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Notícias / Ciência & Saúde

Para Ferreira Gullar, Estado deixa de fazer sua parte ao restringir internações de doentes mentais

ABr

Pai de dois filhos esquizofrênicos, um deles já morto, o poeta e crítico de arte Ferreira Gullar defende que a política de limitar a internação de pessoas com transtornos mentais precisa ser repensada e modificada. Para o poeta, a Lei da Reforma Psiquiátrica é demagógica e fruto de um preconceito ideológico.

“Há uma demonização dos hospitais psiquiátricos, que muitas décadas antes da aprovação da lei já não eram, em sua maioria, locais violentos. Sequer se chamavam manicômios, uma expressão já então fora de uso”, afirma Gullar em entrevista à Agência Brasil.

Ganhador, este ano, da mais importante premiação concedida a autores de língua portuguesa, o Prêmio Camões, Gullar considera que, nos momentos de surto, pessoas com transtorno mental podem representar um risco para as famílias e para elas mesmas.

“Não defendo os antigos manicômios nem [acho] que somente internar alguém seja tratamento, mas há casos de pessoas com transtornos mentais que precisam ser internadas. Quem já passou por isso sabe que essas pessoas, quando surtam, são uma ameaça para si próprias e para outras. Quem pode, paga uma clínica particular. Agora, um trabalhador comum não tem dinheiro para pagar uma.”

O poeta critica os profissionais da área que tentam recriminar quem procura um estabelecimento psiquiátrico para internar um parente. “Imagina se há alguém que ame mais o filho do que o próprio pai. E há quem tenha a coragem de dizer que as famílias querem se livrar das crianças. Falam em responsabilidade compartilhada, mas quem está deixando de fazer sua parte é o Estado”, afirma Gullar.
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