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RS: caso do sargento araponga dá início a nova crise política

Terra

A menos de 30 dias do primeiro turno das eleições, o caso do sargento César Rodrigues de Carvalho tem todos os ingredientes para se transformar em uma nova crise política no Rio Grande do Sul. Preso na última sexta-feira (3), ele era lotado na Casa Militar do Palácio Piratini (sede do governo) e acessava dados sigilosos de políticos, seus familiares (inclusive crianças), autoridades, servidores, advogados, jornalistas e ainda do diretório estadual do PT gaúcho. Além da prisão de Rodrigues, o Ministério Público investiga a participação no caso de assessores diretos da governadora Yeda Crusius (PSDB), candidata à reeleição.

Nesta quarta-feira (8), o secretário-geral do PT gaúcho e coordenador da campanha do petista Tarso Genro (PT) ao governo, Carlos Pestana, foi a Brasília para fazer um relato à direção nacional do partido sobre o caso. Além do diretório petista, entre os que tiveram os dados acessados estão o próprio Genro, a deputada estadual do PT Stela Farias e o ex-chefe da Casa Civil durante a gestão de Olívio Dutra, Flávio Koutzii. O PT vai contratar um advogado e, até sexta-feira (10), pedir acesso às investigações.

A seccional gaúcha da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/RS) também deve pedir acesso à investigação. Conforme o presidente da OAB/RS, Cláudio Lamachia, entre janeiro e agosto de 2010, o número de consultas feitas por meio do sistema Consultas Integradas, da Secretaria da Segurança Pública, ultrapassou os cinco milhões. Foi por meio do Consultas Integradas - também conhecido como sistema Guardião - que o sargento acessou os dados sigilosos.

A senha de que ele dispunha (uma senha máster) - e por meio da qual foram feitos mais de 10 mil acessos entre janeiro do ano passado e agosto deste ano - permitia, além do acesso a informações particulares, consultar se a pessoa em questão era alvo de alguma investigação. Foi para esta segunda finalidade que o sargento fez consultas sobre três assessores de Yeda - seu ex-chefe de gabinete, Ricardo Lied, que agora trabalha na campanha, a jornalista Sandra Terra e a assessora Walna Meneses.

Matéria publicada no jornal Zero Hora desta quarta-feira traz um trecho do pedido de prisão preventiva do sargento. No trecho, há questionamentos do MP. "Ora, o que pode ligar um sargento às duas assessoras diretas da Governadora? Por qual motivo Rodrigues é tão protegido pelo alto escalão do governo?"

Em diferentes ocasiões, o promotor de Justiça Criminal do MP em Canoas, Amilcar Macedo, que coordena as investigações, já havia revelado que dois civis ligados ao governo do Estado também estão sob investigação. Ao sargento Rodrigues, o Ministério Público chegou por meio de uma denúncia de que ele extorquia grupos de contraventores na região Metropolitana de Porto Alegre. Agora, o MP investiga se ele poderia ser uma espécie de elo de ligação entre contraventores e políticos.

Em entrevista coletiva na tarde desta quarta-feira, representando a bancada do PT na Assembleia Legislativa, os deputados Raul Pont (que preside o diretório estadual) e Stela Farias afirmaram que existem fortes indícios de que o esquema tenha sido arquitetado por integrantes da cúpula do governo estadual. "Tudo leva a crer que a ação do sargento contava com o conhecimento do centro de governo e era acobertado por integrantes da Casa Militar", afirmou a deputada Stela. Segundo divulgado pelos parlamentares, os acessos às informações de alguns dos petistas aconteceram em outubro do ano passado, quando ocorriam as investigações da CPI da Corrupção. A CPI, presidida por Stela, investigava denúncias de irregularidades no governo.

Os deputados do PT vão requerer que o colégio de líderes da Assembleia exija esclarecimentos do governo e que o Executivo informe quem liberou a senha máster para o sargento. A bancada vai solicitar ao MP a transferência da custódia do sargento da Brigada Militar para a Polícia Federal, sob o argumento de que é preciso garantia total a sua integridade. O sargento deveria depor nesta quarta-feira ao MP, mas, conforme informou seu advogado, Adriano Pereira, o depoimento foi cancelado e deve ocorrer até a sexta-feira.
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