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Emerson sem censura: alcoolismo no futebol, Fred, Zico...

GloboEsporte

Emerson tinha o maior salário do Oriente Médio, praia particular à disposição, prestígio semelhante ao de um sheik (de verdade) e mais de 400 gols na carreira que pavimentou entre Japão, Qatar e Emirados Árabes. Trocou tudo por um contrato de risco no Brasil. Negociou com o Flamengo na área de imprensa do Maracanã. Ninguém percebeu. Antes da estreia, ouviu no rádio do carro deboches dizendo que o tal milionário do mundo árabe seria gandula ou, quem sabe, o novo roupeiro da Gávea. Sorriu e guardou tudo no fundo do porta-luvas. Sabia que responderia na bola.

Conquistou os torcedores com gols, suor e lágrimas de amor ao clube. Uma proposta que considerou irrecusável o devolveu aos braços dos árabes. Foram poucos meses de Al Ain, com direito a presentes de mais de R$ 1 milhão, até constatar que a felicidade só existia no DDD 21.

Negociou primeiro com o Flamengo – e não esconde de ninguém – mas o clube não permitiu o retorno que sonhou. Procurou um abrigo arriscado. Em vez da Gávea, o carrão importado passou a estacionar nas Laranjeiras.

Foi rejeitado em um primeiro instante. Novamente a combinação gols e dedicação funcionou. Funcionou bem, mas desta vez sem juras de amor. O Sheik ganhou música com um palavrão impublicável, mas que demonstra respeito pelo jogador que do primeiro ao último minuto honra a camisa. A empatia com a torcida o fez criar um e-mail usando o tal palavrão para receber mensagens de incentivo.

Participou só de oito jogos. Mas parece bem mais, tamanha a importância que o atacante tem para o time. A grave lesão na coxa direita o afastou por dez rodadas. A volta esperada pelos tricolores será neste domingo, no clássico contra o Botafogo, no Engenhão. O mesmo adversário da estreia. No empate por 1 a 1 ele fez o primeiro dos sete gols que marcou pelo Fluminense.

- O status de salvador não é meu. O cara que vai resolver certamente não se chama Emerson – afirmou, com dose cavalar de humildade.

Em entrevista ao GLOBOESPORTE.COM, o centroavante coloca o dedo na ferida das polêmicas envolvendo Fred, revela que já viu jogador deixar de treinar porque chegou ao Flamengo alcoolizado e conta o maior desafio da carreira. Confira:

GLOBOESPORTE.COM: Você estreou no Fluminense contra o Botafogo. Mas, se no primeiro jogo era coadjuvante no time que tinha Fred como estrela, desta vez retorna como grande solução para o momento irregular do time. O que mudou?
EMERSON: Coincidência o retorno ser justamente contra o Botafogo, né? Na verdade mudaram comigo. Eu continuo a mesma coisa. Mas são duas partidas em momentos completamente diferentes. A outra era na primeira parte do campeonato e os clubes ainda buscavam entrosamento. Agora, com nove rodadas para o fim, o Fluminense ainda está na briga pelo título depois de 26 anos. Vou tentar ajudar.

Mas o apontam como salvador. Está preparado para a responsabilidade?
O torcedor que age dessa maneira e faz isso exatamente porque é torcedor. Mas quem está ligado ao futebol e vive o dia a dia sabe que isso não é verdade. Sei minha importância, mas o status de salvador não é meu. O cara que vai resolver certamente não se chama Emerson.

E se chama o quê?
Chama-se grupo, força de trabalho, parte coletiva. Fiquei fora dez rodadas e tenho a impressão que aquela pegada, aquele desejo imenso de conquistar o título foi perdido. E talvez seja isso que falte ao grupo: retomar essa vontade e considerar cada jogo como final ou o último da vida.

