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Mais de 150 galos são apreendidos pela polícia em rinha em Cuiabá

Da Redação - Jardel Arruda

Mais de 150 galos foram apreendidos pela Polícia Federal em um ‘clube’ de briga de galo, atividade comumente chamada de ‘rinha’, em Cuiabá, na tarde desta sexta-feira (10). Curiosamente, a ‘Sociedade de Avicultura Nova Geração’ possui uma liminar do Supremo Tribunal Federal (STF) garantindo a legalidade do ‘esporte’ sangrento, desde que, no entanto, não hajam ‘excessos’.

“Não existe ilegalidade em relação à existência da ‘rinha de galo’ no território nacional. Os maus tratos e contravenções penais se aplicam a todos eles, inclusive no que pertinente à rinha de galo, somente no que se refere aos excessos’, diz trecho da liminar, concedida pelo ministro Castro Meira em 21 de agosto de 2008.

O problema é descobrir quando é que pode-se considerar ‘excesso’ os ferimentos sofridos pelos galos durante uma briga. Para decidir sobre a apreensão, o delegado da Polícia Federal Rodrigo Bartolamei, baseou-se no fato de os animais agonizantes serem ‘descartados’. Prova disso são os vários ‘corpos’ de aves encontrados no interior do ‘clube’. “Se isso não for excesso, não sei o que é”, questionou.

Não bastasse a autorização judicial para a existência da rinha, outro obstáculo complicou a vida dos agentes federais: nem a Polícia Federal, nem o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais) possuem uma estrutura adequada para manter os animais. A solução foi tornar o presidente da Sociedade de Avicultura Nova Geração, Wilson Oldenus de Pinho, ‘fiel depositário’ das aves.

Dessa forma, os galos, apesar de aprendidos, continuam dentro dos perímetros do ‘clube’, podendo, a qualquer instante, serem utilizados nas rinhas.

A batida

No inicio da noite de quinta-feira (9), o delegado Rodrigo Bartolamei recebeu uma denúncia de que estava acontecendo uma rinha de galo em um ‘clube’ ao lado do motel Absynto, em uma rua perpendicular à Avenida Fernando Corrêa. Ao chegar no local, o agente federal constatou a situação, mas ao autuar as mais de 150 pessoas presentes ele foi surpreendido pelo presidente da sociedade com a liminar do STF que, segundo o presidente da sociedade, permite o funcionamento da rinha.

A decisão defende a ‘rinha de galo’ como parte da cultura mato-grossense e lembra da inexistência de leis que proíbam sua realização. Entretanto, ressalva para o fato dos maus tratos, em excessos, serem passíveis de punição, conforme manda o código penal.

Nesta sexta-feira, o delegado voltou ao local acompanhado pelo Ibama. Vários carros de luxo estavam estacionados em frente ao ‘clube’. Um ‘campeonato nacional’ estava acontecendo, com a presença clientes estrangeiros.

Além dos galos, foram apreendidas ‘biqueiras’ metálicas e esporas de plástico - materiais utilizados como armas pelas aves durante o combate. Tesouras, agulhas de costura e outros equipamentos veterinários para cuidar dos animais feridos também foram apreendidos. Por fim, anabolizantes e reidratantes animais, a maioria de origem estrangeira, foram encontrados.

O clube

O clube de rinha ‘Cuiabá na Briga’ funciona naquele mesmo local há mais de 30 anos, conforme apurou o Olhar Direto. Em várias ocasiões houveram batidas policiais, operações e a interrupção temporária em função dos maus tratos aos animais. Em 2008, a Sociedade de Avicultura Nova Geração obteve uma vitória no STF e conseguiu uma liminar para assegurar o funcionamento do clube.

No local, existem três ‘arenas’ para os combates. Uma principal e duas auxiliares. A arena principal é cercada por uma arquibancada circular dividida em três níveis: vermelho, azul e laranja. Em cada nível ficam uma série de cadeiras com os respectivos nomes dos ‘donos’ dos assentos cativos. Painéis, quadros e placares com os resultados das lutas e pontuações ficam espalhados pelas paredes do local.

Também existe toda uma estrutura para acolher os galos dos sócios do clube e dos visitantes. As gaiolas possuem identificação do dono e o estado ou país de origem. Em média, um galo de briga custa R$ 10 mil. Entretanto, alguns podem ser muito mais valorizados, chegando a valer até R$ 100 mil. As apostas nas mesas são feitas com fichas compradas no caixa do local.

Os vários carros luxuosos estacionados em frente ao ‘clube’ revelam que o poder aquisitivo dos frequentadores é alto. Dentre os que falam algo para a imprensa, boatos de procuradores, vereadores, prefeitos e até mesmo juízes envolvidos na prática da briga de galo. Segundo o delegado Rodrigo Bartolamei, as investigações ainda estão em fase embrionária e é cedo para citar qualquer envolvido e, como diz a liminar, a rinha não é proibida, mas sim os maus tratos aos animais.
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