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Nova Montana aposta no custo/benefício

Terra

A Chevrolet disse que o Agile não mataria o Corsa, já que o modelo desenvolvido no Brasil atenderia a um público diferente. E foi o que aconteceu. O mesmo julgamento, porém, não valeu para a Montana. A nova geração da picape, que chega às concessionárias da marca no próximo mês, aposenta a antiga. Com isso, sete anos depois de ter estreado no Brasil, a Montana anterior cede lugar à nova sem ter passado sequer por uma reestilização. É um caso curioso em um mercado que vê alguns modelos (principalmente os compactos) receberem pequenas mudanças a cada dois ou três anos para renovarem seu poder de atração.

Parte fundamental da estratégia da Chevrolet de renovar toda linha de produtos até 2012, a picape baseada no Agile é equipada com o mesmo motor 1.4 8V flex do hatch – o propulsor desenvolve 102 cv a 6.000 rpm e 13,5 kgfm a 3.200 rpm com etanol e 97 cv e 13,2 kgfm nas mesmas rotações com gasolina. Os preços partem de R$ 31.900 na versão de entrada (LS) e chegam a R$ 44.040 na top de linha (Sport).

Apesar de ter uma frente que lembra imediatamente o hatch, com a grande grade dianteira dividida pelo logo da marca e dois faróis nada discretos, uma olhada mais atenciosa na nova Montana revelará um para-choque pronunciado. Juntando isso às linhas naturalmente mais agressivas de uma picape compacta, o desenho final entregue pelo Centro de Desenvolvimento da Chevrolet no Brasil conseguiu mais harmonia entre frente e traseira que no próprio Agile.

Falando na traseira, a nova Montana eliminou um dos maiores defeitos da antiga: a visibilidade limitada pela altura da caçamba. “Até projetamos a tampa da caçamba mais baixa para melhorar a visibilidade”, explica Carlos Barba, chefe de design da Chevrolet do Brasil.

E se o assunto é a tampa, mais uma vez é preciso retomar a comparação entre as duas gerações da Montana, mas desta vez para mostrar que a nova perdeu uma conveniência da antiga: a peça não pode mais ser removida, o que limita o transporte, por exemplo, de uma moto grande. “Fizemos pesquisas com o público da Montana e decidimos que, dentro das capacidades financeiras do projeto, seria melhor investir em tecnologias como controlador de velocidade de cruzeiro e Bluetooth do que a tampa removível”, justifica Carlos Barba.

Side Step e Max Cab

Os termos são complicados, mas a explicação é simples: o primeiro é o espaço na lateral da caçamba para apoiar o pé na hora de carregar ou descarregar a picape. O segundo faz referência ao tipo de cabine da Montana, que fica em um meio termo entre uma simples e uma estendida. São duas heranças interessantes da geração anterior que continuam na nova.

Com isso, a picape consegue oferecer 164 litros de espaço atrás dos bancos sem abrir mão de uma boa caçamba – são 1.100 litros de espaço no compartimento de carga e capacidade para transportar 758 kg sobre a suspensão traseira com eixo de torção e molas helicoidais. A Peugeot Hoggar bate a Chevrolet na litragem (1.151), mas perde no peso (742 kg). A Fiat Strada carrega os mesmos 1.100 litros, mas 53 kg a menos (705 kg). A Volkswagen Saveiro, “lanterninha” entre as picapes compactas, tem capacidade para 924 litros e 715 kg.

Mais barata que Strada e Saveiro, mais cara que Hoggar

A Chevrolet aposta no custo/benefício da Montana como um dos principais atrativos do modelo. A versão LS, que parte de R$ 31.990, traz banco do motorista com regulagem de altura e para-choques pintados na cor do carro. O pacote seguinte eleva o preço para R$ 34.435 e agrega direção hidráulica e computador de bordo, enquanto uma terceira opção, de R$ 37.653, traz rodas de aço de 15” e ar-condicionado com display digital. A Montana LS mais completa chega a R$ 39.933 e oferece alarme, vidros e travas elétricas, ABS e airbag duplo em conjunto com os itens anteriores.