De alguma forma as crises internas atrapalharam? Fala-se muito do problema entre o Fred e o médico Michael Simoni, que acabou afastado. Até que ponto isso influencia?
Fico à vontade para falar desse assunto. Não vejo problema algum porque se tornou público e não conseguimos resolver internamente. É ruim para o grupo, com certeza. O normal é que fosse resolvido de maneira diferente. Mas certamente atrapalhou. O desempenho caiu por causa disso? Não. Mas não pode acontecer. Eu estava no departamento médico quando tudo aconteceu. Não tenho nada contra o doutor Michael Simoni, que me tratou com carinho e respeito. Eu sei quem falhou. Lamento pela saída do Simoni, mas quem mandou embora não foi o Fred. Encontro torcedores na rua que comentam isso, mas o Fred não mandou ninguém embora. Ele simplesmente não estava satisfeito e foi procurar ajuda. Ele constatou que havia algo errado e em primeiro lugar vem a saúde do Frederico.

Mas as pessoas ligam o longo tempo no departamento médico a uma vida desregrada fora de campo...
Eu não sou santo, mas acho que tem momento para tudo na vida. Fiquei pouco mais de 30 dias machucado e não permaneci em casa trancado. Saí, me diverti, mas no dia seguinte estava no clube tratando. Foi isso que aconteceu. Em relação ao Fred, tenho certeza absoluta que no período em que ele estava em tratamento, saiu algumas vezes, mas sempre teve desejo de voltar a jogar. Quando insinuam que ele fez bagunça, fico chateado porque quem está ali no dia a dia vê o sofrimento por não conseguir fazer o que mais gosta na vida. Uma vez ele foi à praia na tarde de folga, tirou uma foto com fã e colocaram no Twitter como se fosse um absurdo. Não pode ir à praia? Claro que não dá para jogar futevôlei, mas tomar uma água de coco e pegar sol, qual é o problema?

No Flamengo você viveu situação semelhante com o Adriano e naquela época disse que o Imperador acabaria deixando o Brasil por causa da tal invasão de privacidade. Acha que a situação pode se repetir com o Fred?
Incomoda principalmente quando você não está fazendo algo errado. No caso do Adriano, lembro de um episódio incrível. Ele faltou a um treino por um problema familiar - isso também já aconteceu comigo - e usaram uma foto antiga em um trailer para dizer que ele estava na farra. Isso faz os caras pensarem em voltar para a Europa. Foi o que aconteceu com o Adriano. Ele sofreu uma perseguição absurda... Tem lá suas manias, mas quem pode julgar? O importante é o atleta chegar no horário do treino, se dedicar. A vida particular não diz respeito a ninguém.

Os torcedores cobram quando encontram um jogador em noitada?
Comigo não, porque não sou um cara da noite. Às vezes quando me veem nessas situações querem chegar perto, ter contato porque não estão acostumados. Não sou contra o jogador que gosta de sair, principalmente quando o cara é solteiro. Tem que aproveitar a vida mesmo. Mas compromisso é compromisso. O que não pode é sair, fazer um monte de coisa e no dia seguinte não chegar no horário certo do treino ou chegar e não conseguir treinar.

Já viu muito disso?
Já.

Jogador alcoolizado?
Já. Não aprovo, vi na época que eu jogava no Flamengo, né? Não aprovo. No Fluminense ainda não vi isso, vejo um grupo comprometido com o trabalho, com o treinador. E é verdade. No Fluminense não tem isso. No Flamengo vi algumas vezes e eu não aprovo.

Como o grupo recebe um jogador assim? Depois não vai ninguém conversar com o atleta que chega sem condições e fica na maca da fisioterapia dormindo? Ninguém dá uma dura?
É aquilo, os atletas são bem fechados, amigos mesmo e isso não incomoda. Tem atletas como eu que não aprovam. Não é legal porque é a imagem do cara. Tem crianças, idosos, enfim, pessoas que são fãs e fazem aquilo que o ídolo faz. E o comprometimento com o trabalho. Jogador chamar atenção do outro nunca vi. Já vi conversar, dar conselho, mas não cobrar. Até porque sempre tem um reserva que é tão bom ou melhor e o cara acaba se ferrando sozinho. Chega atrasado ou chega ruim no treino e sempre tem um tão bom ou melhor na posição.

