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Papa autoriza missa na Sexta-Feira Santa por vítimas de terremoto

Folha Online

O papa Bento 16, que anunciou ontem que irá o mais rápido que for possível à zona atingida pelo terremoto que matou mais de 260 pessoas na Itália, concedeu uma licença especial para que sejam celebradas missas em memória das vítimas na Sexta-Feira Santa, o único dia do ano em que não são realizadas missas pela tradição da Igreja Católica. O governo decretou que a sexta-feira será dia de luto nacional. 

O porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, disse que a visita do papa deve ocorrer logo após o Domingo de Páscoa, para que não interfira nas operações de resgate, que devem se encerrar nesse dia.

A missa extraordinária de sexta-feira deve ser celebrada pelo bispo de Áquila, Giuseppe Molinari, que se salvou do desabamento na sede do arcebispado durante o terremoto. Nesta quarta-feira, foi realizado ao menos um funeral em uma pequena vila da região, enquanto os sinos tocaram em várias cidades.

Várias das igrejas históricas da cidade medieval de Áquila foram fortemente atingidas pelo terremoto. Nesta terça-feira, o tremor derrubou partes da Igreja das Almas Santas, cuja cúpula estava comprometida. O primeiro-ministro, Silvio Berlusconi, prometeu reconstruir os edifícios históricos da cidade medieval de acordo com o projeto original.

Conforto na fé

Mesmo danificadas, muitas das igrejas continuam sendo procuradas por fiéis em busca de conforto espiritual em meio à tragédia. Na penumbra de uma igreja devastada, a italiana Marisa Giacomo rezou o rosário ao lado de uma pilha de sacos de plástico com as poucas posses que ela conseguiu resgatar dos escombros.

"Eu perdi tudo, mas ainda tenho Deus", disse ela calmamente, enquanto tratores retiravam escombros da Igreja medieval das Santas Almas, cuja cúpula desabou, no centro de Áquila.

Com muitas das igrejas reduzidas a escombros, muitos fiéis demonstraram determinação em celebrar a Semana Santa -- o período mais sagrado do calendário da Igreja Católica. Alguns sacerdotes percorreram as tendas dos acampamentos oferecendo a comunhão a algumas das milhares de pessoas deslocadas pelo catástrofe.

Havia planos para que fosse celebrada uma missa para os desabrigados em Áquila. E na cidade de Sulmona, famosa pela encenação da Paixão de Cristo na Semana Santa desde o século 14, os moradores planejam fazer uma procissão na Sexta-Feira Santa.

Desespero

Nem todos os afetados pelo terremoto buscaram consolo na fé. Em Áquila, houve explosões emocionais entre aqueles que perderam entes queridos ou casas. Entre lágrimas, muitos questionaram a existência de Deus.

"É importante estar perto de Jesus, neste momento," disse o padre Mauro Orru, que celebrou uma missa do lado de fora da Igreja de S. Lourenço, no vilarejo de Sant'Elia, porque as paredes ficaram rachadas. Apenas cinco pessoas compareceram à missa, mas isso poderia refletir o esvaziamento da cidade --a maioria dos refugiados estão em acampamentos ou em hotéis no Mar Adriático.

Houve muitas demonstrações de fé mesmo entre aqueles que quase não escaparam com vida. Alguns mostraram surpreendente resistência e força de espírito. Na aldeia de Onna, onde 40 dos 300 habitantes foram mortos no terremoto de na segunda-feira, os sobreviventes foram vistos retirando das ruínas os crucifixos que decoravam suas casas destruídas. Diante da chance de salvar apenas algumas das posses, muitos escolheram os itens religiosos em casa.

Em toda a Europa, o comparecimento à igreja diminuiu nas últimas décadas, devido a fatores ligados à urbanização e a escândalos de pedofilia envolvendo sacerdotes. A Itália não é exceção a essa tendência, mas as pessoas nas zonas rurais, como Abruzzo, tendem a ser menos afetadas pela cultura secular que prevalece nas grandes cidades, como Roma e Milão, e mantêm laços muito mais estreitos com a igreja.

Cerca de 90% dos italianos são católicos, um terço deles praticante.

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