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Dois meses após a enxurrada, Palmares está sufocada pela poeira

G1

Quando as águas do Rio Una subiram, milhares de casas, lojas e sobrados ficaram submersos em Palmares, município de 58 mil habitantes a 128 quilômetros da capital de Pernambuco, Recife. Quando as águas baixaram, as mesmas casas, lojas e sobrados estavam cobertos por uma espessa camada de lodo e entulho deixada pelo rio. O comércio parou. Igrejas, prédios públicos e ruas inteiras tiveram de ser escavadas para voltarem a ser transitáveis.

Dois meses após a enxurrada ter tragado praticamente toda a área central de Palmares, o G1 percorreu nesta sexta-feira (2) as ruas e construções tomadas pela poeira que a lama seca agora provoca. Um “cenário angustiante”, como o locutor da rádio local define, aos berros, quando critica a lentidão do poder público. O ar é tão poluído que moradores usam máscaras para respirar.

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Candidatos ao governo propõem ações para reconstruir cidades em PE Dois meses após enchente, Palmares, em PE, ainda retira lodo das ruas Nas ruas, uma em cada três lojas está fechada ou em reforma. A marca da água barrenta impressiona pela altura que chegou nas construções. Da lama que sobrou sobre o telhado das casas mais baixas, agora brotam plantas que lembram jardins suspensos.

Na Secretaria Municipal de Educação havia uma fonte de água cristalina que, após a enxurrada, ficou entupida e coberta por um líquido cinza chumbo. Os arquivos ainda estão nas prateleiras, imprestáveis, e o trabalho dos funcionários da prefeitura na limpeza do local parece que irá demorar dias.

Situação pior que a da secretaria, só a do Hospital Regional Sílvio Guimarães, o maior de Palmares, que foi completamente destruído. Os corredores e alas que um dia salvaram vidas, agora cheiram a lama podre. Aparelhos de ar-condicionado, a mesa onde eram feitos os exames de raio-x, e muitos colchões que antes serviam de leitos ainda estão no prédio. Vidros com reagentes laboratoriais também permanecem nas bancadas.

Sem saber como proceder para retirar toneladas de lodo da construção, a prefeitura já encontrou um novo local, em uma área mais alta, onde o governo estadual irá construir um novo hospital. Do velho Sílvio Guimarães talvez seja construída uma escola de medicina, ninguém sabe. “Ninguém sabe o que fazer com isso aqui. Limpar é mais caro que demolir”, afirma um funcionário da prefeitura que pede para não ter o nome citado.

Quem viaja de carro pela BR-101 até Palmares, enfrenta um teste de paciência nos engarrafamentos provocados pelas obras de alargamento da pista, interrompida por pequenos deslizamentos. Logo na chegada ao município, as margens do Rio Una apresentam um cenário de destruição sem precedentes na história da cidade. A principal ponte que fazia a ligação entre o centro e a BR-101 desapareceu na correnteza e as obras de reconstrução estão aceleradas.

No centro de Palmares, onde antes havia uma praça uma cratera se abriu engolindo uma carreta inteira nos dias de chuva. Prédios demolidos contrastam com o vigor da igreja presbiteriana do Brasil, que permaneceu de pé.

A exemplo de outras cidades castigadas pela enxurrada, acampamentos com barracas fornecidas pelo governo estadual servem de abrigo a quem tudo perdeu. Um movimento popular denominado “O povo unido pela reconstrução de Palmares” ganha corpo para tentar pressionar o poder público. O rotina da reconstrução é dura, mas ninguém parece querer desistir.
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