Imprimir

Notícias / Mundo

China reprime convocação de protestos pela internet

AFP

A China prendeu dezenas de ativistas e mobilizou um forte esquema de segurança em suas principais cidades, depois de uma campanha lançada na internet para convocar manifestações pelos direitos humanos inspiradas pelas rebeliões populares contra regimes autoritários que se espalham por países do norte da África e do Oriente Médio desde janeiro, informaram os organizadores da iniciativa neste domingo (20).

Ao menos cem advogados e ativistas chineses simplesmente desapareceram desde este sábado (19), ao mesmo tempo em que a polícia tomou preventivamente uma série de pontos de protesto em todo o país, pronta para conter qualquer manifestação, segundo os coordenadores da campanha.

O governo está censurando mensagens de texto de celulares e na internet de convocação para os protestos, revelando o tamanho da preocupação do governo chinês com a possibilidade de uma rebelião mobilizada como as que derrubaram os regimes na Tunísia e no Egito.

- Saudamos os trabalhadores demitidos e vítimas dos despejos forçados que queiram participar das manifestações, gritar slogans e buscar a liberdade, a democracia e reformas políticas para acabar com o partido único.

Os textos, cuja maioria parece ter origem em sites estrangeiros controlados por dissidentes chineses no exílio, convocam os protestos em Pequim, Xangai, Guangzhou e dez outras grandes cidades chinesas.

Os manifestantes são instruídos a disseminar slogans como "queremos comida para comer", "queremos emprego", "queremos casas", "queremos Justiça", "vida longa à liberdade" e "vida longa à democracia".

No distrito de compras de Wangfujing, no centro de Pequim, onde os manifestantes foram orientados a se concentrar, centenas de policiais foram mobilizados. No entanto, não houve protesto.

Ao menos duas pessoas foram vistas sendo levadas pela polícia, uma por xingar as autoridades e outra por gritar "quero comida para comer".

Mais de 300 agentes à paisana se dispersaram pelo distrito e filmavam frequentadores das lojas, turistas e jornalistas.

A agência oficial Xinhua indicou que a multidão que se reuniu para os protestos se dispersou em Pequim e Xangai depois da chegada da polícia. Em Xangai, ao menos três pessoas foram presas.

Segundo mensagens postadas em fóruns na internet, apenas alguns manifestantes apareceram nas outras cidades, apesar do enorme contingente policial mobilizado nos locais de protesto em Harbin, Guangzhou e Chengdu.

O advogado Li Jinsong disse que convocação para protestar não foi séria.

- Eu não acho que a convocação para protestar foi séria, ninguém de fato pretendia protestar porque há muitos policiais. Levando isto tão a sério, a polícia apenas demonstra quão preocupada está com a possível influência da Revolução de Jasmim na estabilidade social da China.

Conforme a notícia da convocação se espalhava, vários dissidentes políticos e advogados foram detidos pela polícia, segundo ativistas.

A advogada Ni Yulan denunciou a repressão contra os profissionais.

- Muitos defensores dos direitos humanos desapareceram nos últimos dias, outros estão sob prisão domiciliar e seus telefones celulares foram bloqueados. A presença da polícia do lado de fora de minha porta aumentou. E eles nos seguem se saímos de casa.

Proeminentes advogados chineses como Teng Biao, Xu Zhiyong e Jiang Tianyong não atenderam aos telefonemas neste domingo. Amigos e companheiros ativistas afirmam que eles foram detidos pela polícia.

Segundo o Centro de Informações pelos Direitos Humanos e a Democracia, mais de cem ativistas já foram presos, "desapareceram" ou estão sob prisão domiciliar em Pequim, Zhejiang, Sichuan, Guizhou, Hunan, Xangai e outras cidades.
Imprimir