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Notícias / Educação

Diferenças entre famílias revelam extremos da desigualdade no DF

G1

Duas famílias das localidades de Águas Claras e Cidade Estrutural, entrevistadas pelo G1, simbolizam os dois extremos da desigualdade de renda do Distrito Federal, apontada em estudo do Instituto Brasileiro de Pesquisas Econômicas (Ipea) como a maior do país.

De acordo com o estudo, divulgado nesta terça, de 1995 a 2008, somente o Distrito Federal registrou piora na desigualdade de renda em comparação com as demais unidades da federação.

Ipea destaca desigualdade social do DF nos 50 anos de Brasília Prosperidade

Funcionário público federal, Marcelo Pereira, 46 anos, está na ponta da escala da melhoria de vida nos anos avaliados pela pesquisa.

De 2005 a 2010, ele e a família deixaram o apartamento de 78 metros quadrados em que viviam em Taguatinga para um outro com o dobro do tamanho.

A família de quatro pessoas mora agora em um apartamento de 170 metros quadrados, com quatro quartos. O imóvel, avaliado em R$ 400 mil, já está quitado. A esposa de Pereira, Kátia, não trabalha, e estuda Direito em uma universidade privada de Brasília. Os dois filhos, de 4 e 10 anos, estudam em escolas privadas.

Na análise de Pereira, as oportunidades oferecidas em Brasília para quem tem estudo são as responsáveis pela melhora financeira.

“Brasília tem muitas oportunidades de concursos públicos. Muitas pessoas vêm de outros estados para isso. Eu mesmo vim de Santa Catarina e me formei aqui. Os salários oferecidos aqui são maiores e nos dão condições de viver de uma forma melhor. Tanto que estamos sempre querendo melhorar mais ainda”, conta Pereira, graduado em duas faculdades pela Universidade de Brasília (UNB).

As melhorias almejadas pela família Pereira não pararam na compra do imóvel. A reforma do apartamento de Águas Claras, uma região que sofre forte expansão imobiliária, com centenas de edifícios em construção, já está em fase final. Ao mesmo tempo, a família prepara para agosto a próxima viagem de férias, para os Estados Unidos. Pereira e a esposa sonham que os filhos vivam em condições financeiras ainda melhores.

“ Queremos que eles [filhos] estejam muito bem preparados para o futuro profissional. Boa parte do que ganhamos investimos neles”, conta Kátia.

Escassez


No outro extremo da desigualdade de renda no Distrito Federal está a desempregada Geralda Dias da Silva, 52 anos. Mãe de seis filhos, ela chegou a Brasília vinda da Paraíba em 1990. Só conseguiu espaço para erguer o barraco na Cidade Estrutural, uma das localidades mais pobres do Distrito Federal.

Por anos, trabalhou como catadora de material reciclado, junto com o marido. Conseguiram substituir os papelões do barraco por tijolos. Os filhos estudaram, mas não chegaram à faculdade. Com o passar dos anos, Geralda e o marido ficaram doentes e atualmente dependem dos filhos para viver.

“Tenho dificuldades financeiras. Hoje gastamos em média R$ 400 por mês. São os filhos que nos mantêm. Por sorte, meus filhos estão casados, têm trabalho e podem ajudar. Teve um tempo que era melhor. A gente podia comprar mais coisas. Agora, tivemos de reduzir até as verduras e frutas, que são mais caras", lamenta a dona-de-casa.

Da Cidade Estrutural, Geralda sai poucas vezes por ano. Vai ao Plano Piloto, no centro de Brasília, apenas quando precisa de consulta médica. Mas reclama do preço da passagem do transporte público, entre R$ 1,50 e R$ 3. Os custos com transporte, assim como alimentos, estão entre as principais queixas da desempregada.

Ela diz lamentar a desigualdade de renda tão grande no Distrito Federal. “Nós, pobres, deveríamos ser vistos com outros olhos. Nós, que geralmente trabalhamos para colocar a comida na mesa dos ricos. Se tivéssemos ao menos metade da estrutura que é dada no Plano Piloto seria muito melhor. Eu talvez não tivesse o esgoto aberto na frente da minha casa. Teria melhores condições para viver“, lamenta a desempregada.

O Ipea projeta que, em 2016, o país terá superado a miséria (pobreza extrema) e reduzido a 4% a taxa nacional de pobreza absoluta.
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