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Contra financiamentos, consórcios de carros miram as classes C e D

Auto Esporte

As classes C e D se tornaram os principais alvos de consórcios de carros na tentativa de recuperar o público perdido para os financiamentos, que passaram a oferecer juros mais baixos, prazos mais longos e aprovação mais fácil. De acordo com levantamento da Associação Brasileira das Administradoras de Consórcio (Abac), as famílias com renda mensal entre R$ 768 e R$ 4.807 representavam 15% dos cotistas no segmento em 2009. As classes A e B dominam.

Em termos de participação no mercado de automóveis, os consórcios possuem atualmente uma fatia pequena, de 8,42%, segundo a Abac. Mas as empresas veem potencial para crescer junto às classes menos favorecidas. “Com a estabilidade da economia e do emprego, a população assume mais riscos para planejamento de longo e médio prazo”, destaca Paulo Rossi, presidente da associação.

Décadas atrás, poucos brasileiros de classe média ousavam entrar em uma concessionária sem ter o dinheiro para pagar o carro à vista. Financiamento era 'luxo': os bancos não se interessavam em emprestar e cobravam altas taxas de juro. Os consumidores enfrentavam ainda a inflação alta e insegurança no emprego. Naquele cenário, o consórcio era a opção mais segura.

Com a estabilidade econômica, no entanto, veio o “boom” de financiamentos em diversas modalidades, para todos os bolsos. Os consórcios, então, passaram a visar não só quem queira adquirir o primeiro carro, mas os que desejam ter um automóvel cada vez mais equipado e de nível superior.

Também para quem já tem carro
“A gente busca sensibilizar as classes C e D para, quando passar a febre do consumo imediato, esses consumidores identifiquem no consórcio a possibilidade de adquirir outros bens em substituição daquele que adquiriram anteriormente”, afirma o presidente da Abac. “Se a pessoa já tem esse automóvel usado, ela pode usar o veículo e mais a carta de crédito para comprar um modelo de maior valor.”

Nessa modalidade, o cliente pode levar até dois anos para sair com o carro. O consórcio é a união de pessoas físicas ou jurídicas em um grupo fechado com o objetivo de formar uma poupança comum para aquisição de bens. Cada cotista deve colaborar com uma parcela mensal. A pessoa só terá acesso ao dinheiro que lhe cabe se for sorteada ou se oferecer um lance. Por esse motivo, é considerado um investimento em longo prazo.

Para conseguir “driblar” a demora, administradoras querem oferecer o consórcio como uma “programação de troca” ao cliente que já comprou o automóvel, mas pretende mudar de veículo em médio prazo.

"Quatro portas"
A operadora de corte e solda Suenen Severa faz parte do perfil que as administradoras de consórcio querem atingir. A necessidade de comprar um carro surgiu por causa dos dois filhos, mas a sua renda não permitia entrar em um financiamento. “Peguei um plano de 80 parcelas. Depois de dez, fui sorteada. Então, dei um lance e o valor das parcelas diminuiu”, conta. Após a contemplação, ela retirou o veículo em duas semanas. “Era o carro que eu tinha em mente, quatro portas.”

Apesar de o consórcio não cobrar juros, apenas a taxa de administração, e de não permitir que a pessoa saque o dinheiro antes do sorteio — a grande diferença em relação a uma poupança — a prática divide opiniões. Para o coordenador do MBA em gestão de negócios automotivos da Fundação Getúlio Vargas e ex-presidente da Ford do Brasil, Luis Carlos Mello, a modalidade financeira é uma alternativa que perde vantagem devido à farta disponibilidade de crédito no setor automobilístico.

“Hoje há uma série de produtos financeiros à disposição de quem quer comprar um veículo, até mesmo a poupança da aposentadoria privada”, analisa Mello, que não acredita em tendência de crescimento forte do setor.

Para "juntar dinheiro"
O policial militar Johnney Stael optou pelo consórcio como uma forma de aplicar o que sobrava da renda todo fim de mês. “Não tinha interesse de pegar o bem, já tinha carro. Queria juntar o dinheiro”, afirma.

O que ele não esperava era ser contemplado tão cedo. Em três meses, foi sorteado. Como a cota pela qual optou era baixa, o dinheiro não era suficiente para comprar um carro novo superior ao que tinha, sem ter de vender o automóvel antigo. Então, ele preferiu vender o crédito. “No fim, foi um bom negócio. As taxas de administração são baixas. Vale mais a pena do que pagar juro”, opina.

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