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Polícia Federal ganha simpatia da população após propaganda e investimento pesado no governo Lula

R7

Oito anos e dois mandatos presidenciais. Esse foi o tempo que a Polícia Federal precisou para conseguir o que muitas das instituições públicas brasileiras estão longe de alcançar: a simpatia da população. Entre 2003 e 2010, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva reestruturou a PF, contratou oficiais, multiplicou o número de operações e prendeu gente que em outros tempos não passariam nem uma noite na cadeia. Apesar das mudanças e da aprovação popular, as ações da PF são mais barulhentas do que eficientes, já que pouca gente fica muito tempo na cadeia, provocando críticas contra as ingerências do governo na instituição.

Sob os conselhos do então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, Lula assumiu a Presidência tendo como uma de suas metas aumentar o número de funcionários da PF. De 2003 para 2010, eles pularam de 9.231 para 14.575, um crescimento de 58%, mais que o dobro do crescimento de 27% nas contratações dos oito anos anteriores, quando os funcionários da PF passaram de 7.294 (em 1994) para 9.287 (2002).

Os investimentos também cresceram muito. Em 2002, um ano antes de Lula assumir, o orçamento da PF era de R$ 1,8 bilhão. Este ano, esse valor chegou a R$ 4,5 bilhões.

Com mais agentes e mais dinheiro, as operações da PF não pararam de crescer, prender e chamar a atenção. Em 2003, foram 16 operações. Este ano, 239 entre janeiro e novembro. Nos últimos oito anos, 1.244 operações chegaram às ruas, 25 vezes mais do que as 48 levadas a frente no mesmo período do governo anterior.

Com tantas operações, gente rica e influente começou a aparecer na televisão indo para a cadeia, como foi o caso do banqueiro Daniel Dantas, do juiz João Carlos da Rocha Mattos e do ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta (morto em 2009).

O criminalista Getúlio Barbosa de Sá disse ao R7 que a tática do governo é justamente surpreender os brasileiros, desacostumados a ver gente rica sendo presa.

- Essas operações deixam a sociedade satisfeita por mudar a impressão de que só pobre vai parar na cadeia no Brasil.

Essa atenção do governo com a PF fez dela a polícia mais bem avaliada de todas. Um levantamento do Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas) divulgado em dezembro mediu a desconfiança da população em relação às autoridades policiais. Para 31% da sociedade, as guardas municipais são as menos confiáveis. Na Polícia Militar, a desconfiança chega a 27,7%, enquanto na Polícia Civil ela é de 25,9%. Já a Polícia Federal tem mais crédito: só 17,5% das pessoas desconfiam dela.

O cientista político José Álvaro Moisés, professor da USP (Universidade de São Paulo), disse que a PF conseguiu fazer com sua imagem o que o Congresso, a Justiça e as outras polícias não conseguiram.

- Quando a instituição começa a mostrar que ela existe para cumprir a missão para a qual foi criada, as pessoas começam a dar confiança. A PF se modernizou nos últimos anos. Isso ofereceu à opinião pública a imagem de uma instituição que está tentando se resgatar.

O estardalhaço das operações é grande, a impressão da sociedade é boa, mas o resultado final nem tanto, já que pouca gente influente fica na cadeia por muito tempo. As operações Anaconda, Vampiro, Sanguessuga, Mecenas e Navalha, por exemplo, prenderam 125 pessoas quando apareceram na mídia. Desses presos, apenas o juiz Rocha Mattos, pego na operação Anaconda, continua na cadeia.

A PF não é unanimidade nem dentro dela. Segundo uma pesquisa do delegado federal Gustavo Schneider, do Rio Grande do Sul, cerca de 80% dos crimes comunicados à PF não são esclarecidos. Quando divulgou seu estudo, ele criticou justamente a relação do governo com a PF.

- As autoridades policiais devem ter maior independência para atuar com isenção em relação a processos políticos, às injunções governamentais de ocasião.

Escândalos

Apesar de tanta atenção de Lula com a PF, algumas operações respingaram no próprio governo. Foi o caso da Operação Navalha, que em maio de 2007 prendeu homens suspeitos de pagar propina para participar de uma das maiores vitrines de Lula: o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).

O escândalo acabou custando o cargo do então ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, que teria recebido em seu gabinete R$ 100 mil de um empresário de uma megaconstrutora que queria participar do programa federal Luz Para Todos.
Outra operação famosa foi a Satiagraha, que terminou com a demissão do então delegado Protógenes Queiroz, suspeito de vazar informações do caso, que em 2008 prendeu banqueiros, como Daniel Dantas, durante a investigação de desvio e lavagem de dinheiro público.

Afastado do caso, Protógenes virou estrela, se candidatou a deputado federal e acabou eleito com 94.906 votos nas últimas eleições.
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