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‘Aprendi com as derrotas. Elas me fizeram melhor’, diz Isinbayeva

Lancenet

A russa Yelena Isinbayeva corre contra o tempo. Após longos meses de reclusão, voltou a competir no início do ano. Os fracassos seguidos nos Mundiais de Berlim-2009 e Doha-2010, nos quais nem sequer foi ao pódio, foram esquecidos, ela garante.

É bom mesmo que tenha esquecido, porque a musa afirma que ainda está atrás de recordes e façanhas no salto com vara, mas agora há contagem regressiva. Ela não pretende voltar atrás na ideia de se aposentar em 2013, logo após o Campeonato Mundial de Moscou, quando terá apenas 31 anos.

– Acho que será o momento perfeito para fechar minha trajetória. Eu adoraria me apresentar perante meus compatriotas – disse

Hoje, ela se considera melhor do que antes da pausa, anunciada em abril de 2011. Avisa que brigará por primados mundiais e para ultrapassar Sergey Bubka no número de recordes (ela tem 27 e Bubka, 35). Evita, porém, revelar o quanto espera saltar nessa nova fase, para que não se crie expectativa.

Isinbayeva elegeu como palco de sua volta aos bons tempos o Mundial Outdoor de Daegu, na Coreia do Sul, que terá início no fim de agosto. Bi mundial em pista aberta, ela quer retomar o trono, perdido em Berlim-2009 – na ocasião, a polonesa Anna Rogowska foi ouro.

A russa também fala sobre Fabiana Murer, de quem é muito amiga, e aposta que a brasileira vai saltar cada vez mais alto. Confira:

Depois de tantos anos de domínio, você encarou dois grandes fracassos nos Mundiais de Berlim-2009 e Doha-2010, nos quais nem foi ao pódio. Neste período fora do esporte, o que você procurou fazer de diferente?

Yelena Isinbayeva: No começo, eu tirei um tempo para mim. Visitei meus familiares e alguns amigos próximos. Também aproveitei para me divertir e fazer coisas que uma mulher normal como eu sempre faz: ir a danceterias, jantar com amigos e passar tempo com a família. Também passei muito tempo ouvindo música, li inúmeros livros e resolvi coisas pessoais, como arrumar meu apartamento em Mônaco. São coisas que eu, normalmente, não posso fazer por causa da minha rotina de treinos e de viagens para competições. Não diria que foi um período de dor ou alívio. Foi, sim, para eu relaxar, me recuperar e ter tempo próprio. Mas eu me mantive em treinamento, com a programação que Vitaly Petrov (seu ex-técnico) e condicionada.

Antes dos fracassos seguidos em Mundiais, muitos consideravam você invencível. Foi difícil digerir as derrotas? Você precisou de auxílio psiquiátrico, algo do tipo?

YI: Não, não foi difícil. Todos os atletas enfrentam desafios. Não é possível vencer o tempo todo. Esporte é dar o seu melhor e se desafiar. Eu aprendi com minhas derrotas e eu acredito que elas me tornaram uma atleta melhor agora.

Se checarmos suas conquistas, não há nada que falte em sua galeria. O que ainda motiva você?

YI: Bem, eu sempre tenho desafios e novas motivações. Eu sempre me cobro muito. Então, aí já há uma motivação própria. Além disso, sempre disse que eu quero, ao menos, igualar o quantidade de recordes mundiais de Sergey Bubka (35; Yelena tem 27). Bubka estabeleceu um padrão para todos os saltadores com vara, e é um exemplo de grande esportista. Eu espero poder me igualar a Bubka. Meu objetivos neste ano é ganhar o Mundial de Daegu (CDS), em agosto. E, claro, fazer o mesmo nos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012.

Certa vez, você disse que esperava saltar 5,20m ou além. Ainda acha que isso possível?

YI: Eu tenho uma altura como meta em minha cabeça, mas prefiro não comentá-la. Alguns objetivos é melhor guardar para si mesmo.

