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Notícias / Meio Ambiente

Seca na Amazônia pode ser a mais grave em 40 anos, apontam cientistas

Ecod

Embora o ano ainda não tenha terminado, a seca de 2010 na Amazônia pode ultrapassar a de 2005 como a mais grave da região nas últimas quatro décadas, segundo cientistas do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

O nível do rio Solimões atingiu a maior baixa histórica no Oeste do Amazonas, enquanto em Manaus, o rio Negro se aproxima do nível de 1963, o mais baixo em um século. Mesmo que a previsão não seja confirmada, a floresta já terá registrado três estiagens extremas em 12 anos: 1998, 2005 e 2010. De acordo com os pesquisadores, a seca atual é diferente de tudo o que já se viu.

O climatologista Joaé Marengo explica que nos eventos extremos de 1998 e 2005 a região começou a secar já no fim dos anos anteriores. "Neste ano, tivemos reduções muito acentuadas em maio, 40% menos de chuva. Na de 2005, chegou a 50% de redução já no início do verão", observou.

Aquecimento, El Niños e redução de afluentes

Mas qual seria o motivo da atual estiagem no bioma? Na opinião de Marengo, antes achava-se que os fenômenos El Niños mais intensos explicassem as secas, fator que não estaria ocorrendo agora. "O El Niño deste ano foi fraco", argumentou o climatologista.

Para Javier Tomasella, também do Inpe, a vazante anormal do rio Negro pode ser explicada pela redução do volume dos afluentes da margem Sul do Amazonas. Como o Negro é "represado" pelo Solimões em Manaus, a baixa deste automaticamente faz aquele vazar.

O aquecimento anormal do Atlântico tropical Norte pode explicar parte da seca, avaliou Marengo. O transporte de umidade para dentro da Amazônia é influenciado por ventos que sopram do oceano. Quando o Atlântico esquenta demais, ele concentra as chuvas sobre a água mais quente e afasta a umidade da região. Essa também é a explicação provável da seca de 2005, que coincidiu com uma temporada de furacões anormal na região do Caribe.

Alguns estudos detectaram a influência do aquecimento global no fenômeno de 2005. "Mas a incerteza é grande", ponderou Marengo. Para ele, a chance de influência humana nesses extremos climáticos é "50% a 60%".

"Aquela Amazônia que tinha estações chuvosas tão bem definidas que você podia ajustar seu calendário por elas acabou", considerou o ecólogo Daniel Nepstad, do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia). Segundo ele, outro fator por trás das secas pode ser a grande quantidade de queimadas na região, uma vez que a fumaça inibe a chuva, como já comprovaram diversos estudos na última década."A meu ver, é uma mistura de agropecuária e gases-estufa, é difícil destrinchar quanto é um ou outro. Não sou climatologista, mas o tempo tem mudado nestes meus 25 anos de Amazônia", concluiu o pesquisador.
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