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China moderniza educação para garantir liderança econômica

G1

A educação que os estudantes chineses recebem hoje poderá ter uma forte influência sobre a maneira como o país será liderado já em 2020, quando a atual geração de estudantes começar a alcançar postos de liderança no país.

Os estudantes da China de hoje têm uma formação muito mais aberta do que a que seus pais receberam. A maioria começa a estudar inglês desde cedo, e é cada vez maior o número de estudantes chineses participando de programas de intercâmbio no exterior. A tecnologia também ajuda nessa tendência. A China tem hoje o maior número de internautas do mundo e, apesar dos controles da censura, a rede permite aos estudantes estar em contato com o que acontece no resto do mundo.

"A sociedade chinesa se abriu desde as reformas econômicas iniciadas em 1978, e a educação também acompanhou esta abertura", disse à BBC Brasil Zhong Zhou, professora do Departamento de Educação da Universidade Tsinghua, de Pequim, uma das mais conceituadas do país.

"Os líderes políticos e empresários de hoje, nascidos em sua maioria entre os anos 1940 e 1960, tinham uma formação mais peculiar, tecnocrática", diz Zhong. Esse é o caso, por exemplo, do presidente do país, Hu Jintao, engenheiro formado pela Tsinghua.

Contraste

É imenso o contraste do momento atual com o período da Revolução cultural promovida por Mão Tsé-Tung entre 1966 e 1976, quando universidades foram fechadas ou transformadas em centros de formação técnica.

"Há 30 anos, as possibilidades de escolha de carreiras eram muito mais limitadas, mas hoje há muito mais possibilidades para que os estudantes escolham uma profissão de acordo com seus interesses", comenta Chen Hui Ying, de 23 anos, estudante de literatura na Universidade Tsinghua.

Liu Dandan, de 20 anos, estudante de direito na Tsinghua, vê uma educação mais aberta como uma necessidade para a China se tornar uma liderança econômica no mundo.

"Com a globalização, a China está percebendo que é importante se comunicar e interagir com o restante do mundo", diz ela. "Se uma pessoa não falar inglês, como poderá fazer transações com pessoas que não falam chinês", pergunta ele.

A brasileira Tarsila Lemos Borges, professora de português na Universidade de Pequim, diz que os estudantes chineses a impressionam pela dedicação e disciplina.

"No Brasil, sempre lembramos dos tempos de universidade como uma época de muita diversão, mas aqui na China eles veem essa época como um período de trabalho duro", diz.

A pressão familiar para que os estudantes sejam bem sucedidos é grande. Com a política oficial que somente permite às famílias urbanas terem um único filho, essa pressão aumenta ainda mais.

"As famílias ensinam aos filhos que a educação é importante e deixam claro os sacrifícios que estão fazendo, inclusive financeiros, para que eles tenham sucesso", diz Borges.

Para a maioria das famílias chinesas, a educação é a principal prioridade, desde o ensino básico. Muitas reservam mais da metade de seu orçamento para pagar a escola e a universidade dos filhos, além de cursos extra-curriculares.

Investimento público

Os gastos do governo com a educação também vêm crescendo de maneira acelerada, num ritmo superior ao crescimento do PIB na última década.

Apesar disso, a proporção do PIB investida em educação (3,4%) ainda está aquém dos 6% recomendados pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco). Estima-se que o governo vá investir entre 4,4% e 4,5% na área em 2020.

Um relatório apresentado em 2004 à Comissão de Direitos Humanos da ONU aponta outras falhas no sistema educacional chinês. A relatora especial da ONU sobre os direitos à educação, Katarina Tomasevski, critica no documento os custos da educação pública, que segundo ela em muitos casos levam à evasão escolar em famílias muito pobres. O relatório afirma ainda que o fato de o orçamento para a educação ter crescido menos que o de defesa indicaria uma falta de prioridade para a questão.

O relatório de Tomasevski foi duramente criticado pelo governo chinês, que a acusou de se desviar do tema da educação para se concentrar em "temas irrelevantes para a questão, como política externa e militar".

"A educação é essencial para o desenvolvimento de longo prazo. O governo chinês tem feito esforços incessantes para garantir o direito à educação de seus cidadãos e conseguiu resultados consideráveis", afirmou o representante da China no conselho, Liu Zhongxin.

Para muitos, uma das questões que a China terá que resolver no futuro próximo será a convivência de sua economia aberta com um sistema político ainda fechado, com a ausência de um sistema legal confiável, falta de independência dos poderes, censura e acusações de desrespeito aos direitos humanos.

A educação, que teve um papel importante no avanço econômico da China, poderá ser também o motor de uma possível abertura política no país na próxima década.
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