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G20 anuncia recursos contra a crise, mas avança pouco em regulação do mercado financeiro

ABr

Apesar da tenttiva de um novo Consenso de Washington, com o redesenho do sistema financeiro internacional, o principal anúncio da cúpula do G20 financeiro, realizada hoje (2) em Londres, foi a promessa de mais recursos para atenuar os efeitos da crise econômica global. Os líderes decidiram destinar US$ 1,1 trilhão para restaurar o crédito e os empregos e retomar a trajetória de crescimento da economia mundial. Estima-se que, até até o fim de 2010, o montante chegue a US$ 5 trilhões e a produção mundial aumente em 4%.

A cifra de US$ 1,1 trilhão, previamente negociada por ministros da economia e presidentes de bancos centrais, foi anunciada no encerramento do encontro de líderes das maiores economias desenvolvidas e em desenvolvimento do planeta.

A maior parte dos recursos, US$ 750 bilhões, será para reforçar o Fundo Monetário Internacional (FMI). Desse total, US$ 250 bilhões se destinarão ao financiamento do comércio nos próximos dois anos e outros US$ 250 bilhões serão para apoio ao SDR (Direito Especial de Saques, na sigla em inglês) e pelo menos US$ 100 bilhões irão para os bancos multilaterais de desenvolvimento (como o Banco Mundial), de acordo com o documento final da cúpula). Há ainda intenção de direcionar US$ 6 bilhões da venda de ouro das reservas do FMI aos países mais pobres nos próximos dois ou três anos.

Os países membros do FMI se comprometeram a turbinar imediatamente o fundo com US$ 250 bilhões. Até mesmo o Brasil deve contribuir, mas o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ainda não confirmou valores.. O aumento de aportes para o fundo estava condicionado à reforma da instituição, com maior participação decisória dos emergentes. Os líderes do G20 também se comprometeram com a “reforma e modernização” das instituições financeiras globais, como já haviam feito na Cúpula de Washington, em novembro, mas deram um passo nessa direção, propondo uma nova revisão do sistema de quotas do fundo até janeiro de 2011. Também prometeram avançar nas discussões sobre a representação no Banco Mundial de forma a se chegar a um acordo na reunião do primeiro semestre de 2010.

Os líderes do G20 financeiro também se comprometeram a promover os “esforços” fiscais necessários à retomada do crescimento e promover o “desenvolvimento verde”, já com foco na Conferência do Clima de Copenhague, marcada para dezembro deste ano, onde deve ser negociado um acordo para redução de gases de efeito estufa pós Protocolo de Quioto.

Como na Cúpula de Washington, os governantes condenaram o fechamento dos mercados como reação à crise financeira e se comprometeram a não adotar medidas protecionistas até o final de 2010.. Na reunião anterior, haviam se comprometido a não adotar medidas protecionistas até o final de 2009, mas não cumpriram. Relatório recém-divulgado pelo Banco Mundial mostrou que 17 dos 10 países do G20 financeiro – inclusive o Brasil – adotaram medidas restritivas ao comércio desde a reunião de novembro.

Mais uma vez, os líderes defenderam a conclusão da Rodada Doha como forma de estimular as trocas comerciais e, assim, superar a recessão mundial. O presidente norte-americano, Barack Obama, teria aceitado retomar as negociações na cúpula do G8, marcada para julho, na Itália.

Quanto ao tema central do encontro – a regulamentação e supervisão do sistema financeiro internacional - os líderes limitaram-se a reiterar a necessidade de regras. Todos concordaram em reforçar seus próprios sistemas regulatórios – como defendiam os Estados Unidos – e se propuseram a aprofundar a cooperação e estabelecer princípios internacionais comuns. Também declararam guerra aos paraísos fiscais.

Os americanos conseguiram convencer os europeus a ampliar seus programas de combate à recessão, mas não foi dessa vez que o mundo conseguiu convencer a maior economia do planeta a aceitar a criação de um órgão regulador supranacional. Para compensar, o G20 financeiro anunciou a substituição do FSF (Fórum de Estabilidade Financeira, na sigla em inglês) pelo FSB (Conselho de Estabilidade Financeira) – teoricamente com mandato reforçado, o novo órgão reunirá todos os países do G20 financeiro, integrantes do FSF, a Espanha e a Comissão Européia.
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