e capacetes dos integrantes dos órgãos de Segurança Pública. A fala de Wilson causou ira o colega Elizeu Nascimento (PL), que aos berros disse que o defensor do uso do equipamento está defendendo bandido.

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Na avaliação de Wilson, as acusações que motivaram a operação são graves, mas o uso do equipamento serviria até mesmo para comprovar a inocência dos militares investigados e presos nesta quinta-feira (31). "Sugiro que é o uso das câmeras no fardamento, no capacete, nas viaturas, aeronaves e embarcações. Pois, se tiver câmera, esse policial que recebe a ordem de prisão, vai ter a imagem e o áudio para mostrar que agiu corretamente. Agora não tem absolutamente nada para se defender, além de palavras. O MPE não fez esse pedido sem documentação", disse, durante a sessão desta sexta-feira (1º).

O posicionamento, no entanto, gerou revolta de Elizeu. Contrário ao projeto de instalação das câmeras, distorceu a fala de Wilson e disse que há uma inversão dos valores. "Ouvi atentamente a fala de Wilson defendendo marginais e criminosos. Veio dizer que quem foi morto é tudo santinho e que a polícia foi truculenta, cometeu irregularidades nas suas ações. O senhor tem que lavar a boca para falar do serviço da polícia".

Na réplica, Wilson afirmou que Elizeu, que é  sargento militar, está descontrolado e brincou, dizendo que o colega tem obrigação de bater continência a ele, por ser 3º sargento do Exército. 

"Elizeu está completamente fora do eixo, isso já há uns dias. Algo tem o deixado desequilibrado. O conheço desde quando ele tinha 14 anos, quando realizávamos obras lá no Planalto. O que disse aqui é que tenho um projeto que pode contribuir, colocar um ponto final nesse tipo de inbróglio. Quem disse que eles devem ser presos não é o deputado Wilson, mas a juíza da 12ª Vara Criminal, Mônica Perri", declarou.

Wilson também declarou que o seu projeto não é "blá-blá-blá", nem discurso para gravar e colocar nas redes sociais. "O senhor não vai conseguir parar a roda da história, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) já determinou, que ao menos em dois tipos de procedimento seja utilizada a câmera de vídeo.  Passei pelo Exército e assim como o senhor está na reserva eu também estou. O senhor foi promovido a 3º sargent; eu sou 2º tenente. Inclusive, quando o senhor passar por mim, bata continência para mim, o senhor é meu subordinado, vou passar a exigir. Se não bater, vou cobrar fazer pelo menos dez apoios", disse, arrancando risos dos parlamentares.

João Batista, que preside a Comissão de Segurança Pública, também usou a tribuna para rebater Wilson e defendeu os militares acusados de forjarem confrontos para executar suspeitos de envolvimento com o crime organizado.

"As acusações feitas a esses policiais podem ser desmentidas. Não é de hoje que a gente vê operações em que pessoas são levadas pro Carumbé e CCC e daqui seis meses um ano, elas vem a publico pedir justiça, o que acaba não acontecendo. A quem interessa o cabresto na polícia? Aos criminosos", afirmou.

O deputado ainda disse ser pai de um policial militar e que o uso do equipamento coloca os agentes de segurança em maior risco. João Batista defende que a medida deve ser regulamentada pela Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp).

"Sou pai de um militar e não dei meu filho para defender a sociedade pra amanhã ele ter que exitar na hora de defender o amigo que está do lado dele ou a sociedade. Não fiz concurso para policial penal pra dar moleza a vagabundo, a bandido que quer assustar o cidadão. Vamos travar esse debate, pois sou contra essas câmeras. Secretaria de Segurança Pública já está regulamentando, vamos deixar que ela faça de forma responsável, orientada pelos especialistas", pontuou.

Em tréplica, Wilson ironizou João Batista, citando que o colega se filiou ao Progressistas. Segundo ele, o projeto representa o progresso. "Não cabe a mim acusar ninguém, quero apontar o dedo para a solução do problema. Se não utilizarem as câmeras, os militares que agem corretamente, que utilizam os procedimentos da Polícia Militar, não terão como fazer sua defesa".

"O policial pode e deve agir em legítima defesa, como qualquer cidadão. A Lei garante esses procedimentos, o que a juíza determina a prisão é por não agirem corretamente", completou

Operação

Sessenta e três policiais militares são alvos da operação deflagrada pela Polícia Civil e Ministério Público Estadual (MPE) suspeitos de matar 24 pessoas e simularem confronto, na região metropolitana de Cuiabá. Ao todo, são 64 alvos, mas a identidade de um deles ainda não foi confirmada. Todos os mandados foram cumpridos.

De acordo com as investigações, os militares envolvidos contavam com a atuação de um colaborador que atraía interessados na prática de furtos e roubos, para o grupo ter um pretexto para matá-los.

Debate

Ao apresentar o projeto, Wilson justifica que o equipamento ajuda a 'resguardar o policial e comprovar a correta abordagem, preservando a ação e as provas nelas colhidas', prática que já é realidade nos estados de São Paulo, Santa Catarina e Rio de Janeiro e tem se mostrado eficaz na redução dos níveis de violência.

Em São Paulo, por exemplo, o uso de câmeras acopladas aos uniformes de policiais militares reduziu em 85% o número de mortes em confrontos nos últimos sete meses do ano passado, comparados ao mesmo período de 2020.

Dados divulgados pelo jornal Folha de São Paulo mostram que de 1º de junho a 31 de dezembro de 2021, houve 17 mortes decorrentes de intervenção policial. Já em 2020, em igual período, foram 110. Um ano antes, no mesmo intervalo de tempo, a Corregedoria da Polícia Militar registrou 165 mortes, queda de 90%.

Ao lado de Elizeu Nascimento (PL), João Batista apresentou substitutivo ao projeto que já havia sido aprovado pela Comissão de Segurança da Casa de Leis.
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