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Pelo menos 10 pessoas dizem que foram atendidas por falso médico

G1

Pelo menos 10 pessoas já prestaram depoimento acusando de negligência médicos do Hospital de Clínicas de Belford Roxo, na Baixada Fluminense, onde um suposto falso médico foi preso e indiciado por homicídio doloso, de acordo com a polícia.

O G1 tentou entrar em contato com o hospital, mas ninguém foi localizado para comentar o assunto.

Na tarde desta quarta-feira (8), outras testemunhas, que já possuem processos na Justiça contra a clínica, estiveram na 54ª DP (Belford Roxo). Acompanhada do marido e dos pais, uma adolescente contou que foi atendida no hospital no dia 13 de junho para ter seu filho. Ele morreu dois meses depois.

“Fui internada ao meio-dia e tive meu filho às 21h30. A criança nasceu chorando muito e só depois descobriram que ele estava com o braço fraturado. Isso só pode ter sido provocado pela força que fizeram durante o parto. Meu filho ficou durante dois meses gritando de dor até morrer de insuficiência respiratória”, disse a jovem de 16 anos, mostrando fotos do bebê e o atestado de óbito. A criança morreu no Hospital Pedro Ernesto, em Vila Isabel, na Zona Norte, onde foi internada pela última vez.

Outra que prestou queixa contra o hospital foi Cleonice Ribeiro, 38 anos, que foi atendida no dia 22 de agosto de 2008, quando teve seu filho que hoje tem 2 anos. Segundo ela, a criança apresenta sequelas provenientes do parto.

“Eu ainda não estava em trabalho de parto, mas fui induzida pela médica que me atendeu. O médico que fez o meu encaminhamento usou um carimbo de outro profissional. Eu e meu filho ficamos internados durante 12 dias e depois deram alta como se nada tivesse acontecido. Mas levei o bebê para ser examinado em outra clínica e constataram uma lesão cerebral. Ele não anda e nem consegue sentar. Carrego uma dor muito grande”, conta ela, que move uma ação pela Defensoria Pública no Fórum de Belford Roxo.

Polícia investiga outros cinco médicos
A polícia investiga pelo menos outros cinco médicos do hospital, segundo o delegado Fábio Cardoso, da Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Saúde Pública, que montou uma operação para investigar esse tipo de crime em hospitais no Rio de Janeiro. O responsável pelo hospital, segundo o delegado, foi intimado por uma equipe da delegacia nesta quarta-feira (8). Ele deverá ser ouvido na próxima segunda-feira (13).

O suposto falso médico e também o responsável pela unidade foram indiciados, de acordo com o delegado adjunto da 54ª DP (Belford Roxo), Antônio Silvino Teixeira. A delegacia apura a morte de pelo menos três bebês e uma gestante durante partos realizados pelo suposto falso médico.

Preso no domingo, (5), o universitário que atuava como obstetra é acusado de homicídio doloso e exercício ilegal da medicina. Ele pode pegar até 20 anos de prisão. Já o suposto dono da clínica vai responder por coautoria no homicídio doloso e também fraude processual.

O estudante flagrado pela polícia negou as acusações e disse que fazia apenas um estágio na unidade de saúde. Os outros cinco médicos devem ser ouvidos na próxima semana.

“A delegacia vem investigando isso há uns 15 dias. Depois do caso da Joanna, houve um aumento das denúncias e nós resolvemos mapear alguns hospitais acusados de adotarem essa prática criminosa”, afirmou Cardoso. Ele disse ainda que nos últimos 12 meses cerca de 15 falsos médicos foram presos.

Segundo o delegado, no dia da operação que prendeu o estudante de medicina foram apreendidas fichas com sinais de falsificação de assinaturas desses cinco médicos. O material será analisado pela perícia.

Na 54ª DP (Belford Roxo) há outra investigação especificamente sobre as vítimas das unidades do hospital. De acordo com o delegado-adjunto, Antônio Silvino Teixeira, quando havia uma vítima fatal na cirurgia o dono da clínica assinava o atestado de óbito para preservar o estudante, que usava carimbo e até receitava medicamentos para pacientes.“Ele (responsável pelo hospital) procurava encobrir tudo o que o outro (estudante) fazia”, afirmou o delegado.

O caso também será levado à Vigilância Sanitária e ao Conselho Regional de Medicina (Cremerj).

Preso em flagrante
No consultório onde ele foi preso em flagrante, a polícia encontrou receitas em branco assinadas e carimbadas por médicas, com registro. Muitas delas para remédios com venda controlada.

Segundo a polícia, o estudante de medicina recebia R$ 700 por mês para fazer quatro plantões.

Quando a polícia chegou ao local, um colombiano que também estaria se passando por médico fugiu pela porta dos fundos.

O hospital tem um centro cirúrgico e uma maternidade. De acordo com a polícia, no domingo (5), os únicos plantonistas eram os supostos falsos médicos. A mãe de uma gestante, que perdeu o bebê durante o parto, contou que a filha recebeu alta e voltou para o hospital com fortes dores.

O hospital faz atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS), e também, segundo o inquérito, atende gratuitamente alguns pacientes fora do SUS.

No local, a polícia encontrou ainda propaganda eleitoral de um candidato a deputado estadual, que seria irmão do dono do hospital. Por causa da suspeita de crime eleitoral, a delegacia vai encaminhar cópia da investigação ao TRE.

Menina de 5 anos foi atendida por outro falso médico



Joanna morreu após ficar em coma
(Foto: Marcelo Carnaval/Agência O Globo)A prisão do falso médico da Baixada aconteceu mais de 20 dias após a morte da menina Joanna Cardoso Martins, de 5 anos, que ficou quase um mês em coma.

A menina foi atendida no Hospital Rio Mar, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste da cidade e foi liberada desacordada por um falso médico, estudante de medicina. Joanna foi internada depois em um hospital em Botafogo, na Zona Sul da cidade.

Na sexta-feira (3), o Ministério Público do Rio denunciou o estudante que liberou Joanna por exercício ilegal da Medicina, com resultado morte, estelionato, falsificação e uso de documentos e tráfico ilícito de entorpecentes.

Já a pediatra que o contratou foi denunciada por homicídio doloso e pode pegar até 20 anos de prisão. A médica está presa desde o dia 14 de agosto, e nega as acusações.
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