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Notícias / Cultura

Lenda viva da história, um cuiabano apaixonado por Cuiabá

Da Assessoria- Secom Cuiabá

Um homem que sempre esteve à frente do seu tempo. Cuiabano, honesto, sério, crítico, simpático, o professor Aecim Tocantins é uma lenda vida da história. Prefeito, vice-prefeito, vereador, nunca deixou de lado o interesse pelo bem de Cuiabá, participando ativamente da construção da história política da conhecida “Cidade Verde”. Aecim, no alto dos seus 85 anos, lúcido, mantém a ideologia que carrega desde os tempos da União Democrática Nacional (UDN) e o amor pela sua companheira eterna, Dona Celita Lombardi Correia Tocantins. “Eu tenho duas paixões na minha vida, que é a minha esposa Celita e a minha profissão”, diz estampando um largo sorriso no rosto.

Formado em contabilidade, Tocantins foi o primeiro presidente do Conselho Regional de Contabilidade de Mato Grosso, secretário Geral do Estado, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso, conselheiro do Tribunal de Contas de Mato Grosso e é fonte de inúmeras pesquisas sobre a história do estado e de sua Capital. Um currículo honroso, mas que nunca tirou desse homem público a simpatia, a humildade.
Figura histórica da política cuiabana, Aecim se define como um eterno apaixonado por Cuiabá. “Hoje (8 de abril), a nossa capital completa os seus bem vividos 290 anos. Tenho orgulho de ser cuiabano, de ser dessa terra. Terra de um povo alegre, de uma riqueza cultural ímpar”. O professor, como gosta de ser chamado, vê a capital de Mato Grosso com um grande futuro, trilhando com muito trabalho um caminho correto.

“Quero dizer a minha Cuiabá que mantenha vivo o espírito da esperança. Não há melhor coisa na vida do que a expectativa, ela trás felicidade e pode ficar certo, Cuiabá está no caminho certo, enfrentando dificuldades, como outras cidades também, mas a minha mensagem é de esperança para um futuro grandioso da minha cidade. Parabéns Cuiabá”, disse muito emocionado.

Aecim Tocantins acompanhou várias gerações de cuiabanos, testemunha da transformação, da explosão demográfica da capital, ele conta que até hoje Cuiabá mantém valores culturais da sua tradição, como a hospitalidade. “Cuiabá continua assegurando os seus valores. O cuiabano tem uma facilidade de miscigenação. Recebe de braços abertos todos que aqui chegam e querem participar do problema da cidade, ou da comunidade. É uma das nossas características. O cuiabano procura ser útil”, ressalta.

Nesta entrevista, Aecim relembra sua trajetória, desde quando se elegeu vereador por Cuiabá, em 1951, passando pela presidência da Câmara dos Vereadores, até chegar ao comando da Prefeitura de Cuiabá. “Eu antecipei Jânio Quadros, administrava Cuiabá no sistema de bilhetinhos”. O professor lembra com muito orgulho o fato de ter comandado a construção do primeiro trecho da rede de esgoto de Cuiabá e comenta que a sua principal “inimiga” dos tempos de prefeito continua atrapalhando nos dias de hoje. “Eu sempre digo que a chuva é a pior inimiga do prefeito e hoje ela continua sendo”, pontuou.

Quem é o homem público, pai e marido, Aecim Tocantins?

Aecim -- Cuiabano, com 85 anos de idade, mas sempre voltado aos interesses da minha cidade, principalmente. Em 1951, eu iniciava minha vida pública pela vereança. Disputei, fui bem votado e eleito vereador da capital. Foi a segunda turma da primeira legislatura depois da implantação de regime constitucional. Acho que me valeu muito ter iniciado a vida como vereador, porque a vereança é a melhor escola para a vida pública. Ela coloca o vereador em contato direto com os problemas do povo. O vereador deve procurara saber dos problemas da cidade. Na minha época, éramos vereadores que driblávamos o problema com solução. Nós não vivíamos de cobrar o prefeito, pois os problemas existem, vão ter, tiveram e continuam tendo. Agora o importante é que na vereança temos que colaborar com o executivo. A crítica é muito boa, eleitoralmente, mas sobre o aspecto da cidade não. Eu, como vereador procurava estudar com o prefeito e com os secretários municipais. Quando eu procurava o prefeito já tinha inicialmente discutido o assunto com o responsável pela área. Naquele tempo eram uma ou duas, hoje temos várias secretarias. Assim eu agi como vereador. Na qualidade de vereador eu tive oportunidade de ser eleito presidente da Câmara de Vereadores de Cuiabá, do período de janeiro de 1951 a janeiro de 1955.

