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Namorado de vítima do voo 447 critica tratamento da Air France

G1

O empresário Carlos Braga, de 32 anos, compareceu na manhã desta terça-feira (1º) à missa em memória de um ano da tragédia do voo AF 447, na igreja Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, na Zona Sul do Rio, indignado com o tratamento que vem recebendo da Air France. Ele perdeu o companheiro, o alemão Andree Valerius, com quem viveu, na Alemanha, durante três anos.

A revolta era porque a empresa havia negado sua presença em um evento no memorial erguido no Parque Municipal Penhasco Dois Irmãos, no Leblon, também na Zona Sul, que acontece nesta terça, porque ele não colocou o nome na lista a tempo.

Em 31 de maio de 2009, o avião, que levava 228 pessoas, dentre as quais 58 brasileiros, saiu do Rio em direção a Paris nunca chegou ao seu destino. Caiu no Oceano Atlântico sem deixar sobreviventes.

“Havia uma lista que era para confirmar até o dia 15 de março, eu não recebi essa lista. Quando liguei para a Air France, falei com a responsável pelo cerimonial, ela disse que já estava fechado. Perguntei o que eu deveria fazer e ela disse ‘você procura o seu advogado’”, contou Carlos.

Segundo Carlos, seu advogado já entrou com uma ação contra a empresa e, por isso, muitos já o conhecem. “Saí do meu país, fiquei três anos com alguém para ter uma relação legal com uma pessoa, no final das contas essa empresa me tirou tudo o que eu tinha, e me tirou também o direito de participar do memorial”, afirmou.

Ele contou ainda que não foi avisado sobre o evento em Paris, para onde foram cerca de 140 familiares no domingo (30). De acordo com Carlos, Andree não tinha familiares. O corpo da vítima não foi encontrado.

Sem apoio psicológico
Os dois eram donos de uma loja de roupas e bijuterias em Colônia, cidade alemã. Muitos produtos eram brasileiros. Desde a tragédia, Carlos está sem trabalhar e a loja faliu.

“Eu não tenho apoio algum psicológico, eu não tive apoio algum da empresa até agora. A empresa deu para algumas pessoas, não para mim, o direito a dez sessões de ajuda psicológica. É impossível que venham tratar como se perdeu uma mala. Eu não perdi uma mala, eu perdi alguém que estava junto comigo e que tinha uma relação estável”.

Cerca de 40 familiares e amigos das vítimas do voo 447 da Air France que preferiram ficar no Brasil em vez de ir à Paris para participar de evento em memória de um ano da tragédia, se reuniram na missa, que teve início às 11h. Em três vans, eles seguiram para um almoço e, depois, irão para o memorial, na Praça Nossa Senhora do Penhasco, no Leblon, na Zona Sul.

A assessoria de imprensa da Air France confirmou que havia um prazo para fechar a lista de participantes. Durante a missa, porém, a empresa voltou atrás e concedeu uma credencial para Carlos poder ir ao memorial. Ao fim da celebração, o empresário confirmou que estará presente no evento. No almoço, porém ele não foi incluído.

Família emocionada
Ao contrário de Carlos, as tias da vítima Luciana Anseba, que também não teve o corpo encontrado, afirmaram que consideram a homenagem justa.

“No momento era o que a gente estava precisando mesmo, de coletivamente compartilhar com as pessoas que sofreram a mesma coisa”, disse, muito emocionada, ao fim da missa, Cláudia Vale. A outra tia, Lígia Vale, chorando muito, ainda mantém viva a lembrança da sobrinha. “Apesar de um ano ter se passado, a gente ainda sente muita falta”, desabafou.

Acidente ainda é mistério
Um ano depois da tragédia, parentes de vítimas ainda buscam razões para o acidente. Até agora, investigadores, pilotos e fabricante não conseguiram explicar os motivos que provocaram a queda da aeronave. Três operações de buscas já foram realizadas em vão, o que provocou muita frustração.

A terceira fase de buscas das caixas-pretas do voo 447 terminou no dia 24 de maio sem sucesso, segundo o Escritório de Investigações e Análises (BEA, na sigla em francês), órgão da França encarregado do trabalho. Jean-Paul Troadec, diretor do BEA, foi contundente: "sem as caixas-pretas", que registraram os parâmetros do voo, "será difícil ter uma investigação conclusiva", disse à agência de notícias France Press à época.

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Contratado para representar 16 famílias no processo indenizatório contra a Air France, o advogado João Tancredo ratifica que a empresa, através de sua seguradora Axa, tem agido de forma "pouco elogiável" junto aos parentes.

"Nos casos de acompanhamento psicológico, alguns recibos para ressarcimento dos familiares são contestados pela empresa. Afirmam que os valores não são condizentes com os praticados pelo mercado. Combatem estes comprovantes de maneira muito leviana. Não vejo outra palavra. Chegam a dizer que tem gente que nem precisaria de tratamento”, revelou o advogado.
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