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Mãe diz que filho vendeu depoimento que originou Operação Mapinguari

De Sinop - Alexandre Alves

“Eu vi, dentro de minha cozinha, meu filho aceitar a oferta para mentir em depoimento na Polícia Federal”, disse, ao Olhar Direto, Maria de Lurdes Evangelista, de 52 anos, mãe de João José Evangelista de Oliveira, atualmente com 24 anos.

João foi testemunha chave que desencadeou a “Operação Mapinguari”, em 2007, e que prendeu 23 pessoas acusadas de retirar toras do Parque Nacional do Xingú. Ele está sumido desde que saiu do Programa de Proteção a Testemunhas, em setembro de 2010.

Segundo a mulher, o gerente da Fazenda Rio Negro, que fica no município de Feliz Natal (530 km de Cuiabá), Avenir Fernando Marques Araújo, foi quem fez a proposta. “Ele ofereceu R$ 10 mil, um caminhão e serviço garantido na fazenda”, afirma Maria de Lurdes.

Conforme a mãe, o filho aceitou prestar o depoimento e foi com o gerente da fazenda até Cuiabá. De lá, João não voltou mais para casa. Avenir teria dito a ela que o filho foi enviado ao programa de proteção. Há alguns dias, Maria de Lurdes foi informada, no Ministério Público Federal (MPF), que o filho pediu para sair da proteção. Todavia, não retornou para casa e nem entrou em contato com parentes.

Ela acredita que João tenha entrado em contato com a Fundação Fernando Lee, uma Organização Não Governamental (ONG) sediada no litoral paulista e que administra a Fazenda Rio Negro no Nortão de Mato Grosso. “Eu penso que meu filho foi cobrar a promessa que fizeram a ele, já que prestou depoimento a pedido do Avenir”, suspeita a mulher.

Olhar Direto tentou contato com a Fundação Fernando Lee, mas as solicitações - via telefone e e-mail - não foram retornadas até o fechamento desta reportagem.

A Fundação há anos disputa terras no entorno do Parque do Xingú com grileiros, assentados e madeireiros do local. O gerente da Fazenda Rio Negro, aliás, foi uma das testemunhas na CPI da Sema, no ano de 2007, acusando empresários e posseiros de retirarem toras da região sem Plano de Manejo Florestal.

Já a Operação Mapinguari foi desencadeada em 2007 e prendeu madeireiros de Feliz Natal, Sorriso, Vera e Nova Ubiratã, além de índios, sob acusação de estarem conluiados para extração ilegal de madeira do Parque Nacional do Xingú.

A PF apontou, na época, que o esquema teria resultado em 2.3 mil cargas de madeira de diversas espécies, como Peroba, Itaúba, Cedrinho e Cambará. Foram fechadas nove madeireiras acusadas de comprar madeiras dos índios. As prisões foram revogadas posteriormente, no Tribunal Regional Federal (TRF), e os bens de alguns envolvidos desbloqueados.

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