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GO: primeira turma de descendentes de escravos conclui o ensino médio

G1

Este sábado (28) será de festa em uma das mais tradicionais comunidades quilombolas do Brasil. A primeira turma de descendentes de escravos concluiu o ensino médio hoje O projeto desenvolvido em Goiás é uma parceria da fundação Roberto Marinho e da prefeitura de Cavalcante.

O caminho da lavradora Cleusa Francisco Maia em busca do conhecimento é solitário. Ela percorre quatro horas a cavalo para chegar até a escola. Este é um esforço para recuperar o tempo perdido da lavradora, que sonha em se formar.

“Às vezes eu ia falar, e parece que eu ia falar errado. Eu não conseguia falar direito e as pessoas ficavam sorrindo para mim. Eu falei: ‘Vou tentar e vou conseguir’”, diz a lavradora.

Cleusa, que é descendente de escravos, faz parte da comunidade Kalunga. O quilombo, que fica encravado nas serras de Cavalcante, no nordeste goiano, existe há mais de 300 anos e ficou séculos no isolamento. As casas do povoado só ganharam energia elétrica há sete anos.

Este isolamento afastou os Kalungas também da educação. A escola do ensino fundamental só chegou na década de 1980. Mas apenas agora, graças ao Telecurso, adultos e jovens da comunidade quilombola podem cursar o Ensino Médio sem sair do local.

A turma de Cleusa é a primeira de um quilombo brasileiro a se formar no Ensino Médio. Durante dois anos, todos os finais de semana foram dedicados aos estudos.

“Quando eu vi o que eu estava perdendo eu agarrei com força e vontade”, conta a dona de casa Diranice dos Santos.

Teleaulas e atividades em sala acompanhadas por um professor, fazem parte do projeto da Fundação Roberto Marinho desenvolvido por alguns dos principais educadores do país.

“É garantir que ele faça o Ensino Médio onde ele mora junto com a sua cultura, a sua família e não tenha que deixar a sua cidade em busca do ensino médio”, explica Vilma Guimarães, da Fundação Roberto Marinho.

A entrega dos diplomas foi motivo de orgulho para toda a comunidade e festejada com música e dança típicas dos Kalungas. Os formandos fizeram questão da tradicional foto de formatura.

Na família Rosa, o porta-retrato vai ter local de destaque. Analfabeto, seu Cirilo não esconde a alegria de formar três filhos de uma vez. “É uma riqueza que ninguém toma”, afirma.

Se depender de Damião, a estudante Natália Rosa e Evânia, serão a primeira geração a conquistar um diploma universitário. “Quero tentar medicina. Para ajudar a minha comunidade”, conta a estudante.
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