Como foi "iniciar" a carreira no Brasil aos 30 anos? No Oriente Médio você tinha o maior salário e assinou com o Flamengo um contrato de risco, recebendo bem menos que os astros do time.
Passei por um período muito triste da minha carreira e da minha vida pessoal no Qatar. Estava há seis meses sem jogar e o vice do Flamengo, Kleber Leite, apostou em mim. Ele acreditava absurdamente no meu futebol e foi muito legal. Quando via muitos atletas reclamando que o salário não caía, tirava como lição de vida. Pensava: "Hoje que vou treinar mais". A situação financeira que fiz lá fora me permitiu vir dessa maneira. Foi o grande desafio da minha vida chegar ao Brasil como um desconhecido.

Mas as pessoas ligam o longo tempo no departamento médico a uma vida desregrada fora de campo...
Eu não sou santo, mas acho que tem momento para tudo na vida. Fiquei pouco mais de 30 dias machucado e não permaneci em casa trancado. Saí, me diverti, mas no dia seguinte estava no clube tratando. Foi isso que aconteceu. Em relação ao Fred, tenho certeza absoluta que no período em que ele estava em tratamento, saiu algumas vezes, mas sempre teve desejo de voltar a jogar. Quando insinuam que ele fez bagunça, fico chateado porque quem está ali no dia a dia vê o sofrimento por não conseguir fazer o que mais gosta na vida. Uma vez ele foi à praia na tarde de folga, tirou uma foto com fã e colocaram no Twitter como se fosse um absurdo. Não pode ir à praia? Claro que não dá para jogar futevôlei, mas tomar uma água de coco e pegar sol, qual é o problema?

No Flamengo você viveu situação semelhante com o Adriano e naquela época disse que o Imperador acabaria deixando o Brasil por causa da tal invasão de privacidade. Acha que a situação pode se repetir com o Fred?
Incomoda principalmente quando você não está fazendo algo errado. No caso do Adriano, lembro de um episódio incrível. Ele faltou a um treino por um problema familiar - isso também já aconteceu comigo - e usaram uma foto antiga em um trailer para dizer que ele estava na farra. Isso faz os caras pensarem em voltar para a Europa. Foi o que aconteceu com o Adriano. Ele sofreu uma perseguição absurda... Tem lá suas manias, mas quem pode julgar? O importante é o atleta chegar no horário do treino, se dedicar. A vida particular não diz respeito a ninguém.

Os torcedores cobram quando encontram um jogador em noitada?
Comigo não, porque não sou um cara da noite. Às vezes quando me veem nessas situações querem chegar perto, ter contato porque não estão acostumados. Não sou contra o jogador que gosta de sair, principalmente quando o cara é solteiro. Tem que aproveitar a vida mesmo. Mas compromisso é compromisso. O que não pode é sair, fazer um monte de coisa e no dia seguinte não chegar no horário certo do treino ou chegar e não conseguir treinar.

Já viu muito disso?
Já.

Jogador alcoolizado?
Já. Não aprovo, vi na época que eu jogava no Flamengo, né? Não aprovo. No Fluminense ainda não vi isso, vejo um grupo comprometido com o trabalho, com o treinador. E é verdade. No Fluminense não tem isso. No Flamengo vi algumas vezes e eu não aprovo.

Como o grupo recebe um jogador assim? Depois não vai ninguém conversar com o atleta que chega sem condições e fica na maca da fisioterapia dormindo? Ninguém dá uma dura?
É aquilo, os atletas são bem fechados, amigos mesmo e isso não incomoda. Tem atletas como eu que não aprovam. Não é legal porque é a imagem do cara. Tem crianças, idosos, enfim, pessoas que são fãs e fazem aquilo que o ídolo faz. E o comprometimento com o trabalho. Jogador chamar atenção do outro nunca vi. Já vi conversar, dar conselho, mas não cobrar. Até porque sempre tem um reserva que é tão bom ou melhor e o cara acaba se ferrando sozinho. Chega atrasado ou chega ruim no treino e sempre tem um tão bom ou melhor na posição.

