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'Tabatinga é como o limbo para os haitianos', diz padre

G1

O padre colombiano Gonzalo Franco está preocupado com a situação dos haitianos que continuam chegar a Tabatinga (AM), mas já não podem mais solicitar o visto como refugiados na Polícia Federal. Na segunda-feira (14), o delegado chefe da Polícia Federal, Alexandre Rabelo, explicou que os haitianos não se enquadram na categoria de refugiados e a documentação não seria mais feita. Para entrar no Brasil, eles devem solicitar o visto ainda no Haiti.

“Tabatinga é como o limbo para os haitianos. Eles ficam presos aqui, não conseguem ir para outras cidades e também não querem voltar para o Haiti, como as autoridades sugerem. Eles pegam empréstimos e gastam todas as suas economias no trajeto para viajar até aqui e simplesmente não têm dinheiro para voltar”, diz.

De acordo com a Polícia Federal, no ano passado Tabatinga registrou a entrada de 475 haitianos. Neste ano, foram registrados 294 imigrantes, que permanecem na cidade por não ter dinheiro para seguir para Manaus. Diariamente, mais haitianos chegam a Tabatinga. A Polícia Federal estima que pelo menos 50 ainda não foram identificados.

Para o padre, permanecer em Tabatinga é perda de tempo porque não há emprego suficiente. Quem consegue algum trabalho, por causa da falta de documentos, vai ganhar pouco e não conseguirá mandar dinheiro para as famílias, que é o principal motivo da vinda deles para o Brasil.

De acordo com Franco, a Polícia Federal terá de resolver o problema dos haitianos que chegam diariamente e também daqueles que estão há meses em Tabatinga e, apesar da documentação estar em dia, não conseguem pagar a viagem até Manaus. A passagem custa R$ 170 – um valor alto para quem não tem o que comer.

“Esse pessoal não vai sair do Brasil. Se a Polícia Federal não legalizar a entrada deles, teremos daqui a um ano cerca de mil pessoas vivendo sem documentos no país. Não é realista fretar tantos aviões para deportar essa gente, que vai ficar no subemprego aqui no Brasil”, diz.

Racismo
“Eles escolhem o Brasil, porque para eles o país é uma potência, com economia estável e facilidade para conseguir emprego, além de ter um povo muito acolhedor. Claro, eles não têm muita noção de tamanho. Não sabem que São Paulo e Rio de Janeiro estão bem distantes de Manaus e que não existe um barco que faz essa ligação, como acontece entre Tabatinga e Manaus”, afirma.

Os haitianos dispensam o Peru por causa da economia fraca e a Colômbia em função da violência. O padre conta que muitos relatam episódios de racismo, especialmente no Equador, enquanto no Brasil todos foram bem recebidos. “No Equador, eles dizem que não foram aceitos porque são negros. Eles sofreram racismo. Há lugares que até proíbem a entrada deles e isso mexeu com todos”, diz.

Dinheiro
Para dar uma ideia do problema em Tabatinga, o padre faz uma conta rápida. “Com a passagem a R$ 170, teríamos de gastar R$ 17 mil para enviar cem haitianos a Manaus. Mas temos muito mais do que isso aqui, esperando uma oportunidade”, diz.

Com o objetivo de levantar dinheiro, o padre vai organizar um leilão de obras feitas por artistas do município e um quadro pintado por uma haitiana que pediu refúgio no Brasil. Toda a renda será revertida para a causa. Ele ainda pensa em leiloar camisas de futebol de times tradicionais. “Estamos entrando em contato com os clubes, mas acho que vai dar certo para ajudar pelo menos algumas pessoas.”
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