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"Pisou no meu pé, eu vou para a briga", diz senadora do PSOL que bateu boca com Sarney

R7

Ela deu dor de cabeça ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), peitou o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), e ficou rouca devido a tantas interferências que fez durante votação que aprovou o salário mínimo de R$ 545. A senadora Marinor Brito (PSOL-PA) é estreante na Casa, mas diz que não dirá “sim senhor” para pessoas “em quem não confia”.

- Eu pareço brava? Mas eu sou brava, sou muito brava! Pisou no meu pé eu vou para a briga.

Ao afirmar que Marinor não tem “familiaridade com o regimento”, ela rebateu Sarney dizendo que não chegou agora na vida política.

- Estou consciente do regimento, Excelência! Não cheguei agora na vida política. Tenho doze anos de mandato no Pará, que é uma região muito difícil de fazer política. Estou aqui substituindo Jader Barbalho!

A resposta que a ex-vereadora de Belém ouviu foi digna de um político experiente como Sarney.

- A senhora é mais feliz que eu, que estou aqui há trinta anos e não sei o regimento ainda totalmente!

Apesar da réplica, a paraense garante que não se sentiu amedrontada.

- Eu vou fazer isso muitas vezes [...]. É rotina da minha tarefa política. Eu sou professora por profissão. Eu não trocaria minha sala de aula para vir para cá para dizer “sim senhor” para as pessoas que eu não confio.

A paraense foi a quarta candidata mais votada em seu Estado nas eleições de 2010. Ela estaria fora do Senado não fosse Jader Barbalho (PMDB-PA) e Paulo Rocha (PT-PA) terem sido barrados pela Lei da Ficha Limpa. Mas ela não se incomoda e diz que “representa a novidade e não precisa prestar contas à Justiça”

- Eu tenho legitimidade para estar aqui. Nunca usei a máquina pública para fazer campanha, nunca tive envolvimento com qualquer tipo de abuso do poder público, corrupção. Não tem quem possa ser mais legítimo do que eu para estar aqui.

Ao falar da mãe e da filha, porém, Marinor nem de longe lembra a combativa senadora. Com olhos marejados, ela se emociona ao contar que carrega a lição de que os filhos devem ser unidos. Sua rebenta, de 25 anos, chama-se Terena e é arquiteta.

- Minha mãe dizia que os filhos tinham que estar unidos para serem fortes. Foi assim que eu cresci, amiga de todos os meus irmãos. E assim eu criei minha filha, que é minha amiga.

Filha de costureira informal semi-analfabeta, Marinor e seus sete irmãos perderam o pai quando a senadora tinha apenas quatro anos e vivia no interior do Pará, na cidade de Alenquer. Seu “objeto de inspiração” para o trabalho é a mãe.

- Eu não faço absolutamente nada que não tenha a força que ela me passou.

A senadora está em seu terceiro casamento. Diz que cultiva uma boa relação com os ex-maridos e as respectivas esposas e vê no atual um “companheiro maravilhoso”. Para ela, as mulheres têm que ser “responsáveis pelas relações e aprender a crescer e a ter maturidade”.

- Claro que a gente não nasce com isso. Como tantas outras mulheres, eu já passei os meus momentos de dificuldades, tristezas.

A paraense diz que o marido dá força para encarar o preconceito de ser mulher em um ambiente tradicionalmente masculino. Ela reclama que o Senado não é democrático.

- A sociedade foi pensada pelos homens e para os homens. [...] Então, ser recebida com preconceito faz parte, mas me acomodar ao preconceito é outra história. Eu jamais me rendi em momento algum da minha vida à lógica de que os espaços de disputa são dos homens.

O parlamento, segundo Marinor, não se diferencia de outros espaços da disputa política ou do cotidiano da vida das mulheres.
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