Imprimir

Notícias / Brasil

População se junta aos bombeiros na luta pela anistia e melhores salários

R7

Um dia após a libertação dos 439 bombeiros presos, milhares de pessoas se espremem pelo calçadão de Copacabana, na zona sul do Rio, neste domingo (12), em mais um dia de manifestações por melhores salários e pela anistia aos militares envolvidos na invasão do quartel central da corporação.

Entre os bombeiros, estão também professores e policiais militares, além da população, que abraçou a cauda dos bombeiros. Entre tanta gente, uma presença ilustre. A cantora Alcione deixou sua casa no Recreio dos Bandeirantes, zona oeste, para dar apoio à classe.

- O Rio hoje é vermelho. Desde o Recreio, só vejo pessoas com camisas vermelhas. Eles merecem a anistia e um salário melhor. Eles merecem porque, justo no Rio, acontece tanta tragédia. É só a gente lembrar do Bumba, de Teresópolis e outras tantas tragédias. É por isso que eu fiz questão de vir aqui hoje, de vermelho, apoiar quem pode salvar a minha vida.

A Marrom falou também da união das pessoas pelos bombeiros.

É um fato inédito, nunca se viu uma mobilização popular tão grande. Ninguém vai conseguir reverter isso. Está parecendo final de campeonato, a praia está lotada.

Pelos cartazes na orla, é possível notar que diversas pessoas vieram de longe apoiar os bombeiros do Rio. Há faixas de Mato Groso do Sul, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e da região Nordeste.

Entenda o caso

Por volta das 20h da última sexta-feira (3), cerca de 2.000 bombeiros - muitos acompanhados de mulheres e crianças - ocuparam o Quartel Central da corporação, no centro do Rio de Janeiro. O protesto, que havia começado no início da tarde em frente à Alerj (Assembleia Legislativa), durou toda a madrugada.

A principal reivindicação da categoria é aumento salarial de R$ 950 para R$ 2.000 e vale-transporte. A causa já motivou dezenas de paralisações e manifestações desde o início de abril. Seis líderes dos movimentos chegaram a ser presos administrativamente em maio, mas foram liberados.

Acompanhe a cobertura completa da crise

Mural: dê a sua opinião sobre o caso

Veja o momento que o Bope invade o quartel

Diante do clima de tensão no Quartel Central, repetidos apelos feitos pelo comandante-geral da Polícia Militar, coronel Mário Sérgio Duarte, para que os manifestantes retornassem às suas casas foram ignorados e bombeiros chegaram a impedir que colegas trabalhassem diante dos chamados de emergência. A PM, então, com auxílio do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais), invadiu o complexo às 6h de sábado (4). Houve disparos de arma de fogo, acionamento de bombas de efeito moral e confrontos rapidamente controlados. Algumas mulheres e crianças ficaram levemente feridas e foram atendidas em postos no local.

Os bombeiros foram levados presos para o Batalhão de Choque, que fica nas proximidades. De lá, 439 foram transferidos de ônibus para a Corregedoria da PM, em São Gonçalo, região metropolitana do Estado, onde passaram a madrugada de domingo (5). Durante a manhã, eles foram novamente transferidos, desta vez para o quartel de Charitas, em Niterói, também na região metropolitana.

Visivelmente irritado com o "total descontrole", o governador Sérgio Cabral anunciou no sábado, após reunião de cerca de cinco horas com a cúpula do governo, a exoneração do então comandante-geral do Corpo de Bombeiros, coronel Pedro Machado. O cargo passou a ser ocupado pelo coronel Sérgio Simões, que era subsecretário de Defesa Civil da capital fluminense.

Cabral disse que não negocia com "vândalos" e "irresponsáveis", alegou que os protestos têm motivação política e se defendeu dizendo que o governo tem planos de recuperação salarial para todos os militares desde 2007.

Pressionado por dezenas de protestos e diante da grande repercussão do caso, na quinta-feira (9), o governador anunciou aumento de 5,58 % nos salários de bombeiros, policiais militares, policiais civis e agentes penitenciários. Para isso será antecipado de dezembro para julho os reajustes que já eram previstos. Ele ainda anunciou a criação da Secretaria de Estado de Defesa Civil e nomeou o comandante Simões como titular da pasta.

Na sexta-feira (10), um pedido de liberdade feito pelos deputados federais Alessandro Molon (PT-RJ), Protógenes Queiroz (PC do B-SP) e Doutor Aluizio (PV-RJ) foi aceito pelo desembargador Claudio Brandão de Oliveira, do Tribunal de Justiça do Rio. Os 439 bombeiros responderão em liberdade após serem autuados em quatro artigos do Código Penal Militar: motim, dano em viatura, dano às instalações e por impedir e dificultar a saída para socorro e salvamento. A pena para estes crimes varia de dois a dez anos de prisão.

Imprimir