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RS: voto de Collares em Genro reacende polêmica sobre alianças

Terra

Depois de PT, PSDB e PMDB amargarem situações constrangedoras no Rio Grande do Sul em função das diferenças entre a aliança nacional e suas equivalentes regionais, agora é o PDT gaúcho que expõe suas divergências internas em relação aos palanques.

O ex-governador Alceu Collares (PDT) reiterou nesta quarta-feira (7) que vai votar em Tarso Genro (PT) na eleição para o governo do Estado. A saia justa ocorre porque, no Rio Grande do Sul, o PDT não apenas está coligado com o PMDB, maior adversário do PT na eleição estadual e que tem José Fogaça como candidato ao governo, mas também porque o vice de Fogaça é o deputado federal pedetista Pompeo de Mattos.

Nacionalmente, o PDT apoia Dilma Rousseff (PT) para a presidência da República e o PMDB tem o vice de Dilma, Michel Temer. Mas, no RS, o PMDB historicamente polariza eleições com o PT, tem preferência por José Serra e decidiu ficar neutro em relação à disputa presidencial.

Collares declarou seu apoio a Tarso na terça-feira (6), durante ato realizado na Esquina Democrática, no Centro de Porto Alegre, que marcou o início da campanha de Dilma. Mas o fato de Dilma polarizar as atenções, de milhares de pessoas tentarem se aproximar da candidata a ponto de ela precisar cancelar o almoço previsto para ocorrer no Mercado Público e de outros expoentes pedetistas não terem presenciado a declaração, fez as lideranças do PDT acreditarem que tivesse havido um mal entendido.

Nesta quarta Collares não só confirmou o voto como disse esperar que o partido o convoque por escrito para prestar esclarecimentos, o que vai obrigar o PDT a tomar alguma providência. Segundo o presidente estadual do PDT, Romildo Bolzan Júnior, a executiva vai discutir o caso do ex-governador. Internamente, já há integrantes da executiva que falam em infidelidade partidária.

Collares, que em 2008 foi nomeado para o Conselho de Administração da Itaipu Binacional, é criticado dentro do PDT por partidários que veem sua inclinação petista como uma forma de defender o próprio cargo. Em entrevista concedida ao Terra Magazine em abril, ele já havia aberto o voto para o senador Paulo Paim (PT), que disputa a reeleição na coligação adversária.

Na mesma ocasião, disse que quem seguia com Fogaça era "de direita" e sugeriu que fosse feita uma charge para perguntar qual a obra que o candidato peemedebista havia realizado enquanto prefeito de Porto Alegre. Mas ressalvou que se a convenção estadual do PDT decidisse pela aliança e a candidatura de Fogaça ao governo, seguiria a decisão partidária.

A atitude do ex-governador foi um golpe para a cúpula pedetista gaúcha porque traz de volta aos holofotes as possíveis dissidências favoráveis a Genro entre prefeitos do PDT e por colocar em xeque um acordo não escrito entre PDT e PMDB no Rio Grande do Sul. No início da pré-campanha, com Genro e Fogaça já pré-candidatos e a aliança PMDB/PDT estabelecida, prefeitos pedetistas declararam que preferiam Genro a Fogaça.

O candidato do PT não se fez de rogado. Desde então, sempre que possível, diz que, se eleito, o PDT integrará seu governo. Mas a cúpula pedetista considerava o assunto resolvido depois de Fogaça e Pompeo terem cumprido roteiros por todas as regiões do Estado para reforçar a aliança, e o PMDB fez vistas grossas a eventuais dissidências.

Em contrapartida, o PDT gaúcho, que está empenhado em fazer a campanha de Dilma (ex-pedetista) de forma independente ao palanque petista no RS, aceitou a posição de neutralidade do aliado PMDB em relação à disputa presidencial.

Divergências internas já ficaram claras em todas as principais candidaturas
Collares, porém, está longe de ser o primeiro a externar preferências que não agradam ao próprio partido. Genro foi o primeiro a ter que aceitar que, se o PMDB gaúcho decidisse dar palanque para Dilma, teria que dividir com os adversários sua candidata à presidência. Em sua primeira agenda pública ao Estado como pré-candidata, em abril, a ex-ministra disse na sede da Federação das Indústrias (Fiergs), em Porto Alegre, que o governo federal considerava Fogaça um aliado estratégico e que não se negava apoios e palanques. Os petistas presentes ouviram em silêncio.

Quando o PMDB gaúcho anunciou a neutralidade, o PT comemorou internamente e, de público, cobrou apoio a sua candidata. Mas Genro era só felicidade na terça-feira (06), após Dilma dizer à imprensa que seu palanque no Estado agora é o do PT.

Foram também as divergências internas que empurraram o PMDB do Rio Grande do Sul para a neutralidade. Apesar de o presidente estadual do partido, senador Pedro Simon, ser simpático a Dilma; de o coordenador da campanha de Fogaça, o deputado federal Mendes Ribeiro Filho, dizer que vai votar na petista; de o secretário-geral, deputado federal Eliseu Padilha (serrista convicto), estar neutralizado por conta de sua amizade com Temer; e de o próprio Fogaça não ser empecilho para que sua candidatura forneça palanque a Dilma, a resistência ao PT dentro do PMDB gaúcho inviabilizou qualquer acordo até o momento.

A posição dos gaúchos está muito distante do que gostaria a cúpula nacional, que sabe que os deputados farão campanha para Serra, mas preferiu não optar por uma interferência que avalia como pouco vantajosa. Além de suas diferenças, o PMDB gaúcho é o protagonista de outra divergência, aquela a qual está exposta a terceira principal postulante ao Palácio Piratini: a governadora Yeda Crusius (PSDB), candidata à reeleição.

Em poucas ocasiões Yeda comentou a aberta preferência de seu candidato à presidência, José Serra, pelo PMDB no Estado, em detrimento do próprio palanque. As investidas de Serra sobre o PMDB durante suas viagens ao Estado constrangeram até os peemedebistas e chegaram a gerar dissabores com os aliados pedetistas.

A gota d´água aconteceu quando, no início de maio, Serra marcou de vir ao RS somente para um almoço com a bancada estadual do PMDB, sem o conhecimento do PSDB local. Este rapidamente se mobilizou para que o então pré-candidato estendesse a agenda, contemplando também os tucanos gaúchos e seus aliados regionais, os progressistas, que já haviam declarado apoio ao ex-governador.

Yeda não participou das atividades. Na convenção estadual do PSDB, em 27 de junho, a governadora discursou por quase 30 minutos, mas não citou o nome de Serra. Em evento no dia seguinte, creditou a omissão a um lapso. O quadro no Rio Grande do Sul lembra uma frase dita pelo senador Simon há meses, ao referir-se às possibilidades destas eleições: "vai ser uma confusão".
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