Imprimir

Notícias / Agronegócios

Grãos que fazem a diferença

Da Redação/Com Assessoria

Em meio às oscilações diárias nas bolsas de mercadorias, os analistas quebram a cabeça para mensurar as cotações agrícolas da semana seguinte, mas se dizem certos de que, nas próximas décadas, as médias serão mais apertadas. É consenso que a pressão do mercado fará os preços ficarem cada vez mais próximos dos custos, observa Eugênio Stefanelo, técnico da Conab e mestre em Economia Agrícola. Neste cenário, a única saída para o produtor que busca maior rendimento é se diferenciar, oferecer algo que o comprador valorize mais que a commodity. Os produtores de grãos diferenciados do Paraná acreditam ter encontrado uma saída neste sentido.

Eles investiram em estrutura de armazenagem e secagem na própria fazenda para controlar as variáveis do processo de produção. Há quatro anos, registraram uma associação, que negocia contratos na compra de insumos e principalmente na venda da colheita. Agora, de escritórios montados entre os silos agrícolas, aceitam qualquer exigência do comprador, que pode escolher a variedade, a cor e as características finais dos grãos.

Hoje com 20 sócios, a Associação dos Produtores de Grãos Diferenciados (APGD) situada em Castro, nos Campos Gerais, abrange pelo menos 25 mil hectares, relata o presidente da entidade, Otávio Canesin. Ele considera que o setor descobriu tarde essa via de produção, que tende a crescer gradualmente.

Esse crescimento depende de o setor agrícola estimular a indústria de alimentos a usar matéria-prima mais adequada para cada fim, considera. “Nosso foco principal na associação é negociar a contratação da produção, com a indústria ou o produtor de alimento que busca soja, trigo e milho diferenciados.”

Os contratos para produção diferenciada começaram a surgir por iniciativa da própria indústria, afirma o produtor Marcos Bertolini. A indústria de salgadinhos, que prefere grãos mais amarelos e nutritivos, até hoje compra milho nos Campos Gerais. Atualmente, os agricultores da região vendem também cereal para flocos, soja para suco de frutas e sorvete e trigo para macarrões especiais. Entre os contratos mais vantajosos, Bertolini cita o de uma carga de soja para a produção de tofu – alimento com textura de queijo fresco – vendido ao Japão. Os grãos alcançaram preço 10% superior nesse caso.

Os adicionais pagos pela indústria vão de 5% a 10%, afirma Canesin. Segundo ele, essa margem é consumida, em parte, pelo custo extra que o controle integral da produção exige. “Os custos aumentam 5%, não longe disso.”

O produtor Anderson Moreira, de Ponta Grossa, que instalou sete silos há quatro anos, diz que já recuperou o investimento. Um silo com estufa e capacidade para 450 toneladas, suficiente para atender uma área de 50 hectares, custa cerca de R$ 160 mil atualmente.

Custo menor

Moreira observa que os custos de produção variam de acordo com as exigências do cliente e a tecnologia empregada, mas aponta que as despesas com armazenagem e transporte podem até cair no novo sistema. “A venda é feita na propriedade”, acrescenta, “não há despesa de transporte para o produtor”.

O produtor Rodolpho Luiz Werneck, de Candói, Região Central, que produz grãos diferenciados sem integrar a APGD, diz que o custo da secagem na propriedade é menor “mesmo usando o gás, que é mais caro que a lenha”. Ele evita deixar sua estrutura ociosa. Com três silos secadores e quatro armazenadores, tem falta de espaço no auge da safra, quando recorre às cooperativas.


Imprimir