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BMW Série 7 volta aos bons tempos

Autoesporte

Lembra daquelas histórias da Guerra Fria sobre oficiais da CIA analisando fotos oficiais de Stalin e seus generais na parada anual de 1º de Maio na Praça Vermelha? De vez em quando, eles descobriam que um dos generais havia sumido. Um olhar mais atento revelava que ele havia sido cuidadosamente apagado da imagem. Era como se ele nunca houvesse existido.

O 750Li é um pouco assim: ele cuidadosamente apaga tudo que fez o seu antecessor, o E65, um dos BMWs mais controversos já feitos. Traseira desproporcional? Esqueça. Tamanho exagerado? Nada disso. Painel que parece um pedaço de móvel, alavanca de câmbio na coluna de direção, controles de assento mal posicionados? Tudo se foi. Ao ver o novo Série 7, é como se o E65 nunca tivesse existido. 

ironia é que o E65 foi o Série 7 mais bem-sucedido na história da BMW, com vendas de mais de 344 mil unidades no mundo. O novo Série 7 dispensa o design extremista e adota parte do DNA clássico da marca, como “ombros” mais fortes nas laterais, linha de cintura mais baixa e console central voltado ao motorista. Há até um eco do famoso Hofmeister kink – aquela curva clássica na parte inferior da janela traseira de antigos BMW — estampado na terceira coluna para enfatizar isso. Claramente, a BMW quer aproveitar o ritmo de vendas do E65, ao mesmo tempo em que recupera os clientes que foram espantados pela aparência anterior dele.

Montado em uma arquitetura totalmente nova, o Série 7 é mais longo (o 750i tem um entre-eixos de 307 cm, enquanto o 750Li conta com 321 cm entre os eixos) e mais baixo que o E65. Parte dos 7 cm extras garantiu maior espaço no interior, mas as rodas dianteiras também foram movidas para frente em relação à cabine, para dar uma sensação mais atlética ao carro. Na dianteira está uma nova suspensão independente double wishbone de alumínio, a primeira em um sedã BMW. A suspensão traseira conta com sistema pneumático e a capacidade.

Não importa o que você pensava do visual do E65, havia pouca coisa errada na maneira como ele andava. Mas o novo Série 7 é mais rápido, mais preciso e mais ágil – como um Série 3, porém maior e mais confortável. Tudo começa com o motor Twin-Turbo 4.4 V8 de 407 cv, também usado no X6. Livre do peso de um utilitário esportivo (o 750Li pesa incríveis 294 kg a menos que o X6), este sedã é realmente rápido. A BMW declara 0 a 100 km/h em 5,2 segundos na versão 750i e 5,3 segundos no modelo alongado, o 750Li. Mas ainda mais impressionante é a maneira como o V8 aumenta a velocidade em marchas médias, explorando o torque de 62,2 kgfm entre 1.750 rpm e 4.500 rpm. Ele torna o novo Série 7 um dos sedãs de luxo mais rápidos que já pilotamos. O que parece um cruzeiro relaxante em uma Autobahn, na verdade se revela uma viagem a 225 km/h; uma simples aceleração por uma estrada sinuosa faz com que as curvas apareçam com rapidez surpreendente.

Como se espera de um BMW, o novo 750i pode ser configurado para se adequar ao seu estilo de direção por meio de um menu para motor, transmissão e calibragem de amortecimento acessível pelo sistema iDrive. Descobrimos que a opção Normal (outras são Comfort, Sport e Sport +) é a melhor, bastando selecionar o modo Sport do câmbio (com alavanca no console central) e trocar as marchas manualmente para melhorar as respostas. O amortecimento adaptativo e o sistema de tração integral (opcional) garantem ao Série 7 uma agilidade similar a de um sedã esportivo, sem comprometer o conforto de um carro de luxo. Com as barras antirrolagem ativas (opcionais do pacote Sport), o 750Li de tração integral atravessa qualquer rodovia como um hovercraft, e ainda assim faz curvas como uma Maserati.

 Se existe uma fraqueza na mecânica do novo Série 7, é a transmissão automática de seis velocidades. Ela, que já foi uma obra de arte, agora é superada pelas unidades de sete e de oito velocidades oferecidas pela Mercedes-Benz e Lexus, em termos de refinamento e qualidade de trocas. É evidente, também, que o Twin-Turbo V8 pode facilmente lidar com as marchas mais altas oferecidas por uma relação ou duas extras, melhorando a economia de combustível além do magro 1,8% de vantagem em relação ao 4.8 aspirado do 750Li da geração anterior (então não é surpresa que um novo câmbio automático ZF de oito velocidades esteja a caminho).

O novo Série 7 transborda tecnologia, mas é mais amigável em seu uso do que antes. Uma mudança-chave foi a reformulação completa do iDrive, agora cercado por botões de atalhos arranjados de forma a não ser preciso olhar para eles para descobrir onde está o que você quer. O menu do iDrive ficou mais simples e lógico, e os gráficos de alta resolução são quase cinematográficos em qualidade. Os grafismos do painel de instrumentos são mais simples e claros, e a tela opcional de quatro cores é uma dos melhores que já usamos. 

O interior, como o exterior, é subestimado: apesar de suntuosamente acabado, não tem nada daquele “extra” de um Mercedes Classe S, por exemplo. O E65 Série 7 mudou a forma como o mundo via a BMW e direcionou a estratégia de design para longe do sistema corta-e-cola em que cada família da marca parecia uma versão em escala de outra — estratégia que também permitiu à BMW entrar em novos segmentos, como o de utilitários esportivos. Neste contexto, o novo Série 7 pode ser um carro que indica um retorno ao básico. Seu estilo é seguro – mesmo que vagamente luxuoso em alguns ângulos – e o interior é basicamente previsível. A surpresa fica por conta de como ele anda. O que, aliás, deveria ser o objetivo de todo BMW.



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