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Da revolução política à humanitária

EFE

Milhares de ativistas que protagonizam a revolução na Tunísia voltaram nos últimos dias seus olhos para o sul e buscam ajudar os refugiados da Líbia, em uma mobilização humanitária que também não tem precedentes neste país.

Após forçar nesta semana a renúncia do primeiro-ministro tunisiano, Mohammed Gannouchi, milhares de ativistas se dirigiram à fronteira com a Líbia para atender os deslocados do país, uma iniciativa que, dizem, também faz parte de sua revolução "pela dignidade".

Há 48 horas, são incessantes as caravanas de solidariedade de jovens revolucionários tunisianos que partem em carros de passeio, 4x4 e caminhões rumo ao posto de fronteira com cobertores, colchões, comida e água para auxiliar os refugiados.

Todos os veículos levam a bandeira tunisiana e alguns, a antiga monárquica líbia de três franjas, verde, preta e vermelha, a qual foi adotada pelos rebeldes que há 15 dias combatem o regime de Muammar Kadafi.

Assim como o processo revolucionário que em janeiro obrigou o presidente Zine el Abidine Ben Ali e prosseguiu nesta semana com a renúncia de Gannouchi, a mobilização surgiu em Túnis de maneira espontânea, sem responder a organizações nem partidos.

Riad Zambouli, que participou do ato que conduziu à renúncia do ex-primeiro-ministro tunisiano, relatou: "A ideia começou durante a manifestação contra Gannouchi. Decidimos que se o tirássemos, a próxima coisa que faríamos seria vir aqui".

O ativista argumentou que "são assuntos complementares, não se pode entender um sem o outro", e acrescentou "que a revolução política e a mobilização humanitária fazem parte do mesmo combate pela dignidade e a liberdade, pela emancipação dos povos".

Junto a vários companheiros, Zambouli montou no posto de fronteira uma tenda na qual se distribui sanduíches e garrafas de água aos refugiados que chegam do território líbio, em um fluxo que se desacelerou nos últimos dias.

Segundo os grupos de ajuda humanitária, cerca de 100 mil refugiados passaram por Ras el Jedir desde o início da rebelião na Líbia, mas a maioria foi repatriada e atualmente restam cerca de 10 mil pessoas no local.

A maior parte são trabalhadores do subcontinente indiano e o sudeste asiático cujos países não têm representação diplomática na Tunísia e, por isso, sua identificação encontra mais dificuldade do que a dos árabes, que foram os primeiros a retornar a seus países.

Isto, no entanto, não deteve o ímpeto dos revolucionários tunisianos, que não parecem distinguir entre línguas, credos e raças.

"A luta desta gente é também nossa. A luta pela liberdade, a dignidade, a solidariedade", disse à Agência Efe o administrador Tebessi Imeb, que viajou para Ras el Jedir após participar do ato que obrigou a renúncia de Gannouchi na capital tunisiana.

"Vim com um grupo de amigos e trouxemos garrafas de água para os deslocados, não importa se são árabes, do subcontinente indiano ou do sudeste asiático. Com nós, há muito tempo são vítimas de um regime ditatorial de terror", afirmou Imeb.

"Queremos que no Ocidente sejamos vistos de outra maneira. Durante muito tempo só viram nosso lado ruim. Agora queremos que vejam também o bom, que somos capazes de ajudar quem quer que seja, independentemente de sua nacionalidade e sua fé", explicou, e acrescentou que querem "que no Ocidente saibam que queremos o mesmo que eles, levar uma vida normal".

"O que queremos para nós, queremos para todos", disse.
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