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A história do zagueiro e poeta que trocou a Angola por sonho no Brasil

Globo Esporte

Parece uma história saída de algum livro de ficção, mas é a vida real. Claudio José Domingos Fernandes jogava futebol nas ruas de Angola desde a adolescência e sonhava com uma carreira no esporte. Aos 19 anos, viu aparecer em sua frente uma chance impedível: jogar bola profissionalmente no Brasil. O menino não pensou duas vezes, aceitou a proposta do empresário, deixou sua família e atravessou o oceando Atlântico para brilhar nos gramados brasileiros. (Assista no vídeo acima!)

No entanto, quando chegou ao destino descobriu que havia sido enganado pelo empresário. Não tinha contrato com nenhum time, moradia e, para piorar, estava ilegalmente no Brasil. Claudio José rodou o país em busca de uma chance. Governador Valadares, Rio de Janeiro, Madureira, Olaria, Paraíba do Sul, Mato Grosso do Sul, Goytacaz... E quando conseguia se estabelecer em uma equipe, não podia jogar e ser inscrito em competições porque estava ilegal.

Contra a solidão e a saudade de casa, nada de festas, bebida ou drogas. Entre os poucos bens que possui, dois são os mais valiosos: um caderno e uma caneta. Nas linhas em branco, o zagueiro sai de campo e dá lugar ao poeta, que coloca em palavras todos os sentimentos guardados. Pelé, Zico, Maradona, Zidane? As referências de Claudio são outras, estão nos livros. O angolano admira os escritores brasileiros Jorge Amado, Carlos Drummond de Andrade e Eça de Queiroz.

No fim do ano passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decretou a Lei de Anistia a estrangeiros ilegais no Brasil. Esse fato ajudou a mudar a vida de Claudio José, que ganhou a Cédula de Identidade do Estrangeiro. Agora sim poderia jogar profissionalmente. E o menino ganhou uma nova chance, no São Cristóvão, time que revelou Ronaldo Fenômeno e que está na segunda divisão do Cameponato Carioca.

Morando no alojamento do clube, Claudio só guardava poucas roupas, um livro e o caderno de poesias. Quando tudo parecia se acertar, mais uma briga com o empresário e ele não defendia mais o São Cristóvão. O "Esporte Espetacular" esperou dois meses para reencontrar o zagueiro-poeta, que já estava com 22 anos.

Após três anos no Brasil, Claudio José está empregado novamente. É verdade que desceu uma divisão no Carioca, agora defende o União de Marechal Hermes na Terceirona e ganha um salário mínimo: R$ 545. Os campos, jogos, adversários e condições não são nem de perto os que ele sonhou quando ainda morava na Angola.

A partida contra o América de Três Rios quase não aconteceu. A segunda enfermeira, exigência da Federação de Futebol do Rio de Janeiro, não apareceu e tiveram que correr atrás de outra para o jogo não ser suspenso. Com a bola rolando, Claudio mostrou habilidade. Mesmo assim, não conseguiu evitar a derrota por 3 a 1 em um fim de jogo quase sem luz, já que o estádio da Portuguesa da Ilha do Governador não tem iluminação.

Apesar das dificuldades, Claudio José Domingos mantém a esperança que um dia jogará por um time grande do Brasil. E não se esquece das suas origens, principalmente da mãe, que não vê desde 2008.
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