Como foi "iniciar" a carreira no Brasil aos 30 anos? No Oriente Médio você tinha o maior salário e assinou com o Flamengo um contrato de risco, recebendo bem menos que os astros do time.
Passei por um período muito triste da minha carreira e da minha vida pessoal no Qatar. Estava há seis meses sem jogar e o vice do Flamengo, Kleber Leite, apostou em mim. Ele acreditava absurdamente no meu futebol e foi muito legal. Quando via muitos atletas reclamando que o salário não caía, tirava como lição de vida. Pensava: "Hoje que vou treinar mais". A situação financeira que fiz lá fora me permitiu vir dessa maneira. Foi o grande desafio da minha vida chegar ao Brasil como um desconhecido.

Foi difícil lidar com essa desconfiança?
Às vezes ia para os treinos e ouvia comentários da imprensa questionando: "Quem é esse? Nunca vi esse cara. É gandula? Vai trabalhar na rouparia?". O mais legal é que quando eu escutava isso - e de maneira alguma quero me gabar - dava risada porque tinha certeza que teria sucesso no Brasil. Pensava: "Esses caras não têm ideia do que estão falando. Eles nunca me viram jogar... Estão viajando. Vou fazer chover". Lógico que não fiz chover, mas provei que não era gandula e nem viria para trabalhar na rouparia.

A situação se repetiu quando deixou o Al Ain para acertar com o Flu?
No Fluminense foi diferente só na maneira, mas bem parecido. Por quê? Porque o torcedor do Fluminense sabia da passagem bacana pelo Flamengo, mas pensava que no Fluminense eu não conseguiria jogar porque era o maior rival, porque a torcida não iria apoiar, porque tinha a desconfiança. Eu jurei que era Flamengo, chorei... Quase ninguém acreditava. Não tinha apoio da torcida, teve um movimento na internet contra a minha contratação. Tudo serviu de motivação.

E em que momento acha que conquistou os tricolores?
Acho que os torcedores que assistiram ao meu primeiro jogo (1 a 1 com o Botafogo) perderam a desconfiança por causa da dedicação e do comprometimento e não pelo gol que fiz. Ali eles tiveram a certeza de que eu seria o mesmo do Flamengo. Fui dando sorte, a bola começou a entrar (oito jogos e sete gols) e recentemente vi uma enquete em que 94% dos tricolores me aprovam.

Mas também tem a rejeição dos rubro-negros...
O Twitter está bombando (19 mil seguidores). É até engraçado. Quando faço uma boa partida, o tricolor entra e comenta: "O Sheik é f...". Aí aparece o flamenguista e responde: "Só que ele é Mengão, tá? Ele é f... há muito tempo". Muito divertido. No início alguns rubro-negros me xingavam, não entendiam, mas hoje em dia não recebo mais ofensas. De repente ao lerem isso, alguns vão se revoltar e querer me contrariar (risos).

Não teme hostilidades em um possível Fla-Flu?
No último Fla-Flu me contaram que os rubro-negros cantaram aquela musiquinha com os versos "você pagou com traição...". É coisa de torcedor, mas no fundo está aí a confusão no Flamengo para todo mundo ver. Está aí a prova de que não tive culpa de nada. Nunca escondi que no início negociava com o Flamengo, só que algumas pessoas ligadas ao clube tentaram transferir a culpa para cima de mim. E isso nunca foi verdade.

No programa “Bem, Amigos!”, o Zico chegou a dizer que você se disse flamenguista, mas na hora de negociar levou em conta apenas os valores. O que tem a dizer sobre isso?
Depois disso, encontrei o Zico em uma churrascaria e tudo foi esclarecido. Ele contou que soube da negociação por outras pessoas no clube e acreditou. Em momento algum o Zico participou de nada. Tenho certeza absoluta que atualmente não é o que ele pensa de mim. Falo isso porque não ouvi de A ou de B, ouvi do próprio. Fiquei triste com o comentário porque ele é o grande ídolo do Flamengo e tudo o que fala gera grande repercussão. Mas vou falar uma coisa: posso jogar em qualquer clube do mundo que jamais vou esquecer a emoção que vivi no Flamengo.
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