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Após incêndio, escolas trabalham em ritmo acelerado na Cidade do Samba

G1

O ritmo é acelerado. Na Cidade do Samba, na Zona Portuária do Rio, as escolas de samba Grande Rio, União da Ilha e Portela, que foram afetadas por um incêndio na segunda-feira (7), trabalham desde cedo nesta quinta (10) para tentar recuperar as fantasias e carros alegóricos. A Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) vai montar três tendas para abrigar as alegorias.

Durante todo o dia, caminhões de fornecedores descarregavam tecidos, espumas e outros materiais que serão utilizados para montar o carnaval das agremiações. A Grande Rio, que foi a mais atingida pelo incêndio, ganhou três estruturas de carros alegóricos para o desfile. O carnavalesco Cahê Rodrigues teve que redesenhar todas as três mil fantasias.

Máquinas de costura foram doadas pela comunidade de Duque de Caxias. Dentro do barracão 7, funcionários passam de um lado para o outro carregando pedaços de espumas, fibras e isopor. Para a costureira Maria Aparecida dos Santos, a Grande Rio vai desfilar com a mesma força de antes. Ela acredita na união dos componentes e no sucesso da escola.

“Nós estamos abalados, mas o nosso sentimento pela nossa escola não mudou, aumentou. Não vamos ser julgados, mas vamos desfilar para valer. É claro que não da maneira que havíamos planejado. Vamos mostrar que o carnaval é feito por gente de raça, de força e que acredita muito na sua escola. Pode ter certeza, a Grande Rio vai botar o caldeirão para ferver”, disse a componente, fazendo uma alusão ao samba-enredo.

A União da Ilha divide o espaço com a Grande Rio no barracão 7, onde funcionavam as oficinas da Liesa, até que a tenda no terreno que foi cedido para a escola fique pronta. A maioria dos carros alegóricos não foi atingida pelas chamas. No entanto, a alegoria que representaria uma aranha no enredo “O mistério da vida” foi destruída. O carro era considerado o xodó da escola.

“A escola faria um desfile para ganhar, para ser campeã. Trabalhamos duro durante um ano, mas vamos conseguir levar a Ilha completa para a Avenida. Só ficamos tristes pela perda da ‘aranha’ (alegoria), mas tenho certeza que nós vamos conseguir reconstruí-la. Ela vai andar na Sapucaí e vai levar alegria para esse povo que tanto merece”, afirmou o iluminador Paulo César Magalhães, que vai usar mais de 1,5 mil refletores no desfile.

Corrida contra o tempo
Já a Portela está numa tenda dentro da Cidade do Samba, onde os adereços para os carros alegóricos já estão sendo produzidos. Em Oswaldo Cruz, os integrantes correm contra o tempo na antiga quadra da escola, a Portelinha. Segundo a direção da agremiação, seis máquinas foram emprestadas para ajudar no trabalho das costureiras.

Em frente ao palco principal, no lugar de plateia, estão dezenas de trabalhadores que passam o dia confeccionando os adereços. Tem gente que até levou mala e roupa de cama para passar a noite. É o caso da aderecista Elizângela Oliveira, que há três anos trabalha na Portela. Ela garante: só vai embora depois que deixar a escola pronta para a Avenida. “Larguei marido, filhos e casa. Minha família agora é a minha águia e aqui é a minha primeira casa”, brincou.

O carnavalesco da Portela, Roberto Zaniecki, afirmou que a escola está num ritmo bom e que vai conseguir levar o enredo “Rio, azul da cor do mar” para a Sapucaí: “Estamos correndo para tentar recuperar o prejuízo. Vamos tentar fazer o melhor carnaval. O que eu posso garantir é que o enredo será todo respeitado, como foi planejado, mas de uma maneira mais simples”, explicou o carnavalesco.

Demolição depende da perícia
Enquanto as escolas trabalham para recuperar as fantasias e alegorias, operários continuam nos quatro barracões destruídos pelo fogo, que serão parcialmente demolidos. A área permanece isolada e ainda não há uma previsão de quando os prédios serão demolidos. Peritos do Instituto de Criminalista Carlos Éboli também estiveram no local.

“Ainda não há uma previsão para a demolição dos barracões. Dependemos apenas da liberação da perícia para dar continuidade aos trabalhos. As máquinas já estão no local e os operários só esperam a autorização. Os quatro prédios permanecerão interditados e a área isolada. A programação cultural da Cidade do Samba também continuará suspensa”, afirmou Elmo José dos Santos, diretor de carnaval da Liesa.

Ajuda de R$ 3 milhões
Na terça-feira (8), o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, anunciou a ajuda de R$ 3 milhões para as três escolas de samba que foram afetadas pelo incêndio na Cidade do Samba. De acordo com a prefeitura, a Grande Rio, a mais atingida, vai receber R$1,5 milhão. Já a Portela e a União da Ilha vão ter uma ajuda de R$ 750 mil cada. Ainda segundo a prefeitura, os recursos virão da iniciativa privada.

O diretor de carnaval da União da Ilha, Márcio André, informou que vai investir todo o dinheiro doado nas fantasias. Segundo ele, a escola vai para a Avenida com todos as alegorias e alas previstas no enredo “O mistério da vida”, do carnavalesco Alex Souza. As fantasias das alas comerciais, segundo ele, não foram destruídas.

“A nossa escola vai entrar completa na Avenida, vamos levar todos os nossos componentes, não da maneira que queríamos, mas com toda a garra e força que a nossa comunidade tem. Esse dinheiro veio em boa hora e vamos usá-lo para reconstruir as nossas fantasias, que serão mais simples, mas bonitas e com o suor da nossa gente”, disse Márcio.

Unidade dos bombeiros na Cidade do Samba
Sobre as denúncias de que o sistema de combate a incêndio não funcionaram, Elmo José dos Santos, diretor de carnaval da Liesa, afirmou que tudo não passa de especulação. De acordo com ele, não há como saber se o mecanismo foi acionado ou não antes do laudo final. “Muita gente não sabe o que está falando. Não dá para afirmar o que de fato aconteceu. O que posso dizer é que a cobertura de proteção dos pilares funcionou assim como o sistema de hidrantes", completou.

Por fim, Elmo cogitou montar uma base dos bombeiros dentro da Cidade do Samba, como já acontece no Maracanã. Ele afirmou que pretende levar a proposta ao governador Sérgio Cabral.

“Essa é uma possibilidade real. Estamos pensando em levar essa proposta ao governador. Mas tudo deve ser pensado e conversado. Nós temos condições de ter essa unidade, que seria importante ainda mais nessa época do ano, quando as escolas estão finalizando os seus trabalhos”, disse.
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