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Bombons viram marca registrada de deputada do Acre para “adoçar” a Câmara

R7

A deputada federal Perpétua Almeida (PCdoB-AC) não dispensa o uso de acessórios, presilhas de flores, vestidos e uma boa maquiagem. Dona de um estilo super feminino, a parlamentar – que chamou a atenção ao distribuir bombons de castanhas durante a votação sobre o reajuste do salário mínimo – diz que as mulheres não precisam mudar seu jeito para serem levadas a sério na política.

- Já chega desse espírito machista e masculino na política. Por que a gente tem que mudar o nosso jeito?

Em entrevista ao R7, às vésperas do Dia da Mulher, Perpétua, 46, afirmou que a “falta de sensibilidade dentro das esferas de poder” é um dos maiores empecilhos para que a “mulherada” abrace a carreira.

Segundo ela, os partidos e as instituições – como a Câmara, o Senado e as prefeituras –, deveriam pensar em mecanismos para facilitar a vida das mulheres, sobretudo daquelas que têm filhos – como já é feito dentro de algumas empresas.

Na conversa, a deputada também defendeu a adoção de cotas femininas nas direções de partidos e comissões, disse que já “chorou muito” atrás do plenário por saudades dos filhos, mas afirmou que, apesar das dificuldades, a presença feminina é fundamental para a política. Leia abaixo os melhores trechos da entrevista.

R7: Enquanto muitas mulheres adotam um estilo mais sóbrio no Congresso, a senhora adotou a flor no cabelo como símbolo e está sempre com acessórios. Por que decidiu optar por esse estilo?

Perpétua Almeida: Eu acho que a gente tem que fazer o contrário mesmo. Já chega desse espírito machista e masculino na política. Porque a gente tem que mudar o nosso jeito de ser só porque entrou na política? E eu acho que tem que ser exatamente o inverso, a gente tem mais é que chegar com o nosso jeito diferente, feminino, para poder sensibilizar os atores da política hoje. Muita coisa de ruim ainda acontece no mundo por falta de sensibilidade.

R7: E como surgiu essa ideia de distribuir os bombons?

Perpétua: Aquele bombonzinho é de castanha do Acre, de uma associação de mulheres. Eu criei essa cultura pra quebrar aquele clima tenso, de acusações, de bate-boca. O debate é necessário, mas naquelas votações demoradas, é estressante ficar ali dentro... Então eu acho que é importante pra dar uma descontraída, porque a gente precisa um pouco mais de tranquilidade pra fazer o debate que interessa ao país. E ainda aproveito e faço uma campanhazinha pra castanha do Acre!

R7: E qual é a reação dos seus colegas?

Perpétua: Hoje, se eu ficar um mês sem levar, tem cobrança! [risos].

R7: As mulheres ainda são minoria no Congresso. O que pode ser feito para mudar isso?

Perpétua: Hoje já se discute a possibilidade de um projeto que garanta a equidade entre todas as esferas do poder. A presidente Dilma, de livre e espontânea vontade, tentou garantir os 30% de mulheres nos ministérios. Ela não conseguiu, mas tentou [Dilma Rousseff escalou nove mulheres para o governo, número recorde]. Por que então não incentivar isso nas prefeituras, nas esferas dos governos? [...] No PCdoB [partido com o maior número de mulheres na Câmara] já temos essa nossa regra interna de deixar 30% das vagas de chefia nos diretórios municipais, estaduais e no nacional para as mulheres. Porque às vezes a gente precisa mesmo de um empurrãozinho, né? Eu pretendo apresentar esse projeto [de cotas para mulheres em diretorias].

R7: Essa falta de mulheres na política prejudica de alguma forma a criação de leis para o público?

Perpétua: Eu acho que isso acaba prejudicando muito. Porque, quando a gente tem alguns debates em que a mulherada participa, isso ajuda a trazer sensibilidade e coerência às decisões que estamos tomando.

R7: A senhora diz que falta sensibilidade na política. E na Câmara?

Perpétua: Olha, se eu não gostasse tanto da política eu já tinha desistido. Porque a gente tem dificuldade de cuidar dos meninos, tem que cuidar da família, dar atenção ao marido. Eu me lembro que, no meu primeiro mandato, eu chorava era muito ali naquele plenário, ia no banheiro chorar, de saudade dos meus filhos. Então a gente precisa, além de um apoio familiar, precisa de apoio dos partidos e da instituição. [...] E ainda falta muita sensibilidade na própria instituição. E a gente precisa dar mais exemplos positivos [de incentivo feminino] pra que a sociedade possa começar a fazer também. Companheirinha, é um drama, viu?
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