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Procuradora queria desistir de adoção de menina, diz ex-empregada

G1

A ex-empregada doméstica da procuradora aposentada Vera Lúcia de Sant´Anna Gomes contou ao G1 detalhes da rotina do tempo em que viveu no apartamento da mulher acusada de torturar a criança de 2 anos que pretendia adotar. A ex-funcionária, que pediu para não ser identificada, revelou que Vera pensou em devolver a menina.

A procuradora teve a prisão preventiva decretada e está foragida. O Tribunal de Justiça informou que o pedido de habeas corpus solicitado por seu advogado será analisado na próxima segunda-feira (10).

“Ela disse várias vezes que não ia criar uma cobra que depois ia mordê-la. A Dona Vera, no início, pediu para a menina chamá-la de mãe, depois mudou de idéia e passou a brigar com a criança quando ela carinhosamente se referia a ela como mãe. Por último, ela disse, aos berros, que queria devolver a menina. Desde então, passei a pedir a Deus que ela devolvesse a menina, que não merecia passar por todo esse sofrimento”, desabafou a ex-funcionária.

A doméstica trabalhou por um ano e dois meses e pediu demissão do serviço no início do mês de abril, após presenciar as cenas de tortura . Ela afirma que a ex-patroa puxava a menina pelo cabelo, além de dar tapas e chutes no rosto e no corpo da criança.

Mudança de comportamento

Depois das visitas, ela contava com muita empolgação aos empregados como era a criança que pretendia adotar. Ao receber a autorização de levar a menor para sua casa, Vera comprou muitas roupas e brinquedos para recepcionar a menina.

A ex-empregada explica que, no início, Vera parecia ser uma mãe zelosa e inclusive dava ordens aos funcionários para não tocar na menina. No entanto, com a convivência diária, a procuradora mudou seu comportamento e passou a agredir a criança.

“Ela não deixava a gente dar banho e nem dar comida à menina. Não podíamos nem brincar e muito menos levá-la pro parque ou à praia. Ela queria fazer tudo. Mas se a menina não desse bom dia, já era um motivo para ela bater”, contou.

Reclusa e de poucos amigos


Um porteiro que trabalha há dez anos no edifício onde a procuradora mora em Ipanema, na Zona Sul, afirma que só viu Vera sair com a menina duas vezes. A aposentada é descrita pelos funcionários como uma pessoa reclusa e de poucos amigos.

“Ela não recebia ninguém em sua casa, apenas o professor de tarô e um outro rapaz que fazia trabalhos de macumba pra ela. Nesses dez anos que trabalho aqui, só vi dois sobrinhos procurarem por ela, mesmo assim isso só aconteceu duas vezes”, disse o porteiro, que também não quis se identificar.

A antiga empregada conta que Vera era estudiosa de tarô. Ela recebia semanalmente em sua residência, o professor Alex, que a ensinava ler cartas. Segundo a ex-funcionária, a procuradora respeitava o professor e batia na criança quando ela não o cumprimentava.

Estudiosa em astrologia e viciada em internet


Ainda de acordo com a ex-empregada, Vera gostava de ter amigos virtuais. Em seu perfil no site de relacionamentos Orkut, a procuradora trocava conhecimentos esotéricos com outros internautas. Ela afirma também que a aposentada passava boa parte dos dias e da noite na internet.

“Ela ficava o dia todo na internet e não era de brincar com a menina. A criança ficava em frente à TV e colorindo desenhos”, disse a ex-funcionária.

A astróloga Marilene Lucchesi conta que a procuradora a consultou algumas vezes para saber as previsões das cartas do tarô. Marilene ficou surpresa com a reação de Vera, que relatou nas sessões ter muita vontade de adotar uma criança.

“Nas vezes que ela veio se consultar, se emocionou e disse que sonhava em adotar uma criança. A Vera comentou que não tinha para quem deixar sua herança e que pretendia deixar seu dinheiro para a criança adotada. Estou muito chocada”, afirmou a astróloga.

Vaidosa com os cabelos longos

Com uma casa de veraneio em Búzios, na Região dos Lagos, a procuradora raramente freqüenta a residência no luxuoso balneário. O porteiro conta que Vera foi no carnaval para a cidade e depois só voltou quando foi acusada de torturar a menina.

De acordo com o porteiro, Vera nunca apresentou um marido, apenas um namorado há alguns anos atrás. Durante muito tempo, a procuradora morou com a mãe que morreu há cerca de sete anos, segundo seus antigos funcionários.

Os ex-empregados lembram ainda que Vera sempre foi vaidosa e ia semanalmente a um salão de beleza fazer as unhas e cuidar dos cabelos. Mas nem com os cabelereiros, a procuradora se relacionava bem.

“Ela chegava muito arrogante no salão, por isso ninguém a suportava. Os cabelos longos são dela mesmo. Ela cortou uma vez e depois pediu que fizessem um aplique do próprio cabelo”, detalha a ex-empregada.

Denúncias de racismo

A ex-empregada conta que foi vítima diversas vezes de racismo, mas, por medo, não denunciou as agressões. Ela relata que a procuradora dizia frases como: “Não faça essa coisa de preto, faça a coisa certa, faça coisa de branco”. Ela se referia a um outro funcionário como “pedaço de carvão”.

De acordo com a ex-funcionária, Vera Lúcia chegou a cortar os cabelos da menina por eles serem cacheados. “Ela disse que o cabelo dela era pixaim e cortou bem curto. Fiquei com muita pena, o cabelo era lindo, todo cacheadinho”, disse ela, que esta semana entrou com uma ação na Justiça pedindo direitos trabalhistas.

Desde o início da semana, o edifício de um apartamento por andar, onde mora Vera Lúcia virou alvo de curiosos. Os porteiros relatam que turistas e cariocas param em frente ao prédio e tiram fotos. Na esquina da Praia de Ipanema, um dos endereços mais cobiçados da cidade, o apartamento, de acordo com os funcionários do prédio, está avaliado em R$ 1,2 milhão.
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