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Leonardo Boff e Frei Betto criticam papa por intervir em eleição

Terra

O frade dominicano Frei Betto e o ex-franciscano Leonardo Boff criticaram nesta sexta-feira o papa Bento XVI por suas declarações a respeito do aborto, que interpretaram como uma intromissão do líder máximo da Igreja Católica nas eleições presidenciais do próximo domingo.

O aborto se transformou em um dos assuntos mais polêmicos na atual campanha eleitoral e alguns bispos da Igreja pediram aos eleitores que vetem a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, que no passado defendeu a descriminalização da interrupção da gravidez.

"Pena que o papa Bento XVI tenha virado cabo eleitoral de forças conservadoras! Por que não elogia as políticas sociais que salvam vidas?", escreveu em sua conta do microblog Twitter Frei Betto, como é conhecido popularmente o frade Carlos Alberto Libânio Christo, um velho amigo e ex-assessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"Quando será que o papa condenará as guerras do Iraque e do Afeganistão, assim como o bloqueio dos Estados Unidos a Cuba?", acrescentou o religioso, que é escritor e amigo do ex-presidente cubano Fidel Castro, de quem escreveu uma biografia.

"O papa não pode se transformar em um cabo eleitoral. Ao esconder os pedófilos, perdeu autoridade", postou no mesmo canal Leonardo Boff, um dos ideólogos da chamada Teologia da Libertação e que terminou abandonando a Igreja por suas divergências com o Vaticano.

O teólogo e ex-frade franciscano, que chegou a ser castigado com o silêncio pela Congregação da Doutrina da Fé do Vaticano quando era dirigida pelo então bispo Joseph Ratzinger, lembrou que recentemente escreveu um artigo em faz referência ao mau uso político da religião nas atuais eleições presidenciais.

Frei Betto e Boff referiram-se com seus comentários às declarações pronunciadas na quinta-feira por Bento XVI contra o aborto e em favor de que os religiosos opinem sobre assuntos políticos.

Em reunião na quinta-feira com bispos brasileiros, Bento XVI disse que o Episcopado tem a obrigação de emitir juízos morais sobre temas políticos e criticou as propostas de legalização do aborto.

A declaração foi interpretada como uma defesa dos bispos que pediram aos eleitores brasileiros que vetem os candidatos que defendem o aborto, entre os quais Dilma, que é a favorita para vencer as eleições do domingo.

Apesar de nas últimas semanas a governista ter reiterado que se opõe à legalização do aborto e chegou a assinar uma declaração na qual se compromete a não apresentar proposta a respeito.

As declarações do papa foram defendidas pelo candidato da oposição à Presidência, José Serra (PSDB), que em vários debates jogou sobre Dilma as antigas entrevistas em que se manifestava favorável a descriminalização do aborto.

"Trata-se do líder espiritual mundial da Igreja Católica e ele tem pleno direito de emitir suas diretrizes e orientações aos católicos do mundo, especialmente na defesa da vida", justificou Serra.

"É a posição do papa e tem que ser respeitada", ressaltou a candidata governista, antes de advertir: "eu, pessoalmente, sou contrária ao aborto".

Pesquisa divulgada na quinta-feira pelo Datafolha, se as eleições fossem hoje, Dilma seria eleita primeira presidente do Brasil com 56% dos votos válidos, contra 44% de Serra.
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