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Danton Mello quer se dedicar ao teatro após fim de 'Tempos Modernos'

Terra


Ainda na reta final de Caminho das Índias, Danton Mello recebeu o convite para encarnar o charmoso Renato de Tempos Modernos, na Globo. Na época, soube que interpretaria um astronauta apaixonado pela mocinha Nelinha, de Fernanda Vasconcellos, mas não tinha ideia de como seu papel cresceria no folhetim de Bosco Brasil. Em meio a diversas mudanças na trama em função da baixa audiência, Danton se deu bem e garantiu peso similar ao dos protagonistas na história. "Sinceramente, não esperava ganhar esse espaço. Sabia que ele ia movimentar o romance dos mocinhos, mas não imaginava que chegasse a tanto", valorizou Danton. Às vésperas de se despedir do trabalho, o ator não imagina quando volta ao ar. Mas sabe bem o que quer fazer enquanto isso. "Como não deve aparecer nada muito longo até o fim do ano - as próximas produções estão com elenco fechado -, quero me dedicar ao teatro", avisou ele, que se prepara para estrear o espetáculo 39 Degraus, ao lado do ator Fábio Assunção.

Quando você entrou em Tempos Modernos, a novela já passava por transformações em função da audiência baixa. Você se sentiu pressionado em função disso?
É verdade que o público estranhou um pouco a história e houve uma mexida na trama, mas ninguém falou comigo sobre qualquer expectativa. O elenco de Tempos Modernos é muito bom, mas a novela estreou em período complicado, na segunda semana do ano, e substituiu outra que foi esticada quase três meses. Entrei tranquilo e não senti qualquer pressão, nem o dever de mudar nada. Entrei para formar aquele triângulo amoroso e, como em todos os meus trabalhos, fazer o melhor para dar certo.

Você interpreta um astronauta. Onde buscou referências para compor esse personagem?
Fiz um pouco do workshop da novela enquanto finalizava Caminho das Índias. Depois, enquanto estava em cartaz com a peça Vergonha dos Pés, pesquisei sobre astronautas, astronomia, universo, astrônomos... Enfim, corri atrás de filmes e livros com esse tema para entender um pouco mais sobre o assunto. E fiquei na expectativa para começar a gravar. Lia todos os capítulos e assistia à novela. Até passava no Projac de vez em quando para encontrar o pessoal.

Só existe um astronauta brasileiro, o tenente coronel Marcos Pontes. Interpretar um profissional tão raro fez você ter medo de não convencer nesse papel?
Pois é. Só temos uma referência de astronauta brasileiro. Mas achei muito divertido interpretar o Renato exatamente por isso. É algo completamente diferente do que eu imaginava fazer. Ainda mais depois de Caminho das Índias. Brinco que fui da Índia para a lua. A ideia do Bosco Brasil - de mostrar o universo dos astrônomos e de um astronauta em uma novela - me impressionou.

Mas esse universo não foi muito explorado em Tempos Modernos...
É, acabou se perdendo um pouco. Eu mesmo esperava que aparecessem mais informações sobre isso, que discutíssemos algumas questões científicas e tecnológicas. Mas novela é assim mesmo. Hoje existem grupos de discussão que mudam uma história inteira. Se Tempos Modernos tivesse sido feita há 20 anos, seria outra coisa. Não teriam mudado nada.

Você trabalha na TV desde a década de 80. É muito diferente fazer novela hoje do que era antes?
Eu vivi essas mudanças. Antigamente, a gente terminava uma novela com uns 15, 20 dias de antecedência. Hoje, gravamos o último capítulo no dia em que ele vai ser exibido. O público acaba decidindo muita coisa. Tudo pode acontecer de acordo com as reações das pessoas. Não sei avaliar se isso é bom ou ruim. Acho que tem os dois lados.

No caso de Tempos Modernos, você sente uma torcida para que os mocinhos não fiquem juntos no fim e o Renato termine com a Nelinha?
Sim, existe uma torcida pelo Renato. Muitos dizem que ele e a Nelinha formam um casal lindo, fofo, que eles têm de ficar juntos. Mas não sei o que vai acontecer. É complicado separar os mocinhos no final. Se bem que o Renato não é um vilão ali, então não seria incoerente.

Mesmo entrando no capítulo 60, você enxerga o Renato como um dos personagens principais da novela?
O Renato não era um protagonista, mas acho que ele acabou conquistando um peso grande na novela. Foi uma surpresa boa, porque quando aceitei o convite não sabia como seria esse papel. Com o passar do tempo, ele cresceu, ficou mesmo com a mocinha, ganhou a torcida de parte do público. Eu não tenho motivos para reclamar de Tempos Modernos, acho o saldo mais que positivo.

Você emagreceu para fazer o Renato. Foi proposital ou uma recomendação da direção?
Nem uma coisa, nem outra. Na verdade, como eu engordei para Caminho das Índias, quis dar uma segurada quando a novela acabou. Hoje em dia, tudo é estética. Existem na TV muitos corpos sarados, todo mundo está sempre magro. E, quando eu estava nos workshops para compor o Amithab, me vi cercado por atores galãs. Como ele era o braço direito do pai e o filho mais velho, quis deixá-lo parecido com o Opash, personagem do Tony Ramos. Foi um personagem diferente de todos que já me deram. Sempre fiz os bonzinhos e ali eu estava com a cara amarrada. Isso me fez querer causar um estranhamento.

