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Entenda os desafios da nova estratégia de Obama para o Afeganistão

Reuters

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou ontem  seu novo plano para combater o "câncer" que é como considera a rede Al Qaeda no Afeganistão e no Paquistão. A estratégia inclui um reforço de 4.000 soldados nas tropas americanas no Afeganistão e uma ajuda de US$ 1,5 bilhão para o combate ao terrorismo no Paquistão.

O anúncio foi bem recebido pelos governos do Afeganistão e do Paquistão, que classificaram o anúncio como uma medida de fortalecimento das relações bilaterais com Washington.

Especialistas na volátil região, onde os EUA combatem insurgentes terroristas desde pouco depois dos ataques de 11 de setembro de 2001, disseram que o plano de Obama pode ajudar a vencer em uma guerra na qual os militantes do grupo radical islâmico Taleban se fortalecem. Mas ainda existem dúvidas.

Quais os pontos elogiados da nova política?

O Conselho Internacional sobre Segurança e Desenvolvimento, com base em Londres, comemorou a mudança da política de "balas e bombas" que marcou a administração de George W. Bush -que, segundo o órgão, alienou a população-- para uma abordagem centrada sobre o desenvolvimento sustentado.

Lisa Curtis da conservadora fundação Heritage afirmou que o plano de Obama foi uma estratégia "bem pensada" por seu foco sobre o reforço do papel dos civis na condução de projetos de desenvolvimento no Afeganistão.

Ela elogiou ainda o aumento do apoio econômico para o Paquistão, onde a pobreza contribui para a militância terrorista.

A insistência de Obama em fazer um acompanhamento rigoroso dos resultados dos esforços EUA e a conexão da ajuda financeira ao desempenho dos paquistaneses pode ajudar a resolver uma lacuna que tem dificultado a guerra.

Anthony Cordesman, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, que já avisou que os EUA estavam a ponto de perder a guerra, disse que o plano de Obama para enviar mais 4.000 soldados para treinar tropas afegãs mostra que o presidente "refletiu muito mais" no assunto "para além das questões imediatas da batalha".

Quais são as preocupações com a nova política?

Céticos dizem que Obama ainda não conseguiu um orçamento para a estratégia, ou ao menos demonstrou que esses recursos serão suficientes.

O grupo de peritos em desenvolvimento civil com formação cultural para o Afeganistão é pequeno e vai levar tempo a chegar ao país.

"Tudo isso soa bem, mas vamos realmente apoiá-lo? Vamos realmente repartir o dinheiro? Será que vamos ser capazes de executar a decisão política no Afeganistão?", perguntou Thomas Houlahan, do Centro de Segurança e da Ciência.

Um projeto patrocinado pelos senadores John Kerry e Richard Lugar concede o triplo de ajuda americana ao Paquistão, chegando a U$ 1,5 bilhão anualmente, para os próximos cinco anos, para construir escolas, estradas, e clínicas. Contudo, os analistas questionam o desenvolvimento econômico e os esforços do próprio Afeganistão, que tem um governo fraco e corrupto.

Os EUA, afirma os analistas, não têm garantias de que seus aliados em Cabul e Islamabad podem melhorar as fraquezas crônicas do governo. O Afeganistão também enviou mensagens confusas sobre seu desejo político de pôr um fim ao comércio de ópio, uma grande fonte de renda para a insurgência, especialmente no sul do país.

A campanha militar prevista por Obama exige ainda maior participação dos aliados da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), que não enviaram tropas suficientes. Algumas tropas aliadas não têm nem permissão de participar em combates.

Quais riscos permanecem fora do controle dos EUA?

O território montanhoso do Afeganistão, a população essencialmente tribal e a história do país criaram Províncias que resistem às ordens do governo de Cabul --o que questiona a eficiência da estratégia americana de fortalecer o governo federal.

"O único governo que funcionará é um com máxima autonomia em nível local", disse Houlahan.

As tensões políticas no Paquistão, crise econômica e as divisões dentro das comunidades de inteligência e segurança levantam dúvidas sobre o desejo do país de efetivamente combater os militantes que atuam nos dois países vizinhos.

A efetividade do "grupo de contato" proposto por Obama com países que têm algo a perder com a insegurança no Afeganistão e Paquistão --Rússia, China, Índia e Irã-- depende se estes países buscam interesses comuns ou são movidos a ganhos nacionais, afirma Cordesman.

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