Quem quiser visual semelhante ao do modelo das fotos terá de pagar R$ 44.040 pela Montana Sport, que carrega no pacote rodas de liga leve de 15”, faróis com máscara negra, barra de proteção no teto, maçanetas, capaz dos retrovisores e molduras laterais na cor da carroceria, lanterna traseira fumê, sensor crepuscular, faróis de neblina, CD player com Bluetooth e entradas USB e auxiliar e controlador de velocidade de cruzeiro. A unidade que você confere ao lado ainda está equipada com rodas de 16”, opcional vendido nas concessionárias.

No segmento de entrada, a Montana é um pouco mais cara que a Peugeot Hoggar (R$ 31.400 pela versão X-Line 1.4, com motor de 82 cv). Ainda assim, a Chevrolet é mais barata que a Volkswagen Saveiro (R$ 32.180). Neste caso, vale citar que a Saveiro, apesar de não ter nem para-choques na cor da carroceria, oferecer bloco 1.6 com 102 cv de potência (2 cv a mais que a Montana) e 15,6 kgfm de torque (2,1 kgfm extras). A Fiat Strada Working 1.4 (86 cv) é a mais cara do segmento de entrada (R$ 33.240).

Entre as top de linha, o quadro se repete. A Sport, que custa R$ 44.040, é mais barata que a Strada Adventure (R$ 48.140), que traz a vantagem do motor 1.8 de 132 cv e do sistema Locker de bloqueio do diferencial. A tabela até aponta preço mais em conta em relação à Saveiro Cross, que parte de R$ 42.380, mas é preciso lembrar que o modelo da VW não traz ar-condicionado. Com o item, o valor salta para R$ 45.260 e o modelo ainda ficaria devendo itens como controlador de velocidade de cruzeiro e sensor crepuscular, ambos presentes na Montana.

A Peugeot Hoggar, com a versão Escapade a R$ 43.500 (motor 1.6 16V de 113 cv), é a única que consegue bater a Chevrolet na tabela. Mas, como a Saveiro, não vence a Montana em equipamentos na versão mais completa.

Jeito de Agile e traseira leve

Se você já conhece o Agile, não terá muitas surpresas ao entrar em uma nova Montana. Até o limite dos bancos dianteiros, o habitáculo é o mesmo: embora honesto para um modelo de pouco mais de R$ 30.000, deixa a desejar quando se observa a qualidade do acabamento dos plásticos (alguns com rebarbas). A ergonomia também peca na hora em que se decide regular a altura dos bancos (estes sim confortáveis), já que é preciso puxar a alavanca e projetar o corpo para frente na hora de colocar o assento para cima. Regulagem do volante? Só para cima e para baixo.

A posição baixa do rádio, que distrai por muito tempo o motorista na hora de trocar a estação (a picape não oferece regulagem do som no volante nem como opcional), também é outro item que incomoda ao longo do tempo. Como no Celta e no Agile, a coluna de direção com leve inclinação para a esquerda do motorista é outra característica que incomoda.

Em contrapartida, o linear e silencioso motor 1.4, que na Montana trabalha com relações de marcha encurtadas para transportar peso, vai bem em retomadas e não deixa a desejar com dois ocupantes a bordo (a Chevrolet não disponibilizou versões carregadas do modelo para avaliação). A marca, porém, poderia ter trabalhado mais o isolamento acústico nas caixas de roda para que o barulho dos pneus em contato com o asfalto não invadisse tanto a cabine.

A suspensão, bem calibrada com as rodas de 15” (opcionais na versão LS e de série na opção Sport) da unidade testada, deixou boa impressão em relação ao conjunto dianteiro, que vai bem nos buracos. A traseira, contudo, pareceu leve demais em curvas fechadas ou mesmo trocas de faixa se movimentos bruscos do volante.

Prós e contras

A nova Montana traz um bom motor, a versatilidade de ter espaço de carga dentro da cabine sem sacrificar a caçamba e preços interessantes. Além disso, na versão Sport é possível ter itens exclusivos como controlador de velocidade de cruzeiro sem pagar mais que os R$ 44.040 pedidos pela marca. É um custo/benefício interessante dentro do universo das picapes compactos.

Mas é preciso entender que não há milagres na indústria automotiva. Se o projeto economiza em alguns pontos, esse reflexo aparecerá no produto. Cabe ao comprador analisar essas limitações e julgar se a equação trará o resultado que ele espera.
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