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Brasileiro interage com internautas em sua viagem pela América Latina

G1

O engenheiro eletrônico Eduardo Martins, de 26 anos, mineiro de Três Corações, deu início neste sábado (15) a uma viagem de volta para casa após morar um ano na Cidade do Panamá. Com a mochila nas costas, sai da capital panamenha rumo à Costa Rica, volta ao local de sua última morada e parte para uma visita a vários países da América do Sul (exceto as Guianas e o Paraguai) até chegar ao Brasil via Rio Grande do Sul, onde pretende refazer seu roteiro até ser recebido pela família no interior de Minas Gerais. A maior parte do trajeto será percorrido de ônibus.

Entretanto, Eduardo, que já passou pela experiência de morar no exterior, na Eslovênia, há três anos, preferiu inovar e partilhar suas experiências com a ajuda de diversas redes sociais. Ele relatará sua viagem em um blog, no qual promete atualizar diariamente. O site já possui relatos sobre viagens para diversos pontos turísticos do Panamá. As atualizações também poderão ser seguidas pelo twitter. Sua aventura também será contada no Facebook, Orkut, Youtube e Picasa. "Não queria somente relatar a viagem, ou que quem a acompanhasse não ficasse só lendo. Queria algo mais, que eles participassem de alguma forma".

Entre essas alternativas de interação, Eduardo propôs aos seus seguidores virtuais para que escolham o tipo do salto de bungee jump que ele fará em uma ponte na Costa Rica, a uma altura de 80 metros - e vai postar o vídeo com o salto da opção vencedora. O salto "golfinhos brancos" (mais detalhes no blog) aparece como o grande favorito. Outra opção é que os seguidores possam sugerir locais interessantes para que ele possa visitar e relatar. "Sugeriram-me locais como parques na Bolívia, por exemplo, que não encontramos em guias. Tenho recebido opiniões maneiras", afirmou.

Surfe
Os 111 dias com os quais resolveu nomear sua aventura são na verdade um tempo aproximado, já que ele quer ter liberdade para viajar com seu próprio timing, tanto que não procurou reservar hotéis nem o itinerário está determinado - os internautas ainda têm tempo para mandar sugestões.

Em relação à estadia, Eduardo pretende utilizar uma outra rede, mais conhecida entre os mochileiros: o couch surfing (ou "surfando no sofá", em tradução livre). Trata-se de uma rede que conecta viajantes por todo o mundo. Além de dar dicas de viagens, cada usuário se oferece para, eventualmente, abrigar outro em sua casa quando este passar por sua cidade. Em retribuição, o hospedeiro poderá contar no futuro com a generosidade de outro usuário. "Há poucos dias entraram em contato comigo me pedindo uma hospedagem. Informei a eles que estava deixando o país, mas recomendei um amigo meu", diz Eduardo. O sistema tem garantias e, logicamente, os interessados entram em contato antes para saber se há disponibilidade.

Para garantir a segurança do sistema, cada usuário recebe referências - como hospedeiro e hospedado. "Com 60 referências positivas, não tenho porque temer me hospedar na casa de uma pessoa disposta a isso", explicou Eduardo, que afirmou ter abrigado 15 mochileiros, enquanto foi retribuído outras quatro. Ele espera equilibrar o placar durante essa viagem. Outra vantagem da comunidade, segundo Eduardo, é que em cada cidade ocorrem eventos de encontro entre seus usuários, como em São Paulo, por exemplo - participar dos eventos é uma dica para o usuário estreante. "É acima de tudo uma oportunidade de fazer amigos", afirmou.

O Brasil é latino
Além das amizades e da interação, outro objetivo da viagem para Eduardo é realizar o sonho de conhecer uma região a qual foi se encantando aos pucos e lembra que ainda é muito pouco explorada por turistas brasileiros. "Quando cogitamos morar no exterior, geralmente pensamos nos EUA e Europa. Na Eslovênia, conheci uma amiga mexicana que despertou meu interesse pela América Latina. Percebi que nós, brasileiros somos muito afastados dos nossos vizinhos, e eles percebem isso da gente", afirmou.

Eduardo, que apesar de engenheiro trabalha na área de marketing, lembra que a região tem muito mais a oferecer do que apenas as belezas naturais. "Essa viagem servirá também para conhecer mais a cultura e as pessoas daqui. Pretendo, por exemplo, visitar a Venezuela e compreender mais de perto a situação política do país, o que as pessoas acham de Hugo Chávez, conhecer a visão de defensores e opositores". As diferentes reações dos povos durante a Copa do Mundo e as eleições colombianas também serão pontos a serem explorados. Outro passatempo será conhecer e divulgar filmes de cada país, que serão assistidos nos laptops durante as viagens de ônibus.

Carnaval 'sem pegação'
Sobre o Panamá, Eduardo recomenda o país como um bom local para para brasileiros que queiram ter uma experiência no exterior. Segundo ele, o país é barato, bonito, hospitaleiro e bem localizado - já que fica em um ponto central das Américas, sendo fácil viajar para locais como Caribe e EUA.

"Foi uma grande surpresa para mim, mas os panamenhos adoram o Brasil. O time deles não vai para a Copa, então torcem para a Seleção. Eles têm muita coisa em comum com a gente. Um exemplo é o carnaval, que é realizado no mesmo período, tem a mesma duração. É muito bom, as pessoas usam fantasias e tudo. Só tem duas diferenças fundamentais: o carnaval daqui não tem 'pegação'", revelou Eduardo. Na falta do samba, os panamenhos escutam o reggaeton, variante do reggae jamaicano influenciado por estilos hispânicos.

Outro aspecto visível no país é a forte influência culural exercida pelos EUA. "É enorme, dá pra se notar até na música, eles estão presente em todo o lugar. O inglês é quase a segunda língua aqui, é falado com fluência por pessoas de todas as áreas sociais". Segundo Eduardo, a invasão dos EUA ao país em 1989 para depor o ditador Manuel Noriega causou ressentimento, mas não abalou a forte influência de um país sobre o outro.

"Imagine para o povo daqui pensar que você tem uma faixa de seu território cedida a outro país e este te ataca de surpresa. Só que há muito intercâmbio daqui com eles, é muito barato viajar para a Flórida, os produtos deles estão em todo o lugar e é impressionante o número de pessoas que usam blackberry."

Profissionalmente, Eduardo considera que, para uma profissão que exija mão de obra qualificada, o país pode ser uma boa opção, exatamente pelo baixo custo de vida e pela possibilidade de se ganhar em dólar. "Há multinacionais importantes abrindo vagas específicas para brasileiros no país", recomenda o brasileiro.
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