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Notícias / Cultura

Mostra explora relações entre Fernand Léger e o Brasil

Folha de S.Paulo

Apesar de nunca ter vindo ao Brasil, o artista francês Fernand Léger (1881-1955) é um dos poucos modernistas de renome internacional que manteve estreitos vínculos com o país, como se poderá observar, a partir de hoje, nas duas situações apresentadas pela mostra "Fernand Léger - Relações e Amizades Brasileiras", na Pinacoteca do Estado.

Situação um: as relações pessoais. Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade viajam a Paris, em 1923, e vão bater na casa do poeta Blaise Cendrars. Amigos, o poeta os introduz à intelectualidade francesa, incluindo Fernand Léger. Tarsila, então, não só passa a frequentar o ateliê do artista como adquire obras suas, além de estimular que outros brasileiros, como sua amiga Olivia Guedes Penteado, assim o façam.

"A Xícara de Chá", obra de Léger de 1921, por exemplo, é uma das obras que foi adquirida por Tarsila e está na mostra na Pinacoteca. "Foi uma das pinturas que a artista manteve durante muito tempo em sua casa, até vendê-la a colecionadores suíços", diz Brigitte Hedel-Samson, curadora da mostra e até o mês passado diretora do Museu Fernand Léger, em Biot, na França. Essa pintura, segundo a curadora, teria influenciado obras de Tarsila, como "Estudo (Academia nº 2)", de 1923, também na mostra.

Outra peça importante é "Charlotte Cubista", uma colagem em madeira com quatro exemplares, inspirada em Charles Chaplin e que fez parte do filme "Ballet Mécanique" (balé mecânico), de 1924. Léger presenteou Tarsila com um exemplar em agradecimento à ajuda financeira que a artista teria dado para o filme. O exemplar que está na mostra, contudo, não é o que pertenceu à artista, mas o filme, uma das mais importantes peças experimentais da época, estará lá.

Essas relações mostram, por um lado, a influência de Léger sobre a formação de Tarsila, mas não o inverso. "Léger via Tarsila como uma colecionadora, ele chegou a escrever que por meio dela encontrou um novo filão de colecionadores brasileiros", conta a curadora.

Situação dois: as relações institucionais. Em meados do século 20, a cena artística brasileira já está muito mais amadurecida, com a existência de instituições como o Museu de Arte Moderna de São Paulo e a própria Bienal de São Paulo.

Léger participou da mostra inaugural do MAM, em 1949, com "Composição Dom Aloés", de 1935, da primeira edição da Bienal de São Paulo, em 1951, com "O Vaso Azul", de 1948, e na 3ª Bienal, de 1955, que apresentou uma retrospectiva de sua produção, ganhou o Grande Prêmio da Pintura. Obras exibidas em todas essas mostras estão agora na Pinacoteca.

Até com Assis Chateaubriand, do Masp, Léger se envolveu. Junto com o arquiteto francês André Bruyère, ele projetou uma residência para artistas na França, que nunca foi realizada. A maquete e desenhos também podem ser vistos na Pinacoteca. Todas essas relações estão na primeira sala da mostra. Nas demais, a curadora selecionou uma série de obras --no total, são 30-- que dão um panorama da carreira de Léger.
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