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Para Requião, PMDB foi "abduzido" no processo eleitoral

Terra

Pré-candidato à presidência da República pela ala do PMDB que discorda da coligação com o PT e da indicação do presidente do partido, deputado Michel Temer, como candidato a vice na chapa de Dilma Rousseff, o ex-governador do Paraná Roberto Requião disse que, mesmo sabendo que irá ser derrotado, apresentará sua pré-candidatura na Convenção Nacional do partido, marcada para o dia 12 de junho.

Requião disse, em entrevista ao Terra, que irá se candidatar ao menos para marcar posição, pois o partido já estaria "abduzido". Fora do governo desde o dia 1º de abril, quando renunciou para se desincompatibilizar para as eleições de outubro, Requião, que disputará uma cadeira no Senado, criticou a forma como o PMDB conduziu a aliança, disse não temer ser enquadrado pelo partido e criticou os dois principais pré-candidatos á presidência, Dilma e José Serra (PSDB), por suas políticas econômicas.

Apesar da bronca, Requião admitiu que deverá votar na petista, principalmente pelo fato de o PT não ter optado pelo presidente do Banco Central, Henrique Meireles (PMDB) como vice, o que seria "um despautério".

Terra - Após a reunião da Executiva Nacional do PMDB, que decidiu lançar Michel Temer como vice de Dilma, o senhor manterá sua pré-candidatura à presidência até a convenção?
Requião - Primeiro que a reunião da Executiva não decidiu nada. porque o que decide é a Convenção Nacional. Eu tenho recebido apelos, inclusive do Pedro Simon, para não abandonar essa condição de pré-candidato, para marcarmos uma posição na convenção. Sabemos que vamos perder, pois o PMDB já está abduzido, mas vamos marcar a posição. Nós continuamos sem programa de governo. Dizem que estavam montando um. O Mangabeira (Unger) que trabalhava comigo foi trabalhar com o partido, mas eu não conheço esse programa. Então, eu sou inclinado a ir à convenção e colocar uma posição.

Terra - Também nessa reunião a Executiva anunciou que enquadrará os filiados que não atuarem pela chapa Dilma/Temer...
Requião - Talvez a gente vá à convenção para enquadrar a Executiva, porque, mais uma vez, quem enquadra ou desenquadra, quem decide tudo é a Convenção Nacional, não é meia dúzia de parlamentares. Que ilusão tola é esse de me enquadrar. Vou fazer o que eu penso. Em primeiro lugar, minha consciência, em segundo meu país, em terceiro está o partido. E acho que eles podem ser enquadrados na convenção. Eu não sou adversário do Temer, nada isso. Eu sou adversário do processo de discussão. Porque ninguém está discutindo um programa de governo, eles esconderam isso lá em Brasília. Dizem que têm um e não mostram para ninguém, é uma coisa ridícula. Eu não sou nem contra a ligação com o PT, já que estou mais à esquerda nesse processo todo. Mas não é assim, na base da imposição.

Terra - Confirmada a coligação nacional com o PT, o senhor será candidato ao Senado no Paraná. Em que coligação? Com qual candidato ao governo?
Requião - Não sei, não tenho essa bola de cristal. Aqui está uma bagunça geral, ninguém sabe o que vai acontecer. Eu serei candidato pelo PMDB.

Como o senhor avalia os dois principais pré-candidatos ao Planalto?
Requião -O que vejo hoje é o Serra e a Dilma defendendo, de uma forma ou de outra, posições que se assemelham. O Serra diz que o Banco Central não é a Santa Sé. Parece bacana isso, que o banco Central tem que jogar com o governo. Eu acho que sim, porque só o mercado não existe, o que existe é o interesse dos bancos e do capital. O mercado é uma ilusão superada, falida. Existe interesse do capital forçando cortes pesados de investimentos públicos e tirando dinheiro do povo, dos países, das praças populares para favorecer os bancos internacionais. A Dilma e o governo Lula são muito bons com o Banco Central. Amarrados à política de seu principal apoiador. Porque eu não acredito que ela pense isso, mas está amarrada a essa política. Agora o Serra, à medida que se diz independente do Banco Central, ele bate nos países sulamericanos, o que é a defesa dos interesses do grande capital e dos países ricos. É evidente que ele está propondo a ALCA de novo, ou seja, acordos independentes com os países mais pobres. Ele está excluindo a América do Sul. Eu sou partidário de um bloco sul-americano forte. Ele disse umas bobagens muito grandes sobre a Bolívia. O discurso do Serra sobre o Banco Central estava bonito na fita, mas daí ele foi bater no Mercosul. Então era simulação? Já a Dilma nem simulação faz.

Terra - Então o senhor não apoiaria nenhum deles? Prefere um candidato mais à esquerda?
Requião - O Plínio (de Arruda Sampaio, pré-candidato à presidência pelo Psol) é meu amigo, a Dilma também, e o Serra não posso dizer que é adversário. Você tem que votar no que puder se eleger e mudar alguma coisa, então tem uma escolha aí. O Plínio é ótimo como candidato porque ele coloca temas que outros não têm coragem. Está todo mundo com medo de ofender o mercado, e o mercado não é mercado, como eu disse, o mercado é banco. Eu sou "lulista", é bom que fique bem claro. E minha tendência, hoje, é ir com o PT.

Terra - Então o senhor acabará apoiando a chapa Dilma/Temer?
Requião -Provavelmente, sou Dilma. É o que pode oferecer perspectiva de avanço, mas o que não dá para aceitar é a manutenção dessa política econômica, à qual o Lula foi obrigado a aderir. Há um projeto de fascinação sobre o Lula, esses vários prêmios que ele recebe se assemelham muito aos que deram ao Carlos Menem. O Bill Clinton elegeu o Menem o melhor presidente do mundo. Daí o Lula vai comprar caças da França e é eleito o homem mais importante do mundo pelo Le Monde. E ele se entusiasma com isso. Outra coisa que me deixou perplexo: achei que a ida do Lula ao Irã era coisa positiva, mas, de repente, descubro que quem mandou ele lá foi o Obama. Então não era bem uma postura de liderança e independência, era um acordo com os americanos.

Terra - E com o Temer de vice, para o senhor que é um crítico do Banco Central, é melhor que com o Henrique Meireles?
Requião - Sem a menor sombra de dúvida, pois o Meirelles de vice seria um despautério
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