Você começou a carreira com seu irmão, mas os dois seguiram caminhos bem diferentes: você se tornou um galã da TV, enquanto ele ganhou prestígio através do cinema. Como você analisa duas trajetórias tão distintas?
Não penso nisso. Até porque já aconteceu. Nossas carreiras realmente seguiram rumos diferentes, mas nós dois somos atores realizados. Cada um tem sua história. E temos muita admiração um pelo outro. São duas trajetórias bonitas, cada uma do seu jeito. Me arrependo de não ter trabalhado mais com ele, mas não foi algo planejado. A gente até pensa em muitas coisas, mas as agendas não batem e os planos são sempre adiados. Vamos nos encontrar de novo em algum momento.

Você completa 30 anos de carreira em 2010. O que ainda espera da profissão?
É verdade. Tem gente que se aposenta depois de 30 anos de trabalho, acho que já poderia dar entrada no meu pedido (risos). Eu sou um homem muito simples. Amo o que faço e a única coisa que desejo é estar envolvido em projetos bacanas. Na TV, no teatro e no cinema. E, claro, crescer cada vez mais como ator. Não existe essa coisa de se cansar porque a gente sempre acaba descobrindo coisas novas, papéis legais para fazer. Então, se você perguntar o que eu quero, a resposta é continuar trabalhando.

Tempos Modernos - Globo - Segunda a sábado, às 19h15.

Na garupa do irmão
Danton começou a trabalhar aos 5 anos, pegando carona na veia artística do irmão Selton, que já começava a aparecer. Garantiu alguns comerciais, mas a carreira na TV só começou a surgir quando, ao frequentar os corredores da Globo enquanto Selton gravava Corpo a Corpo, foi convidado para integrar o elenco de A Gata Comeu, sua primeira novela. E fez sucesso como o travesso Cuca, filho do mocinho Fábio, de Nuno Leal Maia. A partir daí, passou a marcar presença constantemente na TV, passando inclusive por outras emissoras. "Minha motivação sempre foi o trabalho, não a fama. Se o papel é bom e a oportunidade merece uma chance, eu dou", argumentou.

Mas nem sempre suas expectativas se confirmaram. Disposto a interpretar um vilão, Danton assinou com o SBT em 2003 para encarnar o malvado Eduardo em Jamais Te Esquecerei. Mas não foi bem isso que aconteceu com o passar dos capítulos. A emissora constatou que o público preferia vê-lo regenerado e Danton inverteu o jogo, passando a ganhar ares de mocinho na história. "No final, deu certo. E eu adoro fazer o mocinho também. Não fiquei com traumas dessa experiência", garantiu ele, que conseguiu fugir do estigma de bom moço em Caminho das Índias, como o rígido Amithab.

Pessoa comum
Avesso aos flashes e badalações, Danton acha que conseguiu, ao longo de 30 anos de carreira - o ator começou a trabalhar em comerciais e aparições rápidas em programas de TV em 1980 - impor certo respeito. Por isso mesmo deixa claro que não se incomoda com a exposição. "Comecei criança, convivendo com grandes atores que vieram do teatro para a televisão. Vi a internet transformando os artistas em celebridade", apontou. E faz questão de deixar claro que não tem a menor intenção de aparecer na mídia, ao contrário de várias pessoas que trabalham no meio artístico. "Não tenho assessor de imprensa nem fico mandando notas para colunistas. Quem quer falar comigo, liga direto no meu telefone e me procura", atestou.

Trajetória televisiva
# A Gata Comeu (Globo, 1985) - Cuca.
# Novo Amor (Manchete, 1986) - Adriano.
# Mandala (Globo, 1987) - Gerson.
# Vale Tudo (Globo, 1988) - Bruno.
# Tieta (Globo, 1989) - Peto.
# Despedida de Solteiro (Globo, 1992) - Rafa.
# Família Brasil (Manchete, 1993) - Grilo.
# Guerra sem Fim (Manchete, 1993) - Castigo-de-Mãe.
# A Viagem (Globo, 1994) - Johnny.
# Malhação (Globo, 1995/1996) - Péricles.
# Dona Anja (SBT, 1996) - Bruno Caçapa.
# Hilda Furacão (Globo, 1998) - Roberto Drummond.
# Torre de Babel (Globo, 1998) - Adriano.
# Globo Ecologia (Globo, 1998) - Apresentador.
# Terra Nostra (Globo, 1999) - Bruno.
# Jamais te Esquecerei (SBT, 2003) - Eduardo.
# Cabocla (Globo, 2004) - Neco.
# Sinhá Moça (Globo, 2006) - Rodolfo.
# Caminho das Índias (Globo, 2009) - Amithab Ananda.
# Tempos Modernos (Globo, 2010) - Renato Vieira.

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