Como vereador eu procurei manter o melhor nível de relacionamento com os colegas visando sempre os interesses da cidade. Fui um dos vereadores mais votados. Eu respeito a ideologia de todos, mas eu tenho a minha que é democrata mesmo, eu sou da escola democrática sob a bandeira de Eduardo Gomes, o preço da liberdade é a eterna vigilância e mantive essa ideologia ao longo da minha vida, sem entretanto menosprezar os partidos de outras ideologias, porque todos estão imbuídos de um sentimento de querer servir.

Qual a diferença de ser um homem público, um político, no seu tempo e nos dias atuais?

Aecim -- É questão de formação. Naquele tempo, os partidos políticos eram uma escola de formação cívica, principalmente para os jovens. Havia fidelidade, havia respeito aos nossos dirigentes. Isso não ocorre hoje. Lamentavelmente nós verificamos que hoje a pessoa se elege por um partido e esquece das suas obrigações, dos seus compromissos, da sua lealdade para com esse partido. Por interesses diversos ele sai do partido, voa e vai para outros ares. A fidelidade partidária é fruto de uma escola, mas hoje os partidos são fracos em seu conteúdo.

Como foi chegar a Prefeitura de Cuiabá, com foi a eleição?

Aecim -- Depois de vereador fui eleito vice-prefeito da capital, como presidente, empossei o primeiro prefeito eleito de Cuiabá, Garcia Neto, o grande político, um homem de grande valor. Depois concorri na qualidade de vice-prefeito, tendo como o titular o doutor Hélio Palma de Arruda. Isso foi no ano de 1958 a 1963. O Hélio Palma foi um jovem de princípios políticos muito sadios e eu e ele fomos eleitos. Éramos dois jovens, eu tinha 35 anos e ele também, nós nos candidatamos pela UDN e éramos candidatos da oposição. Enfrentamos uma candidatura de um dos homens mais dignos que eu conheci aqui, que foi o interventor Júlio Mülher. Grande político. Eu digo sempre, como interventor federal foi o maior prefeito que Cuiabá teve. Esses prédios todos foram construídos por Júlio, entretanto ganhamos a eleição dele, são coisas da democracia. Logo que fomos eleitos o Hélio foi eleito presidente do Banco da Amazônia e teve que se licenciar e eu assumi a prefeitura. Quando assumimos tinham um grande parceiro, um grande governador, que era Fernando Corrêa da Costa, que nos deu todos os recursos para trazer aqui para Cuiabá, para estudar a rede de esgoto, um dos escritórios mais conceituados na época na engenharia sanitária. E foi então elaborado o projeto do primeiro trecho da rede de esgoto de Cuiabá. Coube a mim a glória de dar o pontapé inicial no primeiro trecho da rede de esgoto de Cuiabá.

Qual era a estrutura que a Prefeitura tinha para tocar esse projeto naquele tempo?

Aecim -- Conseguimos um recurso, mas senti que não tínhamos condições de gerenciar o dinheiro e muito menos a obra sobre o aspecto técnico. Então coloquei esse recurso em conta vinculada no Banco do Brasil e usada estritamente para a rede de esgoto. Nós não tínhamos um corpo de engenheiros e recorri ao Serviço Especial de Saúde Pública do Ministério e consegui convencer o então diretor aqui em Cuiabá, doutor Mário Saur, para que, em parceria com a prefeitura, ficasse encarregada da parte técnica da obra. Dessa forma os recursos foram bem aplicados e conseguimos concluir o primeiro trecho da rede de esgoto de Cuiabá. Passado alguns meses, com a renúncia de Jânio Quadros, Hélio deixou o Banco da Amazônia e continuou essa obra.

Como era ser prefeito há 50 anos atrás, as dificuldades eram outras?

Aecim -- A cidade explodiu, as necessidades se alastraram. Eu sempre tive uma preocupação com o manuseio do dinheiro público. O prefeito da minha época era aquele que atendia até o funeral do pobre. Eu pude administrar a prefeitura sobre o sistema de bilhetinhos, eu antecipei Jânio Quadros. Escrevia bilhetinhos dando ordens para as pessoas, pois eu notava que a estrutura da prefeitura era aquém das necessidades da cidade. As necessidades de então eram praticamente as mesmas das de agora, proporcionalmente é claro. Naquela época, um dos grandes inimigos do prefeito eram as chuvas e hoje continuam sendo. O usuário, ele não quer saber se tem buraco nas outras partes ele está preocupado com o buraco da rua dele e quando surge essa demanda, o prefeito, nas chuvas, não se pode nem trabalhar, não pode tapar buraco, não pode fazer nada. Naquela época as ruas não eram de asfalto, eram de paralelepípedos. Hoje, o prefeito tem muitos problemas, a cidade explodiu, mas observo que está sendo feito um bom trabalho, com seriedade e honestidade.
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