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Jovem morto com seis tiros por PMs durante surto psicótico era jogador de vôlei: "o sonho dele, jogava muito bem"

Da Redação - Bruna Barbosa

Morto com seis tiros durante episódio de surto psicótico na madrugada deste domingo (12), no bairro Jardim Florianópolis, em Cuiabá, Pablo Ferreira de Carvalho da Silva, de 25 anos, era jogador de vôlei desde criança, quando começou a praticar o esporte. Ele chegou a fazer parte da seleção sub 17 em Portugal, além de disputar campeonatos mato-grossenses e brasileiros. 

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Pablo estava em casa quando teve um surto psicótico e começou a agredir a mãe, de acordo com a Polícia Militar, que foi acionada pela mãe da atleta. Ela contou aos policiais militares que o jovem era dependente químico e que estava "cansada das agressões". 

Em determinado momento, Pablo partiu para cima dos policiais militares com uma picareta e foi alvejado com seis tiros. Um dos amigos do jovem, que prefere não se identificar, afirmou que o comportamento do atleta mudou quando ele foi agredido pela Rotam. 

"Ele ficou assim porque, uma vez, a Rotam o espancou batendo só na cabeça dele. Passou uns dias ele começou a ficar diferente e só foi piorando. Começou a falar com cachorro, passarinho, com todo tipo de bicho... Ele era um excelente jogador, sempre acompanhei ele. Era o sonho dele, ele jogava muito bem", lamentou. 

O episódio de espancamento cometido pela Rotam teria acontecido em uma das vezes que Pablo entrou em surto e tentou agredir a mãe. Conforme a PM, na madrugada deste domingo (12), a mulher relatou que o filho estava muito exaltado e chegou a dar um chute nas costas dela. 

A mãe pediu para que Pablo fosse conduzido à delegacia. Segundo a PM, a mulher abriu o portão e permitiu o acesso dos policiais à casa. Um dos militares ficou do lado de fora para evitar que a vítima fugisse do local. 

Ao entrarem no terreno da casa, os policiais teriam pedido para que Pablo permitisse a abordagem. No entanto, ele desobedeu todas as ordens e empurrou um dos PMs dentro de uma piscina vazia. De acordo com a coorporação, a arma do agente disparou acidentalmente, mas não atingiu Pablo, que correu para dentro da residência. 

O jovem, então, pegou a picareta e partiu para cima dos policiais fazendo "gesto de ataque", conforme narrativa da PM. Antes de Pablo conseguiu sair da casa, um dos policiais atirou perto da perna da vítima, que voltou para dentro da residência. 

Novamente, Pablo abriu a porta e saiu "empunhando a picareta acima da altura de sua cabeça, em posição de golpe". Ele foi para cima de um dos policiais que, de imediato, fez disparos contra o jovem. Segundo a PM, o militar precisou disparar novamente quando foi encurralado pela vítima. 

Pablo caiu no chão e, apesar do acionamento do Samu ter sido realizado, a morte do atleta foi constatada ainda no local do crime. 

Amigo aponta ação desproporcional 

O amigo do jovem explica que, após o episódio de agressão pela Rotam, ele teria começo a usar drogas e gostava de fumar cigarro. No entanto, ele afirma não saber se o atleta estava usando entorpecentes com frequência. 

Além de ação desproporcional por parte da PM na madrugada deste domingo (12), o amigo de Pablo afirma que os policiais militares agem de forma diferente na periferia de Cuiabá. 

"É o terceiro amigo meu que a Polícia mata. Todos gostavam do Pablo, a própria família dele abandonou. Muitas pessoas que estavam lá de madrugada disseram que os policiais estavam rindo da situação. Rindo da morte do meu amigo". 

Para o amigo, os policiais poderiam ter tentado imobilizar Pablo de outras formas . Ele também criticou o treinamento dos militares em situações do tipo.

"Por mais que ele possa ter ido para cima. O certo era os policiais alvejarem ele na perna. Infelizmente meu amigo foi morto por policiais sem treinamento. Sempre é [em bairros de periferia], pode olhar no vídeo como eles tratam a população. Para mim é falta de treinamento". 

Moradores se revoltaram durante ocorrência 

Vídeo feito por testemunhas mostra moradores do bairro Jardim Florianópolis revoltados com a morte de Pablo. Nas imagens, um homem aparece gritando com os policiais. 

"Entra aqui na periferia, mata um coitado desse aí. Todo mundo aqui é pai de família, vocês também são pai de família", diz enquanto é aplaudido por outros moradores que afirmam que "não precisava" dos disparos. 

Equipe plantonista da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) foi acionada para as providências cabíveis, assim como a Politec, que realizou exames de local de crime. O corpo foi encaminhado ao IML de Cuiabá. 

O amigo de Pablo informou a reportagem que ainda não há previsão de velório e enterro do jovem. "Não sabemos nem se vai ter", lamentou. A PM ainda não se manifestou sobre o caso. 
 
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