Durante a reclusão, você percebeu melhora de suas rivais? Digo, ninguém nunca saltou acima de 5m, além de você.

YI: Eu acho que certas atletas não foram tão bem quanto costumavam em anos anteriores. Eu decidi tirar um descanso, no ano passado, para poder me focar até 2013. Espero ver performances mais fortes de mais adversárias. Fabiana teve um ótimo ano em 2010 e tenho certeza de que ela vai continuar a melhorar. Costumo me focar no meu desempenho, e não no de minhas rivais.

Você vai mudar a preparação para os grandes torneios? Ou mesmo mudar o tamanho da vara que utiliza, tempo de treino?

YI: Não, não mudarei nada. Meu método de treino, de preparação para os grandes eventos e tudo o que envolve meu lado competitivo não vai mudar. Acho que até hoje tudo deu certo, então para quê me questionar ou fazer grandes mudanças?

Há alguns anos você diz que vai se aposentar em 2013. Mas, por exemplo, nos Jogos do Rio-2016 você terá 34 anos. Não pensa em voltar atrás? E o
que acha de o Brasil receber a Olimpíada?

YI: Como sempre disse, 2013 será meu último ano como uma atleta profissional. O Mundial de 2013 será realizado em Moscou, e eu acho que será o momento perfeito para fechar minha trajetória. Eu adoraria me apresentar perante meus compatriotas. Sobre a Olimpíada do Rio, eu acho que foi uma ótima escolha! Tenho certeza de que serão Jogos incríveis, imagino que com muita alegria e atrações culturais. Espero estar no Rio como espectadora e me divertir.

Você sempre se deu muito com a brasileira Fabiana Murer. No Mundial Indoor de Doha, no ano passado, ela conquistou o primeiro título mundial
dela e você foi eliminada precocemente. Hoje, você considera Fabiana mais rival do que amiga? Como é o relacionamento?

YI: Fiquei muito feliz com o ótimo ano que Fabiana teve. E não apenas com o título mundial dela, mas também com seus recordes pessoais e bons desempenhos. Sempre me dei muito bem com Fabiana e Elson (Miranda, técnico). Sempre fomos rivais, mas amigas. Isso é normal. É algo que não vai mudar entre nós.

Você acha que Fabiana é capaz de saltar acima dos 5m? Se sim, acha que pode ocorrer este ano?

YI: Eu acredito que Fabiana tem talento e capacidade para saltar muito alto. Mas eu não posso comentar sobre o limite dela, assim como ninguém pode dizer qual é o meu limite. Muitas coisas têm de se ajustar para que seja possível subir o nível de seu salto, passo a passo.

Quem tem capacidade para ser sua sucessora como principal estrela do salto com vara?

YI: Bem, estou certa que há novos talentos surgindo. Mas eu não me arriscaria nem me sentiria bem em apontar alguém específico. Colocaria muita pressão em cima desta pessoa. Mas me surpreendi com o que vi nos Jogos Olímpicos da Juventude, em agosto passado, em Cingapura. Havia meninas com técnica muito boa, que advinham de um tipo de treinamento que eu não tive quando era jovem. Por isso, acho que veremos uma nova geração muito forte em breve.

Embora você tenha marcado data para se despedir, com certeza isso não passa por sua cabeça neste momento. Mas o que você planeja fazer quando se aposentar? Quer se manter ligada ao atletismo ou se dedicar a outras atividades?

YI: Eu espero ainda ficar envolvida com o esporte. Em que nível? Não sei dizer agora. Mas quero me manter presente no atletismo e em outros esportes depois de encerrar minha carreira profissional. O esporte me deu tantas oportunidades, e eu quero dar algum retorno, espero, para a próxima geração de praticantes. Eu gostaria muito de ajudar no respaldo ao esporte na Rússia, mas também quero ser atuante internacionalmente.
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