Imprimir

Notícias / Mundo

Sudão reprime protestos contra supostas fraudes eleitorais

Reuters

Tropas de choque da polícia sudanesa cercaram organizadores de um protesto contra supostas fraudes eleitorais no domingo, disseram testemunhas, no mais recente incidente de repressão de manifestações populares no mundo árabe. O Sudão regularmente reprimiu manifestações no passado, mas a reação das forças de segurança assumem uma importância maior neste momento, dados os protestos em massa nos países vizinhos Líbia e Egito.

A polícia, armada com cacetetes e bombas de gás lacrimogêneo, acabou com vários pequenos protestos antigoverno no norte do Sudão este ano, muitos deles contra a alta dos preços e alguns exigindo mudanças no governo. Mais de 100 policiais uniformizados e à paisana invadiram a sede do Movimento de Liberação do Povo do Sudão (MLPS), que organizou o protesto, disseram testemunhas.

Agentes de seguranças também impediram pessoas de se aproximarem da sede da Comissão Eleitoral Nacional para entregar um abaixo-assinado contra irregularidades no registro de eleitores do Estado de Cordofan, produtor de petróleo, segundo os organizadores. "Eles transformaram a comissão em uma guarnição de segurança", disse um alto membro do MLPS, Yasir Arman.

Arman afirmou ainda que os policiais detiveram seus colegas de partido nas ruas ao redor da área. Ele finalmente entrou na comissão pelos fundos acompanhado de representantes de nove partidos de oposição. "É uma violação da Constituição e é uma violação dos direitos humanos. É o que está acontecendo no Egito, Tunísia e Líbia", acrescentou ele, referindo-se à presença de forças de segurança.

O MLPS acusou o Partido do Congresso Nacional (PCN) do Sudão, da situação, de manipulação do registro dos eleitores, ao acrescentar mais de 38 mil nomes em áreas de Cordofan que são controlados pelos serviços de segurança, disse ele. O alto membro do PCN Rabie Abdelati chamou a acusação de "rumores políticos" e disse que manifestações pacíficas são permitidas, desde que os manifestantes peçam uma autorização.

O presidente do Sudão e líder do PCN, Omar Hassan al-Bashir, manteve-se no poder com as eleições de abril de 2010. As eleições para governador e para a assembléia estadual em Cordofan do Sul foram adiadas até maio deste ano, após divergências sobre o recenseamento.

O MLPS assinou um acordo de paz com o norte em 2005 e entrou para o governo de coalizão com o PCN. O MLPS disse que vai formar um grupo de oposição separado no norte do país após a secessão do sul, que está prevista para julho.

Mundo árabe em convulsão
A onda de protestos que desbancou em poucas semanas os longevos governos da Tunísia e do Egito segue se irradiando por diversos Estados do mundo árabe. Depois da queda do tunisiano Ben Ali e do egípcio Hosni Mubarak, os protestos mantêm-se quase que diariamente e começam a delinear um momento histórico para a região. Há elementos comuns em todos os conflitos: em maior ou menor medida, a insatisfação com a situação político-econômica e o clamor por liberdade e democracia; no entanto, a onda contestatória vai, aos poucos, ganhando contornos próprios em cada país e ressaltando suas diferenças políticas, culturais e sociais.

No norte da África, a Argélia vive - desde o começo do ano - protestos contra o presidente Abdelaziz Bouteflika, que ocupa o cargo desde que venceu as eleições, pela primeira vez, em 1999; mais recentemente, a população do Marrocos também aderiu aos protestos, questionando o reinado de Mohammed VI. A onda também chegou à península arábica: na Jordânia, foi rápida a erupção de protestos contra o rei Abdullah, no posto desde 1999; já ao sul da península, massas têm saído às ruas para pedir mudanças no Iêmen, presidido por Ali Abdullah Saleh desde 1978, bem como em Omã, no qual o sultão Al Said reina desde 1970.

Além destes, os protestos vêm sendo particularmente intensos em dois países. Na Líbia, país fortemente controlado pelo revolucionário líder Muammar Kadafi, a população vem entrando em sangrento confronto com as forças de segurança, já deixando um saldo de centenas de mortos. Em meio ao crescimento dos protestos na capital Trípoli e nas cidades de Benghazi e Tobruk, Kadafi foi à TV estatal no dia 22 de feveiro para xingar e ameaçar de morte os opositores que desafiam seu governo. Na península arábica, o pequeno reino do Bahrein - estratégico aliado dos Estados Unidos - vem sendo contestado pela população, que quer mudanças no governo do rei Hamad Bin Isa Al Khalifa, no poder desde 1999.

Além destes países árabes, um foco latente de tensão é a república islâmica do Irã. O país persa (não árabe, embora falante desta língua) é o protagonista contemporâneo da tensão entre Islã/Ocidente e também tem registrado protestos populares que contestam a presidência de Mahmoud Ahmadinejad, no cargo desde 2005. Enquanto isso, a Tunísia e o Egito vivem os lento e trabalhoso processo pós-revolucionário, no qual novos governos vão sendo formados para tentar dar resposta aos anseios da população.
Imprimir