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Um mês após chuvas na serra, mulher salva por corda continua sem casa

G1

O resgate da dona de casa Ilair Pereira de Souza, salva por uma corda com a ajuda de vizinhos, é uma das histórias de sobrevivência da tragédia provocada pela chuva em São José do Vale do Rio Preto, na Região Serrrana do Rio. Após um mês, Ilair continua sem casa e teme nunca mais conseguir reconstruir sua vida.

A dona de casa, de 53 anos, conta que continua morando no mesmo bairro, Santa Fé, mas agora seu lar é um quartinho na casa do ex-marido. Ela divide o pequeno espaço e a cama com os filhos Alessandro, de 27 anos, e o caçula Sandro, de 17 anos. "Estou passando necessidade e morando de favor na casa do meu ex”, relata.

“Tudo na minha vida mudou. Acho que nunca mais vou conseguir reconstruir minha vida, afinal foram 20 anos morando naquela casa, um espaço só meu”, fala Ilair.

Cenas do resgate

Mesmo 30 dias após a chuva, Ilair não quis ver o vídeo de seu resgate. Ela diz que as imagens podem lhe causar tristeza, principalmente pela morte do cão Beethoven. Quando sua casa alagou, ela tentou sair com o cachorro no colo, mas o animal foi derrubado pela correnteza.

Se Ilair ainda não assistiu a cena, os moradores de São José do Vale do Rio Preto fazem questão de cumprimentá-la pela coragem. Ela diz que o vídeo lhe rendeu uma “fama” instantânea na pequena cidade de pouco mais de 20 mil habitantes. “Tem pessoas que nunca falaram comigo antes, e, agora vem me dar parabéns pela minha força," conta.

"Celebridade" instântanea
Assim como qualquer celebridade, Dona Ilair revela que tem sofrido com os boatos. Ilair diz que nem reparou que estava sendo filmada durante o resgate. Mas, ela revela que alguns vizinhos acreditam que ela ligou para os cinegrafistas registrarem a cena.

“É mole, ainda tenho que ouvir esse tipo de gracinha. Na hora, o nervoso é tanto que você nem olha pra lugar nenhum. Eu só tinha cabeça pra pensar em subir e pedir a Deus para me tirar dali. Imagina, se eu tivesse chamado a imprensa, eu não teria ficado sem a minha calça e os meus dentes. Ao menos, teria aparecido mais bonitinha na TV”, diz a bem-humorada dona de casa.

Planos com o aluguel social
Para tentar voltar a rotina, Ilair faz planos com o dinheiro que pretende receber com o aluguel social. Com o benefício, ela sonha em alugar uma residência. No entanto, a dona de casa reclama da inflação do valor do aluguel na cidade.

“Depois da chuva tudo ficou caro. Casas que você alugava por R$ 150, agora custam R$ 400 ou R$ 500. Assim fica difícil, todo mundo quer tirar proveito, tudo aqui é muito complicado”, fala.

Sem trabalho, o único sustento da família de Ilair é o salário do filho mais velho, que trabalha numa cervejaria em Petrópolis, cidade vizinha a São José do Vale do Rio Preto. Ela comenta que na véspera da chuva, o rapaz recebeu o pagamento e guardou numa caixa, que sumiu com a enxurrada.

“É muita tristeza, mas a mesma força que tive para subir na corda tenho que ter para recomeçar, se isso foi possível. Meu filho perdeu um salário e a minha tão sonhada televisão grande foi por água abaixo, literalmente”, conta.

Doações
Enquanto o pagamento do aluguel social não é depositado em sua conta, Ilair sobrevive às custas de doações. Ao menos duas vezes por semana, ela percorre alguns quilômetros até o Centro da cidade para recolher roupas e alimentos.

“Tenho 23 irmãos e todos passam necessidade igual a mim. Saí de casa com a roupa do corpo, se hoje eu tenho outra é porque me deram. Graças a Deus várias pessoas doaram comida, colchão, essas coisas, que pra gente é essencial”, diz.
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