Imprimir

Notícias / Ciência & Saúde

Após 5 anos, Máfia da Ortopedia volta a funcionar no pronto-socorro

Da Redação - Alline Marques

Cinco anos após a Máfia da Ortopedia ter sido denunciada, o esquema continua ativo no setor do Pronto-Socorro de Cuiabá e voltou a ser alvo de investigação por parte do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco). Seis servidores do hospital, dentre eles, gesseiros e médicos ortopedistas foram denunciados pelo Ministério Público Estadual (MPE) por cobrarem propina de pacientes na fila de espera por cirurgias.

A Máfia da Ortopedia foi denunciada em 2006 e atuava deixando pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) sem a devida assistência para se aproveitar da situação de descaso e agenciá-los ao atendimento particular. O que se repete nos dias atuais. O gesseiro é quem faz o aliciamento do paciente, encaminhando para o médico. Uma cirurgia pode custar até R$ 3 mil.

O que mudou no esquema é que quando o paciente não tinha o dinheiro suficiente para realizar a cirurgia particular, acabava pagando uma quantia inferior, que variava entre R$ 300 e R$ 1.500, para ser passado na frente da fila de espera do SUS na central de regulação interna do pronto-socorro.

No dia 5 de maio, o Olhar Direto denunciou o descaso de um médico do setor que se recusou em realizar o atendimento de um paciente, que havia sofrido um acidente de moto e estava com a perna esmagada, pois estava assistindo ao jogo de futebol. Na época, a reportagem fez a denúncia também ao presidente do Conselho Regional de Medicina (CRM).

Na época, a Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia – regional de Mato Grosso, enviou nota e informou que os médicos ortopedistas do Hospital e Pronto-Socorro Municipal de Cuiabá (HPSMC) têm feito atendimento aos pacientes dentro das normas que balizam o bom exercício ético da profissão. Eles informaram ainda que os fatos fora dos preceitos são analisados pela Comissão de Ética do Pronto-Socorro.

No entanto, o promotor do Gaeco, Arnaldo Justino da Silva, informou que a diretoria do hospital tinha conhecimento do esquema, mas nada fazia. Inclusive algumas denúncias chegaram até o diretor-geral José Marra, denunciado pelo crime de prevaricação, mas sequer um procedimento administrativo foi aberto contra os envolvidos.

A conduta antiética dos profissionais denunciados – Murilo de Sant’ana Barros e Marcos Benedito Corrêa Gabriel – fere o artigo do Código de Ética dos médicos. O promotor encaminhou a denúncia para o Conselho Regional de Medicina (CRM). Além dos dois médicos, o MPE ofereceu denúncia contra os gesseiros Josué Pinto da Silva, 38, Wlamir Benedito Soares, vulgo Paulinho, o instrumentador cirúrgico Jairo CAlamir da Cruz e o técnico em ortopedia, Dioge Farias Sodré, também tinham participação no esquema.

O promotor contou também que os médicos eram os que mais lucravam com a propina. Só para se ter uma ideia, a cada R$ 500 cerca de R$ 400 ficavam com os médicos, enquanto os gesseiros lucravam apenas R$ 100.

A investigação iniciou em agosto de 2009 e foi concluída no final de 2010, durante esse tempo os agentes do Gaeco realizaram a interceptação telefônica e constataram a participação dos envolvidos e a negociação dos médicos com gesseiros.

Em um dos casos, o médico pede R$ 3 mil para realizar uma cirurgia, mas o gesseiro informa que o paciente tem apenas R$ 1.200, sendo assim, o ortopedista afirma: “esse vai ser pelo ‘esqueminha da guia’”. Ou seja, o médico forjaria uma urgência na guia de Autorização de Internação Hospitalar para que o paciente fosse colocado à frente na fila de espera e assim realizar a cirurgia pelo SUS.

A direção do pronto-socorro deve se pronunciar ainda nesta terça-feira (3) sobre o assunto. O prefeito de Cuiabá, Chico Galindo (PTB) e o secretário de Saúde, Antônio Pires, também devem se pronunciar.
Imprimir