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Falsa psicóloga e marido se reservam a falar só em juízo, diz delegado

G1

Chamados a depor novamente nesta terça-feira (24) na Delegacia do Consumidor (Decon), na Gávea, na Zona Sul do Rio, a falsa psicóloga e seu marido se reservaram a falar sobre o caso somente em juízo. Os dois, que passaram a noite na carceragem da 15ª DP (Gávea), vão seguir ainda nesta terça para unidades da Polinter.

Observados pelo delegado Maurício Luciano de Almeida e Silva, eles leram e assinaram documentos referentes aos inquéritos que estão na delegacia, sem trocar nenhuma palavra.

"Foram três inquéritos que ainda tramitam na Decon, um deles para apurar os crimes que eles praticaram contra órgãos públicos, mas nos três inquéritos eles se reservaram a falar em juízo", afirmou o delegado.

Maurício Luciano disse que a relação do marido com a clínica já está provada. "Os documentos apreendidos comprovam que ele gerenciava a parte financeira da clínica. (...) Tem documento que ele assina como gerente financeiro. Esse documento inclusive foi utilizado no convênio com a Marinha", explicou. O delegado disse que, por conta dessa prova, o casal responderá também pelo crime de estelionato contra órgão público.

Segundo ele, há 29 inquéritos contra o casal na delegacia, cada um deles referente a uma família que utilizou os serviços da falsa psicóloga. Contra a suspeita ainda há um processo a parte, referente ao crime de tortura, somando 30 no total. "Temos a informação de que de 2009 para cá 70 crianças foram atendidas na clínica", revelou.

A falsa psicóloga se entregou no fim da noite de segunda-feira (23), na Decon. Ela chegou à delegacia acompanhada do advogado. Já o marido foi preso durante a tarde de segunda num dos apartamentos do casal, na Rua Dona Mariana, em Botafogo, também na Zona Sul. Segundo a polícia, no apartamento, os agentes cumpriram mandado de busca e apreensão, com o objetivo de colher provas da sua relação profissional com o consultório da mulher.

Apreensão de laudos e outros documentos
Ainda na segunda, os policiais apreenderam no apartamento do casal, na Zona Sul, laudos, prontuários, CDs, fotografias e HDs de computador.

"Eles tentaram no início dificultar a coleta de provas, destruindo, tirando o site do ar, mas a gente conseguiu coletar bastante prova", explica o delegado.

O delegado disse tambem que o marido era responsável pela parte administrativa da empresa, enquanto a mulher cuidava das terapias. "Durante uma operacao apreendemos um bilhete em que ele afirma que sabia de tudo", contou.

Prisão decretada
No mesmo dia, o casal teve a prisão preventiva decretada pelo juiz Alcides da Fonsaca, da 11ª Vara Criminal da Capital. O magistrado acolheu o pedido do Ministério Público do Rio, com fundamento na garantia da ordem pública.

A falsa psicóloga foi denunciada pelo MP pelos crimes de estelionato, propaganda enganosa e por falsificação de documentos. Já seu marido foi denunciado por estelionato e propaganda enganosa. Segundo relatos de testemunhas à polícia, a suspeita usava tratamentos agressivos para fazer com que as crianças autistas que travava se alimentassem.

Pedido de prisão havia sido negado
Na semana passada, a juíza Leila Santos Lopes, da 11ª Vara Criminal havia negado o pedido de prisão preventiva dos réus, alegando, entre outras razões, que "não há notícias nos autos de risco à integridade das vítimas ou seus responsáveis legais, tampouco as testemunhas".

Na mesma decisão, ela havia autorizado a quebra do sigilo bancário e fiscal, nos últimos 5 anos, e bloqueio dos bens da suspeita, de seu marido e da clínica onde eram atendidas as crianças. Além de ter deferido um pedido de busca e apreensão de bens, documentos e laudos que estejam armazenados no computador onde funcionava a clínica.

No dia 8 de maio, a falsa psicóloga foi solta pela segunda vez graças a um habeas corpus concedido no plantão judiciário. Ela responde a dois processos, sendo um por estelionato e outro por tortura, e foi presa pela primeira vez no dia 27 de abril, em flagrante, depois que o pai de uma criança prestou queixa contra ele na polícia. Três dias depois, também graças a um habeas corpus, ela foi posta em liberdade.

Marido prestou depoimento
No dia 11, o marido da falsa psicóloga prestou depoimento como testemunha na Decon. Segundo o delegado Maurício Luciano, ele negou qualquer envolvimento com a clínica onde a falsa psicóloga fazia os atendimentos e disse que ia ao local apenas para levar e buscar a mulher.

O suspeito relatou ainda, segundo o delegado, que desconhecia qualquer prática de tortura feita pela mulher.

Entenda o caso
A falsa psicóloga foi presa em flagrante no dia 27 de abril. De acordo com as investigações, ela não possui graduação em curso superior, nem especialização em psicologia.

Segundo a polícia, ela atuava há 12 anos e atualmente ‘tratava’ cerca de 60 pacientes. Imagens feitas no centro de tratamento mostram a suspeita conversando com uma delegada, pensando se tratar da mãe de um futuro paciente.

De acordo com a polícia, ela cobrava, em média, R$ 90 por hora. Na delegacia, segundo a polícia, a falsa psicóloga disse informalmente só ter cursado dois períodos da faculdade de psicologia.
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